O Sr. Abranches de Soveral: - Sr. Presidente: antes do iniciar a minha colaboração neste debate, felicíssima iniciativa de um dos mais cintilantes espíritos desta Assembleia, o Sr. Deputado Amaral Neto, seja-me lícito destacar liminarmente uma ocorrência que, pelo seu ineditismo, é digna de menção especial.

Refiro-me à atitude interessada, compreensiva e colaborante do ilustre titular da pasta da Economia em face deste aviso prévio que alveja o mais abandonado, o mais menosprezado e (embora muitos finjam não o crer), socialmente, o primordial sector do seu Ministério.

Não tenho a honra de conhecer o Sr. Ministro; mas quem assim escuta as vozes autorizadas, bem intencionadas e construtivas que aqui se erguem a dissecar a endémica crise da lavoura nacional; quem assim mostra tão perfeita compreensão da alta projecção social e política que; esta Assembleia Nacional confere a todos os problemas sobre que se debruça; quem assim procede, dizíamos, torna-se digno depositário dos anseios e da esperança da lavoura portuguesa - a grande sacrificada - nesta sua última tentativa ordenada para ter também um lugar ao sol.

Quem assim, revela interesse, conhecimento, iniciativa e decisão, certamente terá também a energia e a coragem indispensáveis para quebrar o imobilismo palavroso e estéril com que se vêm mascarando os verdadeiros inales da vida agrícola nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

nós, sem ideias preconcebidas, desnudar as anomalias, auscultar os sintomas e apurar as reacções - a ver se pelo correcto diagnóstico dos males se adoptam alfim os remédios eficientes.

Quando há anos tratei nesta tribuna da crise agrícola nacional, chamei a atenção dos responsáveis para o gravíssimo aspecto social que ela indiscutivelmente reveste; e, por outro lado, apontei o intermediário inútil como o pior sintoma de uma economia agrícola depauperada e enfraquecida pela proliferação anómala dos oportunistas, candongueiros, regatões e mais parasitas que se incrustam entre a lavoura e o consumo, sugando-lhe os parcos réditos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não tenho de mudar de Opinião porque os factos não me desmentiram, antes corroboraram, o meu testemunho.

Hoje, como ontem, considero a extirpação do cancro dos intermediários, e a concomitante estabilização dos preços, elementos base da nossa sanidade rural.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas preguei no deserto; o trabalhador rural continua alegremente ignorado pela organização corporativa; e os parasitas campeiam opados e ovantes em terreno que, aliás não sem razão, supõem conquistado.

Porque não gosto de me repetir, procurarei agora aflorar outros aspectos que a meu ver constituem sintomas que não são despiciendos para uma nítida visão do conjunto.

Salvo o devido respeito pelas opiniões discordantes, não compreendo nem posso aceitar que a sorte e o destino da agricultura portuguesa estejam, em última e inapelável instância, confiados à Secretaria de Estado do Comércio, a qual, por definição, tem por função essencial defender os interesses do comércio e estudar os seus problemas específicos, que são visceralmente diferentes dos agrícolas.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Tais são, por exemplo, algumas das insólitas importações de ovos, de manteiga, de carnes, do arroz, e até (coisa inacreditável, mas verídica) de aguardente vínica!

Vozes: - Muito bem!