No esforço europeu de construção ou reparação das estradas de grande circulação ocupamos, de resto, mesmo proporcionalmente, uma posição modesta.

O seguinte quadro, relativo a 1958, é, a tal propósito, ilustrativo ao indicar as despesas feitas (cf. «Révolution des Transports» já citado) com a construção e reparação destas estradas:

A Itália do Norte tinha uma densidade rodoviária de 760 m/km2 e a Itália do Sul 360 m/km2.

A própria literatura, numa obra cuja tradução portuguesa é recente - Cristo Parou em Eboli, de Carlos Levi -, nos dá uma imagem impressionante das condições de vida no Sul da Itália; nos anos. de 1930. Pois já em 1950 se planeou a melhoria de 10 000 km de estradas secundárias e a construção de 7200 km de novas estradas, dos quais 5000 km nas regiões agrícolas atrasadas. Para a realização deste programa recorreu-se ao Banco Internacional.

Também o recurso a modalidades especiais de crédito teve lugar nos Estados Unidos, para a construção de pontes, túneis e auto-estradas. A conhecida New Jersey Turnpike, com uma extensão de 190 km, custou 255 milhões de dólares, obtidos através de uma emissão de títulos realizada por sindicatos bancários com o acordo do estado de Nova Jérsia.

O incremento do turismo em Portugal fará largo apelo à construção de novas estradas, renovação, melhoria e reparação dos traçados existentes, supressão de passagens de nível, sinalização perfeita e completa, embelezamento das estradas e seu enquadramento na paisagem, proliferação de eficazes estacões de serviço, restaurantes decentes e até telefones, construção de centrais de camionagem e parques de estacionamento o, sobretudo, generalização de medidas que aumentem a segurança na circulação e façam cair os altos índices de acidentes.

Independentemente do maior afluxo de estrangeiros, o próprio incremento da circulação interna far-se-á sentir agudamente.

Partindo de 1955 e realizando uma extrapolação razoável, fundada no crescimento dos últimos anos, chegou-se à conclusão de que só o número de viaturas de turismo atingirá, em Portugal, por alturas de 1970. as 221 000 unidades, ou seja 1 automóvel por 44,8 habitantes. Esta situação será, de resto, das mais modestas no conjunto europeu, conforme se pode apreender do seguinte quadro (cf. «Révolut ion des Transports», in Besoins et Moyens de l'Europe, cit.):

O tempo e as disponibilidades imporão uma ordem de prioridades na construção de novas estradas e grande reparação dos traçados existentes.

Haverá que harmonizar as grandes linhas de circulação interna com a rede intereuropeia de estradas.

De resto, mesmo entre alguns países da Europa, a colaboração tem-se traduzido em notáveis realizações. É o caso do túnel do monte Branco, inaugurado no ano findo.

A projectada ponte sobre o rio Guadiana, entre Vila Real de Santo António e Ayamonte, será um frutuoso marco da colaboração luso-espanhola.

Permitirá, além do mais. criar uma rota turística que ligará o Algarve a Ayamonte e ilha Cristina, o daí a, Huelva, Sevilha, Cádis e Málaga.

É natural que alguns novos empreendimentos justifiquem o recurso a modalidades especiais de crédito e imponham o pagamento de portagens. Mas estas soluções não serão novas, como o testemunha a ponte sobre o Tejo, cuja projecção turística não deveremos minimizar. Também na vizinha Espanha o famoso túnel de Guadarrama, cuja abertura ao tráfego se efectuou em fins de 1963, constitui «la; primera carretera de peaje que se construye en Espana, según se recuerda a los usuarios en una lápida colocada en un monolito a la entrada de este paso, que ha costado 500 millones de pesetas, cantidad aportada totalmente por particulares».

As grandes vias de acesso serão completadas pelo respectivo esquema regional. Ainda aqui poderia exemplificar com a região das Beiras.

O plano rodoviário nessa zona deveria, além do mais, considerar urgentemente:

1.º A construção ou grande reparação das vias de penetração na serra da Estrela e a grande reparação da estrada da Beira, desde Coimbra até à fronteira;

2.º A construção das projectadas estradas n.08 343 [entre a estrada nacional n.º 112 (alto da Cerdeira) e Paul] e 344 (entre as proximidades de Avô e Alvares). Estas duas estradas são de importância fundamental para a cordilheira cen-