O Orador: - Alguns daqueles circuitos poderiam mesmo sair da própria zona, oferecendo aos turistas motivos renovados de recreio e cultura.

Beja e Évora, mas muito em especial Évora, essa nobre, vetusta e sempre saudosa cidade onde passei parte da minha juventude e cujo recheio artístico só por si constitui um pólo de atracção turística de permanência, poderiam, com vantagem para todos, ser incluídas nas digressões mais extensas a proporcionar aos visitantes instalados no Algarve.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Lembro-me de que durante a Exposição de Bruxelas se organizavam passeios todos os dias à Holanda, com saída pela manhã cedo e regresso à noite. Julgo que para as cidades citadas poderiam estabelecer-se critérios semelhantes. Nada de bairrismos estultos quando constituímos um conjunto que a todos convém valorizar e aproveitar.

Na impossibilidade, porém, de tudo desenvolvermos ao mesmo tempo, isso seria o ideal, convém do ponto de vista utilitário aproveitar já, e nisso o Governo mostrou sábio conhecimento das circunstâncias e sentido objectivo das realidades, aquelas zonas que, pelos seus atractivos particulares e pela moda, se tornaram mais afamadas e, por isso, constituam prato mais apetecido!

Estão nestas condições a Madeira e o Algarve, e, vamos lá, temos sido em tantas coisas preteridos e até desconhecidos que seria injusto discutir-se esta merecida prioridade!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -- O problema reside, porém, fundamentalmente em deixarmos realizar o muito que urge fazer, facilitando, não emperrando a ponto de desalentar a iniciativa particular, que eu sei muito interessada nalguns empreendimentos que de perto conheço, e criarmos a mentalidade, aliás comprovadíssima, de que - em turismo quanto mais mais!

Quero dizer, a multiplicidade de pensões, hotéis, motéis, parques, etc., não criam problemas de concorrência do ponto de vista, de exploração, antes se integram como peças convergentes para a mesma finalidade.

É assim que o fenómeno tem evoluído nas consagradas estâncias de renome universal e não há-de processar-se de maneira, diferente em Portugal. E mesmo sob o aspecto dos desportos, do jogo e outras diversões, havemos de convir, será muito mais fácil estabelecer e manter programas onde houver maior aglomeração de turistas.

Especificadamente não compreendo que se não possa vir a consentir ou desde já prever zonas de jogo no Algarve e na Madeira, posto que não temos culpas nos hábitos ou gostos que a humanidade contraiu desde que é humanidade e não será apenas com a abstinência a que se condene o Algarve que ela virá a redimir-se!

Entretanto, se o não consentirmos, poderemos dificultar a progressão do turismo, de certo turismo melhor, naquelas regiões, quando é certo que outro critério se adoptou para o Estoril, Figueira da Foz e Póvoa!

Do ponto de vista das comunicações e dando ao aeroporto o lugar cimeiro que neste aspecto lhe cabe, não deixaremos de chamar a atenção para as vantagens que resultariam da modernização do material circulante nos caminhos de ferro do Sul e Sueste, bem como o estabelecimento de melhores horários e ainda de um melhor aproveitamento, com vista à eliminação das curvas do traçado da estrada nacional da serra do Caldeirão, quer com pequenos túneis, quer com obras de arte, oferecendo acesso fácil e central à província.

No que toca às telecomunicações há também uma palavra a dizer, pois que estas são ainda bastante deficientes, obrigando a longas esperas, o que é manifestamente incompatível com a necessidade de comunicação urgente entre o mundo da finança ainda que em férias.

Antes de terminar quero ainda fazer um apelo a todos quantos possam intervir na repressão da mendicidade, desde o escalão governamental à última das autoridades locais, para que se acabe de vez em todo o País com o espectáculo degradante e impróprio da nossa época, qual é o da exposição, com fins de pedincha, das misérias físicas do homem, denotando inexplicável incúria das autoridades.

Ainda há bem poucos dias assisti em plena Avenida da Liberdade a uma dessas cenas desagradáveis e que na minha terra já não seria consentida.

A mendicidade é incompatível com o turismo!

Sr. Presidente, Srs. Deputados: mais uma vez, com o indeclinável desejo de que o País se erga ao mais alto nível do progresso e se apresente aos nossos olhos e aos olhos de quantos nos visitem como terra de bem-estar, formulei sugestões e verberei conceitos, aliás sem pretensão de falar de cátedra, porém, em boa verdade, com a esperança de que o meu trabalho, porventura o mais modesto, não venha a resultar em tarefa inteiramente inútil.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão. O debate continuará amanhã sobre a mesma ordem do dia.

Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 45 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Alberto Carlos de Figueiredo Franco Falcão.

Alexandre Marques Lobato.

António Carneiros Lopes.

António Gonçalves de Faria.

António Magro Borges de Araújo.

Armando Francisco Coelho Sampaio.

Artur Águedo de Oliveira.

Augusto César Cerqueira Gomes.

Augusto Duarte Henriques Simões.

Belchior Cardoso da Costa.

Carlos Monteiro do Amaral Neto.

Henrique dos Santos Tenreiro.

Jorge Manuel Vítor Moita.

José Dias de Araújo Correia.

José Guilherme de Melo e Castro.

José Manuel da Costa.

José de Mira Nunes Mexia.

Júlio Alberto da Costa Evangelista.

Manuel Herculano Chorão de Carvalho.

Manuel de Melo Adrião.

Manuel Nunes Fernandes.

D. Maria Margarida Craveiro Lopes dos Reis.

Ulisses Cruz de Aguiar Cortês.