O Sr. Agostinho Cardoso: -Sr. Presidente: ao iniciar a minha intervenção congratulo-me pela presença em Portugal do Sr. Ministro da Informação e do Turismo de Espanha, até pelo facto de a sua presença no nosso país coincidir com o aviso prévio sobre turismo que está em debate nesta Assembleia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A amizade peninsular, cimentada na personalidade dos dois países irmãos, está hoje, no Mundo em delírio, ao serviço de um alto ideal humano e histórico.

No turismo continuaremos a ser, todos o esperamos, colaboradores desse mesmo ideal, dos interesses peninsulares e dos nossos interesses nacionais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: a exposição do Dr. Nunes Barata neste, aviso prévio e os depoimentos dos ilustres Deputados que se lhe seguiram pouco me permitem, quanto a generalidades, acrescentar alguma coisa de original. Limitar-me-ei, no plano nacional, a historiar, salientar e comentar alguns aspectos que se me afiguram importantes, no desejo de não repetir argumentos e juízos; numa segunda parte, procurarei contribuir com um estudo objectivo para o problema do turismo na Madeira.

Porque ela é a zona turística mais antiga do País, já no século passado de renome mundial, porque indicada pelos técnicos nacionais e estrangeiros como uma das grandes zonas de turismo português a ràpidamente desenvolver e porque todos os seus problemas, mercê de condições insulares e características económicas próprias, se revestem de saliente especificidade - o seu caso obriga a estudo complexo e polivalente, de planeamento regional em que se enquadre o seu planeamento turístico. Por eles venho pugnando quando posso.

Sr. Presidente: é este o segundo aviso que sobre turismo se realiza nesta Assembleia. Com efeito, em 1950 o Sr. Deputado Paulo Cancella de Abreu, que temos a honra de ter entre nós, levou a efeito, com notável brilho, um aviso prévio sobre este assunto.

Ao falar de turismo nesta tribuna, um forte imperativo de justiça me leva a evocar a figura do António Ferro, o homem que nos alvores da actual situação política sonhou fazer de Portugal um grande país turístico, clamou quanto pôde a grandeza da nossa vocação e das nossas possibilidades nesse domínio, semeou esperanças e directrizes, que, em parte já realizadas, se mantêm um quarto de século depois bem vivas e actuais.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Muito bem!

testemunho a ser considerado, mas integralmente, pelas novas gerações.

Ele reclamou, protestou, escandalizou até, mas «cá dentro».

Tudo fez por criar consciência das coisas novas que iam surgindo ou que ele adivinhava iam surgir, por alertar inteligências e vontades, como quem toca a rebate, renovando sem negar, construindo e não recusando, apoiando os chefes e não opondo-se-lhes. Quem reler o seu livro Turismo - Fonte de Riqueza e Poesia, editado em 1949, vai encontrar nele um colorido cartaz e uma resenha dos principais problemas turísticos do nosso país.

As linhas gerais da legislação a criar, o papel dos transportes e da hotelaria, das «pousadas» e «casalinhos» especificamente, portugueses, a propaganda e a insuficiente tiragem dos nossos «desdobráveis» e cartazes, as agências de viagens, o combate ao amadorismo, a indispensável unidade no comando e actuação, a valorização do folclore, da cozinha e das riquezas turísticas de Portugal, a luta pela higiene de terras e populações, contra a imundície e o pé descalço - tudo perpassa nesse livrinho, onde se espelha a personalidade deste verdadeiro bandeirante do turismo em Portugal.

Foi nessa época que surgiram as «brigadas hoteleiras», «de bom gosto», que iam pela província alindar pensões e boteis, e que foi criada uma comissão de recuperação social para lutar contra a mendicidade.

Eis algumas frases suas:

... o turista puro - não o esqueçamos- é o único estrangeiro que não vem a Portugal buscar dinheiro, mas deixar dinheiro.

É um ingénuo aventureiro, um ingénuo descobridor do que já foi feito para ele descobrir.

O turismo desempenha o altíssimo papel de encenador e decorador da própria Nação.

O prestígio internacional de uma nação é consequência em certos aspectos da sua organização de turismo.

O turismo é, portanto, além de um indiscutível factor de riqueza e civilização, um meio seguríssimo, não só de alta propaganda nacional, como de simples propaganda política.

Sr. Presidente: a história do turismo perde-se na noite dos tempos.

O espírito de curiosidade cedo atirou os homens para as estradas do Mundo.

Os peregrinos, os comerciantes, percorrendo longos caminhos à procura do sal, do âmbar ou das pedras preciosas, os Fenícios e os Helenos, aventureiros e arrojados em busca do desconhecido, foram talvez os primeiros antepassados do actual turista. É antiga a sede de viajar.

Estrabão e Heródoto foram escritores-viajantes, movidos pela curiosidade pura.

Heródoto, observando e anotando, viajou pelo Egipto, Pérsia, Fenícia. Babilónia e Itália. Deixou observações tão exactas que. pouco perderam do seu valor descritivo.

Roma antiga, com as suas termas, os seus balneários, as suas «vilas de recreio», as redes de estradas, alongando-se pelo mundo antigo com pontes e albergues, apresenta-nos como que as primeiras estruturas turísticas.