A opção fundamental de um planejamento turístico em Portugal é a definição de prioridade na qualidade dos investimentos a efectuar. Infra-estruturas para turismo rico ou para turismo de massas?

Ricardo La Cierva observa não ter sido um mal que as primeiras vagais do turismo de mascas sobre a Espanha lhe tenham trazido, antes de mais, as classes médias da Europa. O turismo de elite, que sempre se mantivera, aliás, em Palma de Maiorca, veio depois.

Mas reconhece também que «para manter o turismo de massas em Espanha é necessário o turismo da elite».

É sabido que os baixos preços constituem factor básico do progresso turístico. Assim o proclamaram em declarações recentes os directores do turismo espanhol e francês.

Tivemos a sorte imensa de poder jogar com o argumento de preços reduzidos junto de uma clientela especialmente predisposta a conceder prioridade na programação das suas viagens às condições económicas. Se tivéssemos orientado o nosso esforço para receber clientela puramente aristocrática e tivéssemos desprezado o factor preço, o fracasso teria sido certo.

Ainda em muito recentes estudos publicados no Diário Popular acerca de investimentos hoteleiros o problema foi equacionado com segurança, assinalando-se que a grande massa da nossa clientela turística se orienta cada vez mais para os estabelecimentos de categoria média. E .ainda que o motel cresce muito ràpidamente em vários países; as aldeias turísticas ou de férias estão gozando de uma popularidade crescente, tal como os campings e a locação de casas mobiladas e quartos em casas particulares.

Não há muitos dias tive ocasião de ver o crescimento espectacular da faixa marítima entre Motril, por Málaga a Torre Molinos, e Marbella, não só de hotéis, como de apartamentos para aluguer e venda, e zonas de urbanização para pequenas casas de praia, em aldeamentos que se repetem durante larga extensão da costa.

E o facto só me convenceu mais ainda das possibilidades imensas da nossa costa algarvia, com a superioridade visível dos seus longos areais e da inexcedível beleza das caprichosas falésias da costa de Barlavento.

Mas do Minho ao Algarve, à Madeira, aos Açores, já para não falar nas províncias ultramarinas (e que esplêndido surto vai tendo o turismo em Moçambique e o poderá ter em S. Tomé), Portugal é um diorama pitoresco, variado e belo, capaz de atrair crescentes correntes turísticas:

Ouçamo-lo na prosa colorida de António Ferro:

Nada nos falta: vales que são como cestos de flores e de frutos; montanhas que se prolongam no céu: a renda do nosso litoral; florestas encantadas onde podemos topar, de repente, com a belle au bois dormant; rios e lagos onde se colhem peixes como se colhem flores. Portugal, antologia de todos os países; paisagens risonhas, coloridas como tapetes de retalhos, paisagens escalvadas, duras, abismos, paisagens suaves, impregnadas de saudade, onde se está com a impressão de ainda não ter chegado, paisagens humanas, sobre humanas, paisagens que parecem do outro mundo ou de outros mundos. Dando unidade a todos estes países diferentes dentro do mesmo país, uma vida puramente nacional, de um alto pitoresco, em cores fortes e sólidas, e, acima de tudo, um povo admirável, aristocrata por instinto, que pode às vezes não saber ler, mas que sente e entende como poucos.

Por tudo isto, o ainda porque «Portugal é um cofre de velhas e coloridas coisas que não é difícil trazer à superfície, flauta rústica onde dormem velhos ritmos e melodias e um dos mais sugestivos guarda-roupas na Europa», razão tinha António Ferro em dizer, lá por 1949, que o turismo «é a sorte grande de Portugal, mas uma sorte grande que ainda não quisemos - talvez prudentemente - rebater».

Atrevo-me, no entanto, a corrigir, numa afirmação de confiança: «que só agora nos dispomos a rebater» ...

E oxalá que sem hesitações nem demoras.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão.

O debate continuará amanhã sobre a mesma ordem do dia.

Está encerrada a sessão.

19 horas e l5 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Albino Soares Pinto dos Reis Júnior.

Aníbal Rodrigues Dias Correia.

António Calheiros Lopes.

António Maria Santos da Cunha.

António Martins da Cruz.

Armando Francisco Coelho Sampaio.

Armando José Perdigão.

Artur Alves Moreira.

Belchior Cardoso da Costa.

Henrique dos Santos Tenreiro.

João Nuno Pimenta Serras e Silva Pereira.

Joaquim de Sousa Birne.

Jorge Augusto Correia.

Jorge Manuel Vítor Moita.

José Dias de Araújo Correia.

José Guilherme de Melo e Castro.

José Luís Vaz Nunes.

José Manuel da Costa.

José Manuel Pires.

José de Mira Nunes Mexia.

Júlio Alberto da Costa Evangelista.

Manuel Colares Pereira.

Manuel de Melo Adrião.

D. Maria Margarida Craveiro Lopes dos Reis.

Olívio da Costa Carvalho.

Rui de Moura Ramos.

Ulisses Cruz de Aguiar Cortês.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Alexandre Marques Lobato.

Antão Santos da Cunha.

António de Castro e Brito Meneses Soares.

António Gonçalves de Faria.

António da Purificação Vasconcelos Baptista Felgueiras.

António Tomás Prisónio Furtado.

Armando Cândido de Medeiros.

Augusto César Cerqueira Gomes.