de vastas dimensões, cujas madeiras já estão a ser utilizadas pela indústria daqueles países, sobretudo na África do Sul, em Moçambique continuamos numa apatia que terá repercussões ruidosas no futuro da província. Continuamos a derrubar as florestas que a natureza pôs à nossa disposição, numa dádiva generosa à qual não temos sabido corresponder com o repovoamento e com a plantação de novas florestas. Entretanto, as nossas importações de madeiras continuam a subir consideràvelmente, andando já na casa das dezenas de milhares de contos anuais.

Deveria deter-me aqui um pouco mais na apreciação do problema florestal de Moçambique, dada a sua enorme importância, mas isso ultrapassaria o âmbito restrito que pretendi dar a tal problema nesta intervenção.

Sr. Presidente: estas considerações finais, feitas em rápido bosquejo, vêm a propósito da necessidade urgente de se dar um grande impulso ao Norte de Moçambique, região que andou muitos anos esquecida, promovendo-se o d esenvolvimento da agricultura, da silvicultura, da piscicultura nas águas interiores, da pecuária, das minas; construindo-se estradas e pontes; facilitando-se a instalação de indústrias e o exercício do comércio.

A área dos distritos talvez seja grande de mais para permitir aos respectivos governadores um contacto mais directo e mais estreito com as suas necessidades e aspirações. Haveria talvez que dividi-los em mais distritos e descentralizar a favor deles a máquina administrativa do Estado, que teima em concentrar em Lourenço Marques serviços que deveriam estar no Norte e deliberações, decisões e despachos que deveriam pertencer inteiramente aos governos desses distritos, dando-se-lhes uma maior autonomia e iniciativa.

Então o progresso de Moçambique seria mais rápido.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Continua o debate acerca do aviso prévio do Sr. Deputado Nunes Barata sobre o turismo português.

Tem a palavra o Sr. Deputado Sousa Rosal.

O Sr. Sousa Rosal: - Sr. Presidente: têm a mais viva razão de ser e palpitante actualidade as questões levantadas pelo aviso prévio sobre turismo, que estamos discutindo.

Foram elas postas e desenvolvidas com rara felicidade e substancial conteúdo pelo seu autor, Dr. Nunes Barata, nosso valoroso camarada destes torneios de oratória em que temos andado empenhados numa série de avisas prévios, na falta de melhor, exaltando virtudes, carpindo desventuras e fazendo alvitres com conhecimento de causa, que mais poderes não temos em temas de tanta monta, manejando, por vezes, e a custo, a espada da política por tantos títulos embotada.

E todos, apesar de tudo o que se disse, acabaram em bem, cobertos por formosas moções.

O sabor político que alguns de nós damos às intervenções tem o mérito de conservar uma tradição indispensável, quando salutar, e arejar o ambiente impregnado de tanto tecnicismo de muitas estatísticas, citações e elogios.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Com esta deixa atrevo-me a dizer duas palavras, não para levantar uma questão, mas, apenas, para solicitar uma meditação a quem as não tenha por impertinentes.

Temos uma política a que aderimos, pùblicamente, mas que no geral se não pratica nem se estima na plenitude do seu credo com o melhor da nossa inteligência.

O próprio Estado, que é corporativo, a não respeita quando se apresenta protegendo soluções de puro liberalismo para determinados problemas, quando não de carácter socialista.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Temos vivido uma situação de compromisso, respeitando a palavra dada e convivendo com alto espírito de compreensão, dando provas do mais acendrado patriotismo.

Há disciplina nas fileiras, lealdade para com o chefe, mas não há comunhão de ideal que seja capaz de nos manter unidos e válidos para além do condicionalismo político em que vivemos.

Servimos o presente como se não houvesse futuro em que valha a pena pensar, neste mundo de desvairada gente que anda ao sabor de chamados ventos da história, sem rei nem roque.

Mantemos as mesmas reservas mentais, em matéria de formação ideológica, que tínhamos quando nos juntámos por estar em causa a salvação pública.

Já lá vão cerca de 31 anos em que por plebiscito se aprovou uma constituição, na qual se definiu a organização do Estado e os princípios fundamentais para o seu governo e para orientar a vida nacional.

Princípios que se invocam para tentar chamar à ordem aqueles que criticam usos e abusos, mas não para meter na ordem aqueles que cometem os factos condenáveis que dão motivos as críticas, com a ideia errada que deste modo se defende o prestígio da autoridade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Um período de 31 anos é tempo mais que suficiente para rever conceitos à luz da doutrina instituída, abdicando de alguns princípios e aceitando outros que o tempo e a experiência possam ter mostrado que são meritórios para aperfeiçoar e enraizar o Regime, garantindo a sua continuidade, expressa em certezas de carácter social, económico e moral.

São ténues os laços que nos unem, e que podem partir-se, de um momento para o outro, por fraquezas da condição humana, lançando o Regime no vácuo, e nós cada um para seu lado, impotentes e vencidos, por imprevidentes, ou a lutar por uma herança que se pode materializar numa desilusão, perdendo-se o certo pelo duvidoso, agarrados como náufragos a palavras que perderam o seu significado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não nos esqueçamos de que temos um inimigo comum, que não se vê, mas que existe e nos espreita, dando de tempos a tempos um ar da sua presença