ciativas, uma mentalização dos homens e das instituições, de modo a chegarmos ao clima que hoje se respira.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É justo não esquecer os grandes pioneiros do passado, à frente dos quais, e em grande destaque, temos de colocar os que deram a vida durante longos anos à velha Sociedade de Propaganda de Portugal, que se albergou no prestígio glorioso desse honrado português, grande homem de bem, mestre de portugalidade e extraordinário jornalista, que foi o conselheiro José Fernandes de Sousa, que a tão benemérita instituição presidiu até à morte.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: é imperioso que se desenvolva o turismo em todo o nosso país. Há que ir de encontro às diferentes classes turísticas que o compõem, e começarei por dizer que não aceito, que repudio, certos narizes de cera que por aí estão demasiadamente crescendo - temos que ir direito às coisas e chamar-lhes pelo seu nome -, narizes que neste caso se chamam, por exemplo, província do Algarve.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Rocha Cardoso: - Perdão a V. Ex.ª O Algarve não é nariz de cera, porque foi criado por Deus tão lindo e tão grande que ali acaba o Mundo, porque Deus foi incapaz de fazer melhor, de alargar a terra depois daquela beleza.

O Orador: - Não deixo de dar apoio às palavras de V. Ex.ª no que se refere às belezas da província que o viu nascer.

V. Ex.ª verá mais adiante que não deixo de prestar a justiça devida ao Algarve, que para o termos no nosso coração basta ser a terra donde o Sr. Infante enxergou os mares e, através deles, as terras que de lado a lado foram e são a nossa glória.

O Sr. Rocha Cardoso: - Foi apenas a boca, e não o coração, que falou. Eu sabia.

O Orador: - Somos na Europa um país pequeno, pelo que o turista tem que ser interessado numa visita a todo ele. Só assim conseguiremos médias de demora compensadoras, e não devemos procurar, pelo contrário, encerrá-lo numa estufa à sombra da bananeira.

É crime esquecer que o Norte do País é indiscutivelmente - quem com verdade poderá afirmar o contrário!?- a região turística por excelência, dado o matiz e o contraste das suas paisagens, a riqueza da sua vegetação, o aveludado dos seus campos, a grandeza incomparável dos seus monumentos e o encanto da sua gente.

Fomos todos nós criados, e quando digo todos digo os do Norte e os do Sul, a ouvir dizer que Portugal é um jardim e o Minho o seu mais belo canteiro. Acaso não corresponde tal ditado a uma verdade que há que ter em conta? Acaso se esquece que é da beleza da paisagem e da riqueza dos monumentos que o viajante vem sequioso? Onde temos melhor cartaz turístico que o do nosso Minho? Por que maus fados na rota de slogans publicitários, que merecem sem dúvida apreço, se pretende esquecer esta realidade? Não! Não aceitamos como válido o argumento de que o clima é melhor no Sul do que no Norte, e isto porque, se o é, é o numa pequena parte do ano, e precisamente naquela em que a corrente turística é sempre incomparàvelmente menor.

Nos grandes meses de turismo o Norte, de uma maneira especial o Minho, está a longa distância de qualquer região do País em oferta de atractivos que constituam aliciamento para os turistas, e o seu clima é por igual acolhedor.

É a beleza incomparável dos seus campos, com a vinha de enforcado e o matiz das culturas variadas, que ali e acolá a mancha negra de pequenas florestas mais alindam, são as capelinhas e as igrejas que, aos montões, na graça do Senhor, se estendem por toda a parte; são os rios que Deus fez correr através dos montes e dos vales e as barragens com que a mão do homem enriqueceu a paisagem. Tudo é belo, tudo encanta, desde a alegria e a maneira de ser acolhedora do povo à grandeza maciça dos monumentos venerandos a que o granito empresta desusada majestade, monumentos de que o Castelo de Guimarães e a Sé de Braga são paradigma.

O Sr. Sousa Rosal: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Sousa Rosal: -Presto aqui justiça a V. Ex.ª, porque foi de facto em Braga que nasceu a revolução, mas foi o Algarve que viu partir os primeiros homens para ela, que, atravessando o Alentejo sem encontrar no seu caminho alguns que ali deviam estar, desembarcam no Terreiro do Paço, enfrentando a esfíngica guarnição de Lisboa, e alguns entram no Ministério do Exército, onde encontram á maior confusão, e conseguem arrancar dali o Sr. Almirante Cabeçadas, esse honrado e bom português que, levado pela sua bondade, se ia deixando arrastar por caminhos que podiam perder a revolução. E fomos nós que conseguimos levá-lo ao encontro de Gomes da Costa. Assim acabou a intriga e se ganhou a revolução.

O Orador: - Sabemos disso. Mas eu queria completar o esclarecimento de V. Ex.ª

Todos sabemos que um grupo de valentes moços oficiais, no número dos quais e em saliente posição se encontrava V. Ex.ª - e muitas vezes o tenho recordado -, arrancaram no Algarve, primeiro que em Braga, ...

O Sr. Rocha Cardoso: - Muito obrigado pela justiça de V. Ex.ª

O Orador: - ... firmes à sua palavra e que contribuíram imenso para o triunfo da revolução, porque estabeleceram, como hoje se podia dizer, uma segunda frente. Mas todos sabemos também que Gomes da Costa saiu de Lisboa e só em Braga a Porta Nova estava aberta para o receber.

O Sr. Sousa Rosal: - V. Ex.ª está encarando o problema do turismo com uma certa demagogia, esquecendo-se de que Portugal é tão bonito no Algarve como no Minho e todos devemos estar juntos nesta hora sublime em que é preciso resgatar o País através do turismo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - V. Ex.ª, que é um ilustre militar, sabe muito bem que uma batalha não se ganha na defesa, mas no contra-ataque.

O Sr. Sousa Rosal: - Mas não contra os amigos! Risos.