Sr. Presidente, Srs. Deputados: aqui termina o sortilégio!

Sei que aqueles de VV. Ex.ªs que me acompanharam nesta jornada admirável não estão arrependidos. E mais: sei que de bom grado voltariam te outra oportunidade surgisse como esta ...

Ora, era isso, precisamente, o que aconteceria com todos os turistas reais que fossem de abalada às mesmas regiões donde nós acabamos de regressar e aí encontrassem, vissem, admirassem e saboreassem tudo aquilo que há pouco foi razão e causa do nosso deleite e encantamento.

Eles iriam ávidos e pressurosos, eles voltariam uma e mais vezes, eles não esconderiam o seu entusiasmo perante amigos e conhecidos, eles carreariam multidões, e todos seriam os artífices de uma enorme corrente humana, do nacionais e estrangeiros, a culminar no estabelecimento do uma importante zona de turismo, com larga projecção futura!

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - Fiquei com a impressão, ao ouvir V. Ex.ª, de que Dante teria tomado como tema da sua Divina Comedia o turismo e que neste momento não se trataria da descida de Dante aos Infernos, mas da subida de Grilo ao Paraíso.

O Orador: - Muito obrigado.

Infelizmente, a realidade, a dura realidade, é bem diferente do sonho que descrevemos!

Tráfego disciplinado, todas as vias de comunicação, em perfeito estado, uma rede de hotéis, pousadas, estalagens, restaurantes e pensões a cobrir eficientemente, as regiões de turismo, serviços impecáveis, mesas fartas e variadas, limpezas sem mancha, pessoal correcto e lavado, povo educado e a revelar um alto grau de civismo, ausência de mendicidade, certas manifestações culturais e desportivas como meio de provocar afluxos turísticos, tudo isso são utopias, se não para todas, pelo menos para a maior parte dessas regiões de turismo.

Não: em Vila Real ainda não há hotel, nem uma boa casa de espectáculos, nem mais que um razoável restaurante, e deixou já de se realizar o seu circuito automóvel que tanta gente chamava à cidade, e tanto renome e prestígio lhe acarretava!

Não: em Chaves não há nenhum grande hotel do turismo, nem bons restaurantes, nem ainda a estalagem, nem ruas sem pedintes e palavrões, nem parque de campismo, nem o miradouro de S. Lourenço, nem o aeroporto da Campina, nem ainda a piscina e os balneários definitivos das termas, nem automotoras, nem féeries nocturnas, nem monumentos iluminados, nem festas da cidade, nem sequer televisão!

Em todo o distrito o que há, e sem dúvida do melhor, é a paisagem, as vistas! A paisagem que o turista vê uma vez e não tem interesse em tornar a ver, a paisagem que por si só, e embora magnificente, não pode justificar a criação de uma zona de turismo ao nível nacional, e muito menos ao nível internacional.

É preciso mais, muito mais! Aquele mais, por exemplo, que nós descobrimos há pouco, maravilhados, na nossa fantástica excursão por terras de Trás-os-Montes!

Quando as entidades responsáveis conseguirem oferecer-nos uma digressão no estilo da que descrevi de início, subirei então, uma vez mais, a esta nobre tribuna e daqui proclamarei, exultante de alegria: Sr. Presidente, Srs. Deputados: há turismo em Trás-os-Montes!

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados: quando, usando da faculdade conferida pela Constituição, prorroguei o funcionamento da Assembleia não disse o prazo por que o prorrogava. Aclaro hoje que esse prazo é de um mês.

Na próxima semana, naturalmente, iniciar-se-á o debate sobre as Contas Gerais do Estado e das províncias ultramarinas. Não sei, ao certo, se se iniciará, porque ignoro, apesar de conhecer o número de oradores que ainda estão inscritos, se se conseguirá que estejam preparados para falar na altura em que lhes for dada a palavra.

E é claro que, naturalmente, o debate acabará quando não houver Deputados que, muito embora tenham manifestado o desejo de falar, não se disponham desde logo a fazê-lo. Por isso, insisto, não posso ter a segurança de que o debate sobre este aviso prévio se prolongue por toda a próxima semana. A seguir, ou mesmo durante, serão postas em discussão as Contas Gerais do Estado da metrópole e das províncias ultramarinas e o relatório da Junta do Crédito Público.

Vou encerrar a sessão.

O debate continuará na próxima terça-feira, dia 10, sobre a mesma ordem do dia.

Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 10 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Agostinho Gabriel de Jesus Cardoso.

Alexandre Marques Lobato.

Aníbal Rodrigues Dias Correia.

Antão Santos da Cunha.

António Calheiros Lopes.

António Manuel Gonçalves Rapazote.

António Moreira Longo.

Armando Francisco Coelho Sampaio.

Armando José Perdigão.

Augusto César Cerqueira Gomes.

Carlos Coelho.

D. Custódia Lopes.

Francisco de Sales de Mascarenhas Loureiro.

Henrique dos Santos Tenreiro.

Jacinto da Silva Medina.

João Nuno Pimenta Serras e Silva Pereira.

Jorge Manuel Vítor Moita.

José Dias de Araújo Correia.

José de Mira Nunes Mexia.

Manuel Homem Albuquerque Ferreira.

Manuel Nunes Fernandes.

Manuel Seabra Carqueijeiro.

Mário Amaro Salgueiro dos Santos Galo.

Rogério Vargas Moniz.

Rui de Moura Ramos.

Ulisses Cruz de Aguiar Cortês.