tos, pequenos alguns, certamente, mas todos aptos a apertarem nas suas malhas, carinhosamente, as populações dispersas e às vezes impossibilitadas pelo estado do mar de comunicarem umas com as outras.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - E se o mar e o vento paralisarem depois, aliás transitoriamente, tanto a navegação aérea como a marítima, sempre será mais reduzida a impossibilidade e sempre será mais resignada a sorte daqueles que compreenderão na altura, totalmente, que tudo se fez para lhes valer.

Foi o Dr. Ricardo Jorge, no Canhenho de Um Vagamundo - aquele canhenho em que se sente, segundo ele próprio confessa, o tecum erras do filósofo, «sempre às voltas ao longe com o seu eu e a sua terra» -, foi o Dr. Ricardo Jorge, repito, quem advertiu os que prezam os «voos da eloquência e as inflorescências da retórica» de que «ficariam medianamente impressionados com a oratória britânica, em regra despida de adornos, chã e singela, sem calor nem ressaltos». E eu, ao falar do desenvolvimento turístico dos Açores, com a preocupação da objectividade, talvez tivesse desiludido muitos com a singeleza, das minhas palavras. Mas não posso evitar que o fogo do meu entranhado amor aos Açores me aqueça as palavras e lhes empreste algum colorido ao chamar a atenção para o ineditismo, para o pitoresco, para o diferente, que naquelas ilhas escorre da natureza e das almas.

Imaginem muitas crateras de vulcões dados por extintos, a atestarem a passada ira subterrânea. Em cima das crateras, formando lagos, a água que desceu e desce das encostas outrora abrasadas. Ou então, camadas de terra, sobrepostas pelos séculos e que o homem revolveu e expurgou da vegetação bravia, afagando o torrão, lançando sementes, ajeitando plantas, erguendo casais e igrejas - mourejando para viver e rezando para se salvar.

As bocas, que dantes vomitavam lava, calaram-se. Estão atulhadas de vida. Dantes saíam labaredas. Agora mergulham nelas raízes. Até as flores desabrocham em cima das goelas de fogo amansadas pela teimosia dos anos e pela teimosia dos homens.

Comove, pela beleza enraizada na tragédia.

Impressiona até ao pasmo.

Arrebata pela originalidade heróica.

É diferente!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E quem deixa a sua torra para visitar a alheia é para ver e admirar o que não conhece, o que nunca viu, o que não é igual.

Poesia, repto oratório, exagero?

Vão aos Açores e vejam!

Vejam os Açores e acreditem!

Existe lá a maior hidrópole mundial. Não sou eu quem o diz. São os depoimentos autorizados como este, entre muitos:

... uma prodigiosa riqueza de águas medicinais ... a mais exuberante de toda a Europa, em abundância de caudal, de termalidade, de composição e indicação terapêuticas ...

Águas sulfúreas, águas carbonatadas, águas carbogasosas, umas frias, outras quentes, águas hipossalinas, lamas termais, de tudo há ali com que possam ser instaladas as mais ricas e sumptuosas termas do Mundo.

Sete Cidades e Furnas são, sem dúvida, dos mais famosos sítios que existem, afirma um conceituado técnico da silvicultura, que sugere a criação - «na zona central da ilha de S. Miguel, no maciço da Barrosa, na lagoa do Fogo, onde a vegetação arbustiva, cobrindo as margens caprichosas, confere ao conjunto imponente e original beleza selvagem» - de um parque nacional, onde os botânicos teriam possibilidades de observar a magnífica flora açoriana, os naturalistas de encontrar vasto campo de estudo e os turistas «uma das mais expressivas paisagens açorianas e do Globo».

Deslumbrada com a beleza das ilhas dos Açoras, e descrevendo-as. Margaret Yrwin fixa uma nota que de certo modo corresponde à definição de «comprimido de exotismo» que um dia me foi dada, em conversa directa, a propósito da ilha de S. Miguel, por Robert Chauvelot, escritor e viajante de nomeada e que já citei nesta mesma tribuna há alguns anos. «Todavia, há sempre mais surpresas e contradições» - observa, com muito interesse, Margaret Yrwin!

E é assim, quando tudo se julga ter visto nos Açores, aparece sempre algo de surpreendente para ser visto e admirado.

Têm visitado ultimamente os Açores alguns apaixonados da pesca desportiva, e todos se confessam maravilhados com o que encontraram. Mas, entre tantos, e depondo como tantos. Victor de Sanctis, famoso realizador da televisão e do cinema italianos, relata o que verificou, com a eloquência destas certezas:

Há muita coisa a ver aqui que não encontramos em qualquer costa europeia. Não exagero se afirmar que nunca vi, como nestes mares, tão grande quantidade e variedade de peixes.

Também quanto à cinegética, os Açores oferecem aliciantes condições. Lembro-me sempre daquele príncipe de Mónaco que intermeava as suas explorações oceanográficas, nos mares do arquipélago, com excursões venatórias a algumas das ilhas e do Bulhão Pato caçador, que se dou à triunfante curiosidade de alargar a sua paixão à ilha de S. Miguel.

Quantos hotéis, hospedarias e pousadas serão precisos?

Só através de um planeamento de ordem e alcance regionais se poderá saber. Mas desde a ilha de S. Miguel até ao minúsculo Corvo - ex-líbris da pertinácia e do ardor patriótico dos Açorianos -, ...

Vozes: - Muito bem!