O Orador: - Através delas se estabeleceria a sua defesa própria e se facultaria o auxílio financeiro indispensável a um trabalho calmo e fecundo.

Como cúpula de todo o edifício, impõe-se a criação sem delongas do Instituto Português de Artesanato, que assim poderia ser denominado, organismo que não só promoveria o auxílio financeiro a que aludi, para a compra das necessárias matérias-primas e melhoria das instalações, sem lhes retirar o cunho rural sui generis, como asseguraria a aquisição de toda a produção por preço compensador e a sua colocação nos mercados interno e externo.

Vozes: - Muito bem!

evância, quando nos encontrarmos devidamente organizados para produzir e exportar em condições semelhantes às de vários países concorrentes rendimento que poderá atingir anualmente muitas centenas de milhares de contos.

Atente-se, por exemplo, no que se verifica nos países nórdicos. Lembro propositadamente o caso do artesanato dinamarquês, que está a exportar, segundo pude ler em publicação da especialidade, cerca de 1 milhão de contos por ano da sua produção artesanal.

Para que a expansão que se pretende seja efectiva importa começar por criar interesse no mercado interno pelas peças de artesanato verdadeiro, por forma que não as vejamos, como é o caso mais frequente, a serem totalmente substituídas como elemento decorativo, pelos recuerdos, os souvenirs, etc.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quanto à divulgação do nosso artesanato no estrangeiro, um aceno da maior simpatia tem de ser dirigido ao Fundo de Fomento de Exportação pela obra meritória que tem realizado. São disso concludente prova algumas exposições de ensaio levadas a efeito em feiras internacionais na França, Inglaterra, Estados Unidos da América, Alemanha, Bélgica, Suécia, Suíça, Áustria, Itália, Canadá e Brasil e as «semanas portuguesas» organizadas em grandes armazéns de Paris, Bruxelas, Lausana e Londres, que permitiram revelar ser fácil a colocação de vários tipos de produtos artesanais, chegando até a dar-se nessas «semanas portuguesas» a que aludi o facto significativo de os stocks previamente calculados para oito dias terem sido de tal maneira disputados pelo público que a sua venda total se operou em um ou dois dias.

António Santos da Ganha: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. António Santos da Cunha: - Estou escutando com o maior interesse aquilo que V. Ex.ª diz, e acima de tudo queria referir-me aos cursos a que V. Ex.ª se referiu e que na verdade são uma necessidade imperiosa, sobretudo na nossa região. Nomeadamente no concelho em que V. Ex.ª nasceu torna-se premente a criação desses cursos. Mas parece que cursos como os que estão a ser experimentados em Viana do Alentejo não são os mais indicados, dada a extensão a que obrigam - três anos. Para um artífice parece-me de mais, porque entendo que deverá ser estudada a maneira de criar escolas móveis e que, como no caso de Barcelos, se estendessem a diferentes centros de olaria em cursos intensivos, de maneira que ao fim de poucos meses o artífice pudesse ter uma ideia perfeita do assunto.

Outro ponto que tem muito interesse é a aceitação que no estrangeiro tem o nosso artesanato. Posso citar a V. Ex.ª o caso de Évora ter enviado à Feira de Bruxelas um mostruário que foi imediatamente adquirido e quero, por isso, prestar homenagem à Junta Distrital de Évora, que viu assim coroada com esse prémio a decisão de enviar para aquela Feira o mostruário já referido.

O Orador: - Agradeço a V. Ex.ª e associo-me à ideia.

Como li numa publicação do Fundo de Fomento de Exportação, «há que fazer apelo ao patriotismo de todos os jornais portugueses, seja qual for a sua tiragem e expansão, para que insistam, repetidas vezes, junto dos seus leitores que concorram para o engrandecimento do artesanato português comprando peças artesanais representativas da arte rural portuguesa». «Há que fazer igual apelo aos proprietários e gerentes de hotéis, restaurantes, bares, casas de chá, lojas de moda, livrarias, teatros, cinemas, escolas, etc., para que exibam, em lugar de destaque, cerâmicas, vidros, pratas, filigranas, cobres e ferros trabalhados, mantas, tecidos, bordados, etc.».

Não resta dúvida de que ao observarem essas exposições em hotéis, restaurantes, etc., as pessoas passam a ter interesse em visitar as terras que produzem esse artesanato.

Um apelo mais desejo acrescentar a estes, mas agora dirigido ao Governo, para que não se faça esperar a protecção devida e que consistirá na criação de órgãos que, à escala nacional e regional, se ocupem do artesanato.

O Sr. Sales Loureiro: - Muito bem !

O Orador: - Temos falado essencialmente do artesanato tradicional e regional, pelo que nos vamos referir, embora sucintamente, ao artesanato já demasiadamente industrializado.

A industrialização que conduz ao fabrico em série, se tem o seu lugar próprio e que ninguém pretende discutir, é em muitos casos o golpe fatal no artesanato representativo da arte rural, que mais se agrava quando envereda pela imitação do artesanato congénere estrangeiro. Cada qual deverá situar-se na sua específica posição, até porque o fabrico em série tem e terá sempre o seu mercado próprio. É o caso, por exemplo, das obras de prata e filigranas, vidros, porcelanas, cerâmicas, bordados da Madeira, etc., embora em relação a algumas as empresas de tipo mais ou menos industrial sejam em número reduzido.