Mas para além dos seus talentos militares excepcionais, e que a sua resistência por mais de quatro anos basta para ilustrar, quero salientar quanto ao vigor desta personalidade três traços.

Primeiro, o do amor inquebrantável e lúcido à sua pátria e o correspondente dever de fidelidade militar.

Segundo, o de um carácter firmíssimo, que não transigia com a derrota; a que o obstáculo de um muro aparentemente intransponível não obrigava a curvar a cerviz. São desta espécie os raros Nun'Alvares que por antecipação se não resignam à derrota. E a sua lição é de que a luta, como dizia o poeta, vale sempre a pena «quando a alma não é pequena»,

Assim se conquistam «milagres»!

Terceiro, o de que este idealismo de amor pátrio, de cumprimento do dever e de perseverança de propósito não são incompatíveis com os tradicionais princípios de honra e brio militares, e até generosidade na vitória - de que paru connosco deu provas inequívocas: lembre-se a restituição da es pada ao capitão Curado depois da serra M'cula -, coisas estas que, hoje quem as tenha ainda há, são obtidas por virtude. Todas estas qualidades constelam a memória do cabo de guerra que, coberto de glória e ferido ulteriormente pela adversidade sua e da sua pátria, acaba de morrer.

Em vida estes méritos foram-lhe ainda reconhecidos pelos antes seus adversários: foi Smuts, o general aliado que o enfrentara, a convidá-lo a tomar parte, em 1929, num banquete de combatentes da guerra de África, realizado em Londres e a que von Lettow veio a assistir. Fomos nós a festejá-lo, autoridades e povo, em Moçambique, quando anos depois daquela guerra por ali passou em turismo de saudade. Estas manifestações de reconhecimento ao valor e virtude alheios também concorrem para nos reconfortar de que nem tudo quanto diz respeito ao mérito moral se obliterou.

Sr. Presidente: uma última razão temos para sermos gratos a von Lettow: a de um aparente desaire militar nosso se ter convertido o caso não é raro na- história - em importante, embora discreto, sucesso político. Foi este o ter-se escapado em 1918 aquele cabo de guerra ao cerco que em Moçambique se lhe apertava para ir infiltrar-se em plena Rodésia, onde veio a depor as armas (que por amor à honra lhe foram conservadas) só quando a Alemanha capitulou na Europa.

Este simples facto, decerto não decorrente do propósito do inimigo de então nos querer favorecer, não deixou de ser-nos altamente benéfico na ulterior conferência da paz, onde grossa sensaboria nos deveria esperar se a capitulação se tivesse passado no nosso território.

Mais um motivo este, e grande, para a nossa gratidão para com a memória de von Lettow.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Continua, o debate sobre o aviso prévio do Sr. Deputado Nunes Barata acerca do turismo.

Tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo Jorge.

O Sr. Jerónimo Jorge: - Sr. Presidente: ao tratar-se do problema do incremento do turismo entre nós, julgo ser de interesse focar o aspecto da contribuição que a marinha mercante lhe pode proporcionar e cuja importância se torna desnecessário encarecer.

Se o turismo envolve na sua concepção global as regiões por ele abrangidas, instalações hoteleiras suficientes e condignas, distracções, acolhimento, atractivos de vária ordem, não é de menosprezar nesse conjunto o aspecto dos transportes e comunicações que o servem, tais como: estradas, caminhos de ferro, carreiras aéreas e ... marítimas. Pode mesmo dizer-se que sem transportes e comunicações fáceis não há turismo, e muito menos turismo em larga escala.

Vozes: -Muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Os turistas deslocam-se em grande parte nos seus trajectos de ida e volta em navio.

Uma viagem turística não se confunde, nem pode confundir-se, como é óbvio, com uma viagem de negócios. Nesta predomina o interesse em se chegar o mais rapidamente possível ao ponto de destino; naquela sobreleva a circunstância de ser uma viagem de repouso e distracção, de cura tonificante para a agitada vida moderna, e por isso é acompanhada de períodos de permanência mais ou menos prolongada nos portos, para que o turista possa, à vontade e sem pressas, apreciar as belezas naturais, os atractivos cinegéticos, as maravilhas artísticas ou as recordações históricas que constituem justamente o património turístico dessas regiões.

Por tal motivo, se o avião tende a ser preferido pelos financeiros, industriais ou comerciantes, o mesmo não sucede com os turistas, como o atesta o êxito crescente dos cruzeiros marítimos, particularmente nestes últimos anos.

Por outro lado, perante os progressos técnicos da aviação e da sua resultante concorrência em todo o Mundo com as companhias de navegação marítima, estas estão a interessar-se, e cada vez mais, pela realização de cruzeiros que as compensam da diminuição de passageiros verificada em proveito da via aérea.

Mas as estatísticas vêm sem dúvida demonstrando que há clientela em abundância para navios e aviões, sempre que se processe uma captação inteligente e bem orientada.

Nada impede, no entanto, e muitas vezes seria até de aconselhar, um serviço combinado entre o navio e os outros meios de transporte: o comboio, o autocarro e o avião, para conveniência do turista ou satisfação dos seus. caprichos e para a realização dos objectivos do respectivo cruzeiro.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: os cruzeiros marítimos tornaram, como disse, extraordinário incremento. Em ré-