tecido a tantos outros, como Almeida Garrett, que descobriram naquela região encantos que cantaram nos seus versos e que a sua pena descreveu com tanto brilho.

Abusei da paciência de V. Ex.ª e da dos Srs. Deputados, do que me penitencio humildemente, mas parto desta tribuna com a certeza de que o turismo português, ao encontrar a sua hora, há-de saber aproveitá-la, através de um planeamento que já foi iniciado, que encontrou também um homem que, com a sua inteligência e o seu dinamismo, há-de reunir meios e polarizar vontades para que o País seja nesta hora mais rico, e na esperança de que no inventário que se impõe da nossa riqueza turística o Ribatejo ocupará o lugar a que pelo seu valor tem incontestável direito.

Tenho dito.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Abranches de Soveral: - Sr. Presidente: torna-se cada vez mais difícil dizer algo de novo e de útil neste tão actual tema do turismo metropolitano.

Os exímios parlamentares que sobre ele se vêm debruçando interessadamente têm-no focado sob todos os ângulos e esfibrado em todos os pormenores, pelo que quem, como eu, não gosta de falar sem dizer nada, nem estima repisar ideias alheias, vê-se em embaraçosa dificuldade para trazer a esta tribuna algo mais que mero jogo de palavras, para raciocinar sem cair na imitação servil ou na mesmice, e fugindo à logomaquia e à logorreia.

Limitar-me-ei, por isso, a glosar à escala beira algumas afirmações da muito notável comunicação feita ao País pelo ilustre Subsecretário de Estado da Presidência do Conselho, o Dr. Paulo Rodrigues.

1) Se bem entendi, a principal batalha do turismo português actual é travada contra o tempo.

Acima dos esquemas duradouros e das planificações para o futuro, avulta o problema premente e instante de atender ao afluxo turístico imediato e próximo, que não podemos, sem riscos graves, limitar, defraudar ou desiludir.

Assim, em face da carência aflitiva de alojamentos bastantes e de disponibilidades suficientes, parece que só uma política turística será possível e viável - a de estender a todo o território metropolitano a iniciativa, o incitamento e os subsídios oficiais, a ver se assim se concitam e galvanizam, em prol do turismo, as energias, as economias e os entusiasmos regionais.

Efectivamente, se todos os nossos hotéis, se todos os nossos parques de campismo e se todos os nossos aeródromos são poucos para as necessidades previstas - seria anómala e comprometedora uma política que afunilasse o turismo, quando a verdade é que todos somos reconhecidamente poucos para tão ingente e urgente tarefa.

O turismo encarado a sério não pode deixar de erguer-se à ordem nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não.

Todo o Portugal, do Alto Alinho ao Algarve, é um maravilhoso campo de turismo potencial, em que cada província, com os matizes das suas belezas naturais e dos seus recursos próprios, contribuirá para formar o quadro rico, variegado e policromo que pode e deve ser o turismo português.

Assim, por paradoxal que pareça, a melhor forma de servir o turismo de cada região é inseri-lo e enquadrá-lo no conjunto nacional, porque quanto mais vasta for a gama dos atractivos turísticos e dos cambiantes de paisagens, de costumes, de monumentos e de cores, maior será o afluxo dos visitantes interessados.

2) Cumpria-me agora soerguer a posição da Beira Alta no quadro do turismo nacional que deixo debuxado, mas não posso.

Outros o fizeram brilhantemente, já.

Eu não sei evocar condiguamente as belezas da enorme região que constitui o corne de Portugal e que a Natureza balizou com as suas mais grandiosas criações - a Estrela e o Buçaco e o Douro.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Estes ciclópicos acidentes corográficos imprimiram indelevelmente, na vasta província que definem o selo do grandioso.

Há regiões mais ricas, mais amenas, mais belas e mais castiças - mas nenhuma há mais grandiosa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O que se sente no Poço do Inferno, da Estrela, ou na Cruz Alta do Buçaco, ou quando, na limpidez incomparável de um Outono beirão, se passeiam os olhos deslumbrados pelas abruptas ribas do Douro e do Távora, douradas pelas folhas morrentes das videiras, ou pelas encostas do vale do Vouga, alcatifadas de roxo pela urze serrana - não pode dizer-se em palavras.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Descrever a Beira Alta é, de certo modo, diminuí-la..

Não bastam, porém, as belezas naturais - seria estultícia organizar um turismo puramente heliocêntrico, ou confiar apenas à amenidade do clima ou às maravilhas da paisagem os atractivos da nossa hospitalidade.

Temos de pôr em jogo os monumentos de toda a ordem prodigamente espalhados na terra portuguesa pulas gerações que assim quiseram assinalar, em dedadas perenes, as idades que viveram.

Constitui, por isso, pecado mortal, também contra o turismo, o desleixo ou o abandono dos monumentos nacionais.

O Sr. Nunes Fernandes: -Muito bem!

O Orador: - A Beira Alta ocupa, por igual, lugar marcante na monumentalidade lusíada.