cérebros de negros e de brancos a realidade de uma igualdade de cidadania sem reticências e o necessário e conveniente entendimento do orgulho de ser português.

Sr. Presidente: o entusiasmo desviou-me um pouco da matéria. Creio, porém, que o desvio não foi despiciendo nem displicente. Mas volto ao ponto.

O nosso ultramar, mais concretamente Angola, tem atractivos de todos os matizes. Mas temos de reconhecer que não satisfaz a todas as modalidades de turismo. Angola está mais apta a corresponder às ambições dos emocionais, daqueles que lá chegam em busca de sensações e emoções fortes nas aventuras cinegéticas.

Além do gigantesco trabalho de urbanização que, incessantemente, vem sendo realizado através de todo o território com vista ao aumento, sempre crescente, dos índices de civilização e de progresso, pouco mais temos de oferecer, a não ser aquilo com que Deus bafejou aquelas terras: a natureza adusta e forte a clamar por homens inteligentes, activos e empreendedores que a afeiçoem e tornem acolhedora e atraente e, em cada dia, despertem nos que a ela se entregaram novas razões de apego e de orgulho.

Há ali muitas belezas naturais, como em todos os cantos da Terra. Mas, se não realizámos ainda o suficiente para comodidade dos que estão, não podemos alimentar a ilusão de que já podemos atrair turistas para puro turismo.

São enormes as distâncias a percorrer para, de Luanda, ir contemplar as quedas do Duque de Bragança, a 600 km, ou as da Onguéria, a 1076 km, ou as do Ruacaná, a 1400 km. Nos percursos, em pontos que ofereçam panoramas de deslumbramento, nada existe que proporcione e facilite uma curta demora. É tudo um desafio à resistência do viandante.

O turismo político e cultural, únicas modalidades para que o organismo oficial que lá existe está preparado, com a ajuda dos serviços de transportes aéreos da província, corresponde satisfatoriamente aos objectivos. Mas não são ainda as modalidades que mais interessa explorar. Para já, restam-nos os turistas que buscam as tais emoções fortes na caça ou na pesca. Aqui, sim. Aqui é que Angola lhes oferece aspectos e situações inolvidáveis.

A caça ao leão, ao rinoceronte, ao elefante, à palanca, etc., é maravilha que os protagonistas recordarão toda a vida.

Vozes: - Muito bem!

tributários: e os mais decisivos tributários, mesmo para aqueles que se disponham a fazer turismo recreativo e sedativo, são os casinos, a música, o jogo e ... o resto.

Mas o resto surge como os cogumelos: com a chuva, que é o conjunto dos tributários que forem encaminhados para aguentar e desenvolver o turismo, que não é mais do que o coroamento de uma administração consciente de ter realizado as elementares condições de progresso das populações. Angola está, pois. tentando entrar na fase de balbuciar turismo.

Considerado o estado de perturbação que afecta os povos de todo b continente africano, Angola não poderá contar com turismo desta origem, apenas lhe restando o da Europa e das Américas. Este será ainda muito mais reduzido, por acessível apenas a escassas minorias, se não for estimulado e protegido, atendendo ao seu carácter transoceânico.

Pouco se conhece das organizações dadas à acção turística em Angola. Tem diante de si uma grande obra a realizar. Será pena que seja cometida a curiosos ignorantes e sem prática, porque será condenar ao descrédito e abandono uma das melhores zonas de turismo de Portugal.

Penso que o mais importante, para início de um trabalho sério, é que a Junta Autónoma de Estradas, único organismo que está- realizando trabalho digno de encómio, active o seu programa de construção da rede rodoviária da província; que, simultaneamente e com a cooperação da mesma Junta, uma comissão constituída por técnicos urbanistas, paisagistas, de belas-artes e de engenheiros estude, defina e guarneça alguns circuitos turísticos e localize as etapas dos itinerários; que em cada etapa se façam as construções que forem indicadas pelos técnicos, como sejam hotéis e pousadas destinados à satisfação do tríplice objectivo - repouso, caça e pesca; que nos principais centros do litoral sejam construídos hotéis e casinos com dancings e salas de jogo, pois o jogo é um dos vícios fatais da humanidade com que também se deve jogar para atrair os que com ele se alegram e sentem bem.

Assim, tenhamos a certeza de que b turismo em Angola não será privilégio dos bafejados pela fortuna, podendo vir a ser acessível aos menos ricos.

E então poderemos ver turistas nacionais e estrangeiros cruzando as estradas de Angola em busca de sensações que em nenhum outro ponto do globo experimentarão, quer para gozarem as delícias do lago Dilolo, em Vila Teixeira de Sousa, o maior de Angola, quer para admirarem os animais silvestres nas reservas naturais da Cameia ou da Quissama, quer para irem ao Alto Zambeze em busca do macaco-azul ou de peles de lontra, quer para se maravilharem ante as quedas do rio Luena, em Vila Luso, do Ruacaná, no rio Cunene, ou as do rio Lucala, em Duque de Bragança, quer ainda para admirarem no seu habitat a Welwitschia mirabilis, essa estranha espécie do reino vegetal que só existe no deserto de Moçâmedes. e aqui ver disparar em debandada zebras, avestruzes e cabras-de-leque.

Finalizando e resumindo: só com boas estradas, bons hotéis, boas pousadas, bons casinos, bons transportes terrestres, fluviais e marítimo-fosteiros, poderemos coutar com o advento da era do turismo em Angola.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, para encerrar o debate, o Sr. Deputado Nunes Barata.