O Orador: - ... mentiras sobre mentiras, falsidades sobre falsidades, propositadas deturpações, procurando criar em volta deste bom povo um clima de déspotas e bárbaros, esquecendo o que nos seus países se faz em matéria de discriminação e barbarismo, em que se atropelam as leis que os regem, a bem do que esses senhores chamam - democracia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Meditemos sobre o que se passou e se está passando e confessemos o nosso erro e boa fé, erro, sim, em crermos de mais nos outros de fora e boa fé em sermos brandos de mais com alguns cá de dentro.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Governantes e governados, todos no íntimo, sentimos que estamos em estado de guerra, pois não nos parece que as nossas tropas, espelho de uma nação gloriosa de séculos, andem a fazer turismo por terras do ultramar português, parecendo não termos a coragem de dizer alto e bom som que realmente o estamos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não se pune devidamente quem publica livros derrotistas, ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... não se modificam leis tornando-as repressoras a bem da salvação nacional, pois é desta que se trata neste momento tão grave, fazem-se manifestações públicas estudantis ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... precisamente nesta data, na presença de alguns milhares de estrangeiros que actualmente se encontram entre nós, ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... manifestações a pretexto de se querer comemorar uma data de carácter muito duvidoso, e não se vê uma reacção violenta e salutar da grande maioria estudantil, que, graças a Deus, tão bem tem vinculado o amor pátrio, contra uma minoria organizada, todos nós sabemos por quem, e, ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... nas quais manifestações nem ora preciso a intervenção da polícia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O seu sentimento pátrio não os faz corar do vergonha?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Que dirão os nossos companheiros de armas, civis e militares, que se batem, se mantêm vigilantes nessas parcelas tão portuguesas como o é a metrópole? Que dirão, repito, destes actos tão nefandos praticados nesta Lisboa, cabeça e cérebro de uma retaguarda que nós queremos, e precisamos, seja muito unida?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Que nos importa, meus senhores, que na ONU reparem, e mesmo, maldosamente, como sempre afinal, critiquem as justas medidas que nós somos obrigados a tomar se em face de todas as justificações e longos discursos tão esclarecedores, quer do nosso ilustre Ministro dos Negócios Estrangeiros, quer dos nossos delegados a essa malfadada Organização, as não convence, e de propósito, lhes não convém serem esclarecidos, permitindo-se, até, a receber e ouvir traidores e impedir que falem lídimos representantes de Goa?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Vivemos horas duras, que só se conseguem viver com a nossa tenacidade e extremo sacrifício, quer em vidas que nos são preciosas, quer em erário nacional, tão necessário para criar riqueza e bem-estar, e é por isso meus senhores que, nós, Portugueses, temos de vive-las abstraindo de egoísmos, interesses individuais e comodidades, labutando e concorrendo para que a vida de todos se tome mais fácil dentro dos condicionamentos que nos são impostos, para que haja menos ricos e menos pobres, pois a deficiência de vida cria mal-estar e, consequentemente, desunião.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pensei intervir no aviso prévio sobro II crise da agricultura, da autoria do nosso ilustre colega engenheiro agrónomo Amaral Neto, permitindo-me falar em nome do consumidor, já que tinham falado o grande e o médio lavrador, suponho, o grande e médio industrial, e ainda, se não me engano, alguns ilustres colegas com profissões liberais.

Aproveito este momento para ligeiramente o fazer.

Assim, para que haja união, é necessário que haja entendimento, e, para que este se verifique, imperioso é que governantes actuem com oportunidade, para o que lhes não faltará veemente apoio, e governados se sacrifiquem um pouco em benefício dos que os servem, e, honradamente trabalhem, bem entendido, pois trabalho eficiente é fonte de riqueza que a todos beneficia, concorrendo assim para o bem-estar de todos.

Publiquem-se leis ou decretos, como queiram, que eliminem radicalmente essa horda de intermediários que na maior parte das vezes nem chegam sequer a ver a mercadoria com que transaccionam e que são verdadeiros criminosos de uma pátria que sangra no sangue de seus filhos que se batem em defesa da sua imortalidade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Concluo, Sr. Presidente e Srs. Deputados, por dizer ser minha convicção, que só poderá haver forte união e perfeito entendimento entre todos os portugueses dignos deste nome, se nos dispusermos a repelir das nossas fileiros quem não merecer sequer pisar uma polegadade terreno que nós pisamos, quer por ideias contra a Pátria, quer, ainda, pela ganância desmedida e criminosa, como seja, por exemplo, que se está agora desvendando com a venda e consequente compra de carnes impróprias para consumo.

Vozes: - Muito bem!