No Norte temos os fios de água do Douro, que por beneficiarem de toda a regularização de montante são dos melhores do País; só a água armazenada em duas albufeiras espanholas, a de Ricobayo, com a capacidade útil de 1100 milhões de metros cúbicos e a de Vilarinha (em construção no Tormes), com a capacidade dê 2340 milhões de metros cúbicos, produzirá nas quedas portuguesas do Douro 1340 milhões de quilowatts-hora.

A realização de quatro aproveitamentos no troço nacional, Atães, Carrapatelo, Régua e Valeira, torna possível a navegação do rio Douro por embarcações de considerável tonelagem, na extensão de 172 km a jusante do Pocinho, desde que se construam as eclusas para a transposição das barragens e se aprofunde ligeiramente o leito do rio em pequenos troços imediatamente a jusante destas. E com o aproveitamento do Pocinho pode fazer-se do rio Douro um eixo fluvial internacional.

As vias navegáveis, por embaratecerem o custo dos transportes e permitirem a deslocação de grandes tonelagens, têm sido e continuarão a ser as espinhas dorsais da industrialização, por isso se estão a desenvolver em vários países grandes planos para as beneficiar.

A navegação fluvial alemã, tendo gasto nos últimos anos apenas 6 por cento dos investimentos totais feitos em estradas, caminhos de ferro e navegação interior, transportou no interior da Alemanha mais de 30 por cento das mercadorias.

A navegação organizada no rio Douro, a cujas incidências, desde as turísticas às de desenvolvimento regional, já se referiu nesta tribuna o nosso ilustre colega Dr. António Rapazote, com todo o brilho e elevação, por baratear o transporte criará viabilidade económica à intensa exploração dos minérios de ferro de Moncorvo, cujas reservas excedem os 500 milhões de toneladas, o que situa este jazigo em plano de importância à escala europeia o até à escala mundial.

O grande obstáculo ao desenvolvimento da exportação deste minério e de vários recur sos da bacia hidrográfica do Douro tem sido o custo do transporte até ao mar, ri ias o aproveitamento, por vir embaratecer o transporte, será decisivo para dar aos minérios de Moncorvo poder de concorrência no mercado europeu, onde só nos cincos países - Alemanha Ocidental, Aústria, França, Inglaterra e Luxemburgo -, se estão a consumir- em cada ano mais de 100 milhões de toneladas de minérios mais pobres em ferro que os de Moncorvo.

Os investimentos necessários ao estabelecimento da navegação organizada são de duas naturezas: uns correspondem à infra-estrutura da via navegável, outros às embarcações.

De entre as várias soluções para as eclusas e embarcações apresentadas pela comissão nomeada para o estudo da navegação do Douro a mais adequada às potencialidades da região, sem gigantismo nem risco de rápida saturação da via fluvial, é a que corresponde a eclusas, de 85 III X12 III e a embarcações que permitam um tráfego descendente anual da ordem dos 2,5 milhões de toneladas de minério de Moncorvo, gusa e concentrado de minério de Vila Cova, finos de hulha, minério de Guadramil, pirites arsenicais de Jales e Ervedosa e carvão do Pejão; isto sem considerar muitas outras actividades que seriam beneficiadas, como, por exemplo, os mármores e alabastros de Vimioso, as pedreiras de lousa de Foz Côa, os produtos florestais da região, produtos hortícolas e frutícolas, etc.

O Sr. Augusto José Machado: - Mas, em virtude de estudos que alguns técnicos tem feito, a curto prazo seria excedido esse tráfego. Certamente V. Exa. tem conhecimento disso...

O Sr. Sousa Birne: - Entre os dois métodos, o de flutuação e o de separação magnética, o que me parece que é bastante melhor é o da flutuação.

O Orador: - Tenho aqui os dados sobre os resultados a que chegaram na Alemanha os ensaios. E dizem eles: "Com a grelhagem magnética obteve-se um concentrado com um teor de ferro da ordem dos 65 a 67 por cento; pela flutuação, um concentrado com um teor de ferro de 62 a 64 por cento".

O Sr. Sousa Birne: - O método da flutuação é muito mais económico que o outro e permite maior rendimento. Daí a sua maior importância.

O Orador: - No estudo económico global desta variante a referida comissão de estudo considerou:

Contos

Eclusas: para vencer os desníveis de

11 m em Atães, 36 m em Carrapatelo,

Parcela do custo do aproveitamento de Atães atribuível nesse estudo á navegação ........................ 70 000

No quadro VI indicamos os custos prováveis para o transporte por via fluvial supondo a remuneração do capital acima indicado à taxa de 3 por cento para a infra-estrutura (visto tratar-se de uma obra de fomento), a amortização das embarcações em 20 anos e da infra-estrutura da via navegável em 40 anos, supondo ainda a capitalização das anuidades para reintegração do capital à taxa de 3 por cento e a remuneração do capital investido nas embarcações e meios de ligação Douro-Leixões à taxa de 6 por cento.