O Orador: - ...que deu a Portugal nessa ocasião a honra de falar em português o, maior honra ainda, de chamar a Braga a Arquidiocese Primaz das Espanhas, pondo assim fim a um velho litígio que entre Braga e Toledo vinha de séculos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: todos nós esperamos que as comemorações que se vão realizar em Junho não vão desmerecer, de maneira nenhuma, daquelas de que o Sameiro tem sido teatro e esperamos que do novo o papa esteja presente na pessoa de um seu legado. E esperamos mais que a Nação Portuguesa, nesta hora em que, tanto como empunhar as armas, precisa de erguer as suas mãos ao céu, se faça ali representar de uma maneira viva e expressiva.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

que minha mãe me segurava as mãos perante a Senhora, ensinando-me a rezar. Esta saudade só a possui, só a sabe sentir, o coração de um órfão.

Meus senhores: a Nação Portuguesa está no momento que passa atravessando sem dúvida uma hora em que podemos dizer que todas as forças infernais se têm desencadeado contra ela. Sabemos que uma conspiração internacional pretende vergar o velho lusitano e sabemos também que o Governo, nesse ponto fiel intérprete dos sentimentos da Nação, não cede nenhum milímetro no caminho que está indicado e em que tem de continuar até ao fim.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Meus senhores: quando os soldados lutam, quando os exércitos estão em guerra, é dever dos que estão na retaguarda, só na verdade têm crença, implorar para eles a protecção dos céus, o auxílio do deus dos exércitos. Nesta hora em que o próprio papa desce da sua cátedra para ficar mais perto daqueles que disputam a sua justa e incontestável primazia, nós, ao saudarmos a Senhora, temos de ter na mente que Ela saudou o Seu Filho, como o que tinha vindo à Terra para derrubar os poderosos e exaltar os humildes. Pois que os poderosos abandonem as suas torres de marfim, se derrubem a si próprios o exaltem os humildes, erguendo-os até si. Nesta hora em que tudo se faz para que a mensagem cristã vá a toda a parte, seja o nosso voto, o meu voto, um único: que a Nação inteira vá, como foi há 10, 50, 60 e 80 anos, ao monte do Sameiro e, com o legado do papa e o representante da Nação à frente, vá dizer à Senhora que nós queremos continuar a fazer cristandade, para que assim Ela não nos falte com a sua protecção.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Continua a discussão sobre as Contas Gerais do Estado e da Junta do Crédito Público relativas ao ano de 1962.

Tem a palavra o Sr. Deputado Nunes Barata.

O Sr. Nunes Barata: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: desejaria que as minhas modestas palavras constituíssem um apelo a favor da industrialização de Angola.

A ideia não é nova. Tão-pouco tenho a pretensão de trazer a público um contributo pessoal, baseado em elementos inéditos.

Continuo, contudo, convencido de que esta tribuna é o local mais adequado para relembrar à consciência das forças vivas nacionais esta questão essencial: a batalha pelo progresso do maior e mais portentoso de entre os territórios que constituem a Pátria Portuguesa.

Já noutra oportunidade referi a natureza de territórios novos das províncias portuguesas de África, o que significa revelarem os mesmos, no plano económico, as seguintes fragilidades: predomínio geral da agricultura, uma ou outra vez acompanhada de algum relevo no sector terciário, mas quase sempre também de uma industrialização incipiente; baixo rendimento por habitante, em consequência destas características estruturais, agravadas, aliás, com uma fraca produtividade na agricultura, reduzida taxa de formação do capital, quando encarados os conjuntos territoriais e suas potencialidades, com ausência de um adequado sistema bancário que apoie a sua distribuição e, por vezes, com uma deficiente orientação nos investimentos; coexistência das economias de subsistência e de mercado, afectada esta última pelo reduzido povoamento; forte influência externa - mercadorias e serviços - na economia local, situação agravada pela preponderância de uma dúzia de produtos de exportação, produtos cuja sensibilidade é, de resto, tradicional nos mercados mundiais.

Fixemo-nos precisamente no comércio externo. Treze produtos de exportação representaram, em 1962, mais de 87 por cento do valor total das exportações de Angola. Desse conjunto, 59,2 por cento foram obtidos à custa de cinco produtos agrícolas (café, sisal, milho, crueira e algodão); 18,8 por cento provieram dos diamantes, minérios de ferro e petróleo (indústrias extractivas); 4,3 por cento das indústrias derivadas da pesca (farinha de peixe e peixe seco), e só 3,8 por cento das indústrias transformadoras de produtos agrícolas (açúcar e óleo de palma) Mais: nos produtos agrícolas a preponderância do café (41,8 por cento) dá a Angola uma posição entre as economias que assentam na monocultura.

Quanto às importações, embora a concentração não seja tão notável, os tecidos em peça e em obra (12,2 por cento do valor total das importações em 1962), as bebidas (8,3 por cento), os veículos automóveis (7 por cento) e o ferro em obra (4,3 por cento) têm ocupado