Santa Luzia e os ilhéus, que também são património nacional!

Não sei se foi acaso, se propósito. Sei que fiquei possuindo um esplêndido mapa de Cabo Verde, e é com muito agrado que felicito a Junta de Investigações do Ultramar pela primorosa edição de que uma alma bem humorada quis ter a gentileza de me oferecer um exemplar, e cuja falta há tanto tempo se fazia sentir.

A T. A. P. continua convencida de que Cabo Verde desapareceu, efectivamente, do mapa. Estamos a mais de um mês depois do meu apelo, há pouco secundado pelo meu ilustre colega Francisco Martins, e nada foi ainda resolvido acerca da premente necessidade então exposta, que considero de interesse nacional e cuja satisfação prática não oferece dificuldades de ordem técnica, na palavra autorizada do Sr. Tenente-Coronel Vaz Nunes.

Segundo informações, vai-se restabelecer o Voo da Amizade: como nunca perco a fé, esperemos que, sem prejuízo da solução nacional que se impõe, o facto se concretize o mais breve possível, mas em condições de poder servir Cabo Verde, sem amesquinhar a sua gente, incluindo-a numa permanente lista de espera, cujos inconvenientes são de uma tal evidência que não vale a pena insistir na sua demonstração. Para evitar este estado de coisas, bastaria reservar quatro ou cinco lugares para a escala do Sal, quer na ida, quer no regresso, garantindo-se a sua utilização pelo telégrafo e em tempo oportuno, de forma a evitar que tais reservas fiquem por ocupar. Suponho que assim ficarão assegurados os interesses comerciais da empresa exploradora e os dos passageiros de Cabo Verde. Há passageiros do Sal para Lisboa ou de Lisboa para o Sal? Esses ocuparão os lugares reservados. Não há? A empresa disporá dos lugares como lhe aprouver.

Obrigar a gente das ilhas a uma permanência inglória no Sal ou a ir ao aeroporto de Lisboa às 4 horas da manhã, depois de largar o hotel, para não conseguir o almejado lugar, é que não está certo.

Não obstante este e tantos É preciso tirar delas resultados. De contrário, tudo redundará em pura perda e continuaremos a ler nos doutos pareceres das Contas Gerais do Estado que já é tempo de uma viragem nas condições económicas e financeiras de Cabo Verde, porque se têm investido na província quantias muito elevadas, na relatividade do meio.

Tem razão o ilustre relator, mas razão apenas na medida em que argumenta com números absolutos. Aliás, ele próprio, insistindo na necessidade de se fazer um estudo cuidadoso da orientação dada aos investimentos e dos seus resultados económicos, de modo a encontrar soluções adequadas à economia provincial (p. 46), parece sentir que a "frieza" dos números, só por si, não consente conclusões definitivas.

Ora, não há dúvida de que se empregou muito dinheiro em Cabo Verde. Todavia, o que acontece é que, realizadas as obras, ou não se promove a sua reprodução, ou ficam aguardando o necessário complemento para a sua rentabilidade, sendo certo que alguns empreendimentos, lançados com todo o entusiasmo, ou não têm continuidade em ritmo apropriado, ou são abandonados, depois de grandes despesas, tornando-se inúteis.

Há como que paragens, além da falta de persistência, a tomar fôlego para novas arrancadas!

Construímos o cais acostável de S. Vicente, mas não o apetrechamos convenientemente. Vamos fazendo isso aos poucos, com uma demora que só serve para criar o descrédito, afastando a navegação, que não se afoita nem a demandar nem a acostar num dos melhores portos do Atlântico.

Por outro lado, anunciou-se pública e oficialmente a instalação de uma refinaria na ilha, mas a promessa continua no rol dos projectos esquecidos, já lá vão mais de três anos, quando é certo que seria uma indústria rentável, capaz não só de produzir resultados compensadores, como de resolver o problema importantíssimo do fornecimento de água à navegação e às populações, por meio . da dessalinização da do mar, evitando-se assim o seu tra ao carreamento da produção do interior das ilhas pelas estradas, mas deixamo-la esbarrar, para o seu escoamento para fora da província, com portos impraticáveis. Na Praia, o embarque de mercadorias faz-se em condições tão precárias que, não raras vezes, vai a carga ao mar, com prejuízos que não são pequenos e que as companhias de seguros começam a não cobrir.

No que se refere ao Fogo, creio que seria impertinência referir o que já aqui disse acerca da forma como aportamos à ilha, tanto mais que o próprio Sr. Marechal Craveiro Lopes, ex-Presidente da República, e o antigo Ministro Sr. Prof. Doutor Adriano Moreira, podem confirmar os alegados perigos e incómodos, que, de resto, o ilustre actual titular da pasta do Ultramar, Sr. Comandante Peixoto Correia, bem conhece e experimentou quando governador daquelas nossas ilhas.

Sob este aspecto da complementaridade das obras, poderia citar outros factores, que impedem o seu rendimento, mas há que focar ainda a forma de aplicação dos investimentos.

Não creio que o mecanismo ou a estruturação burocrática dos dispêndios corra da melhor maneira. Com efeito,