, constitui um acréscimo escusado a reflectir-se nas contas públicas, em aumento de despesas de que não podem tirar-se resultados correspondentes.
E quanto a técnicos, há uma pergunta que ocorre e que todos formulam: não haverá técnicos a mais em Cabo Verde, em prejuízo dos investimentos ou em prejuízo da materialização das obras?
É de notar que uma grande parte desses investimentos destina-se aos técnicos. Que fica para a mão-de-obra e para os materiais?
Eis um factor a ponderar.
Claro que não pretendo a realização de obras sem planos técnicos e sem a orientação e fiscalização especializadas.
Contudo - est modus in rebus - , parece que as coisas transcendem os limites desejáveis, e o povo, na sua velha sabedoria, já trata todo o funcionário que desembarca por "Sr. Engenheiro ...".
Em Coimbra, Sr. Presidente, todos somos "Sr. Doutor"; em Cabo Verde, cada um de nós é para o caixeiro, para o engraxador, ou para o catraeiro, o "Sr. Engenheiro". Isto define um estado de alma, se não uma ironia a dar significado ao desusado número de técnicos que nos últimos anos têm entrado na província.
Ora, admito e aceito que seja de certo modo justificável essa avalancha de técnicos que nos transformou a todos em confundidos engenheiros. Mas admito-a para o início dos empreendimentos, para lhes dar o impulso necessário. Uma vez, porém, montada a máquina técnica, uma vez em funcionamento o sistema técnico, há que reduzir o número de especializados, de forma a estabelecer o justo equilíbrio em face das realidades e possibilidades que se oferecem, para não estarmos a esbanjar dinheiros numa ostentação técnica que não compensa.
Técnicos? Sem dúvida que sim! Mas em número e qualidade impostos pelas realizações em curso e sempre - mas sempre - tendo em vista que os investimentos não podem ser absorvidos pelos técnicos e que a acção destes é necessàriamente limitada pelas disponibilidades existentes.
De outra forma continuaremos com obras por completar e, portanto, sem os resultados desejáveis.
De resto, enquanto técnicos de todas as categorias e especialidades ocupavam as várias brigadas que se deslocaram à província, os serviços normais de obras públicas, por exemplo, quase sempre com um único engenheiro e um reduzidíssimo quadro de auxiliares, produziram no arquipélago obras que ficam a atestar uma actividade notável e que bem merece da gente de Cabo Verde. Com esses elementos tão reduzidos, construíram-se edifícios públicos, como o Palácio da Justiça e o edifício para o Liceu da Praia, casas para funcionários, edifícios escolares e muitas outras obras de vulto, sem necessidade de espaventosos quadros técnicos, supridos pelo chefe dos serviços, Eng.º Tito Esteves, e seus colaboradores do quadro próprio, nem sempre totalmente preenchido, como disse, e, pior do que isso, a ganharem menos que os funcionários das brigadas.
Aliás, as obras públicas de Cabo Verde, sob a chefia do Eng.º Tito Esteves - digam o que disserem - , produziram de forma a merecer encómios e reconhecimento. Obras caras? Mas estão lá. Com defeitos? Sem dúvida ...
A perfeição não é apanágio dos homens, mas houve um saldo positivo palpável e, em Cabo Verde, quando isso acontece, é de se agradecer e aproveitar a lição.
Esta realidade convence-me da necessidade de rever o assunto do número de técnicos indispensáveis, e nesse sentido se está actuando em Cabo Verde.
Esperemos que em consequência, o material e a mão-de-obra tenham maior primazia na aplicação dos dinheiros investidos, para que se avance mais depressa e mais cedo se colham resultados.
No que respeita ao desenvolvimento económico de Cabo Verde, está assente que a agricultura não pode satisfazer só por si as necessidades do arquipélago. A agricultura é em Cabo Verde não a arte de empobrecer alegremente, como vulgarmente se diz, mas a de empobrecer ainda mais e bem tristemente. As condições do clima, por de mais conhecidas, não favorecem, e as estiagens são um flagelo que não vale a pena desenvolver como tema, tão dolorosos e repetidos têm sido os seus efeitos nas ilhas que se tornaram lugar-comum a estigmatizá-las como arquipélago da fome.
Há, portanto, que industrializar as ilhas, aproveitando no máximo tudo o que a Natureza, tão pouco pródiga para elas, se não lembrou de lhes tirar e até a sua situação geográfica, para a industrialização de outros produtos, que, não sendo próprios, podem ser ali explorados em condições de rentabilidade, como seja o descasque da castanha de caju. além da tão desejada refinaria e outros.
O Sr. Eng.º Araújo Correia preconiza como um dos caminhos para essa industrialização a pesca e seus derivados.
Eis, Sr. Presidente, uma riqueza que inexplicavelmente temos descurado e de que até os Japoneses, vindos lá do longínquo Japão, se têm aproveitado.
Parece que vamos despertar desta letargia.
Duas grandes empresas - grandes em qualquer todos - dizia-me há dias um técnico alemão - , chega para as duas empresas e até chega para terceiro concorrente que queira e se disponha a colher a