aquele concelho, mas também o de Góis e de Oleiros. O seu hospital está pràticamente concluído e parece-me que bem merece que não deixemos perder quanto ali investimos e em cuja construção a sua pobre Misericórdia gastou todas as suas economias.

O Sr. Nunes Barata: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Nunes Barata: - Quero agradecer a V. Ex.ª, em nome das populações da serra, o ter chamado as atenções do Governo para tão lamentável situação.

Estou convencido de que, se o Ministério da Saúde e Assistência analisar cuidadosamente o processo que levou à situação actual e à recusa do subsídio prometido, o assunto será resolvido a contento de todos e com prestígio para a Administração.

O Orador: - Estou convencido de que, uma vez revisto o processo, não haverá coragem para negar um subsídio que permitirá pôr em funcionamento esse hospital, que está pràticamente concluído.

Com este problema dos hospitais, do seu funcionamento e do seu rendimento se prendem muitos outros. Entre eles avulta o da manifesta falta de médicos; o da sua má distribuição no País; o da remuneração do seu trabalho; o da sua pr0eparação pós-escolar, e o da escassíssima afluência às Faculdades de Medicina. É um conjunto de problemas que não posso analisar hoje por falta de tempo, mas que requer uma intervenção na primeira oportunidade.

Ainda não há muitos anos que o conselho geral da Ordem dos Médicos teve a honra de ser recebido por S. Ex.ª o Presidente do Conselho, a quem expôs muitos aspectos deste complexo feixe de problemas.

Em artigos recentes, de comentários a um relatório da Organização Mundial de Saúde, um médico muito distinto tem analisado a nossa carência glob al de médicos, a sua má distribuição territorial e a penúria das nossas licenciaturas anuais em Medicina. E não só isso, mas também o ridículo ritmo da especialização médica em Portugal.

Ali se afirmou que nem temos estudantes de Medicina, nem médicos, nem professores! Nos últimos dez anos - disse-o o reitor da Universidade de Lisboa -, enquanto a frequência das Faculdades de Direito e de Letras subiu 100 e 150 por cento, a da Faculdade de Medicina baixou 10 por cento!

E quanto a professores, há 40 por cento de vagas no ensino superior - afirmou-se em parecer da Câmara Corporativa (13/VIII).

A Ordem dos Médicos, no seu relatório sobre as carreiras médicas, apontou deficiências e propôs os remédios. Esperemos que esse trabalho seja objecto de análise por parte do Governo e que a comissão destinada a resolver sobre a sua aplicação seja chamada a exercer a actividade que lhe compete.

No que respeita ao ensino, à duração do curso, às matérias ensinadas, ao número de horas de aula, etc., muito há que fazer. Carecemos de um curso médico mais curto, com melhor sentido prático, sem perder tempo com repetições que se não justificam ou a ensinar coisas que de nada servem, com prejuízo de outras que são essenciais.

Um ilustre catedrático de Medicina disse, ainda há pouco, em discurso pronunciado na Academia das Ciências de Lisboa:

Não se ensina medicina humana, mas simples biologia humana - não se cuida de habilitar o homem a tratar com outro homem que sofre, mas cuida-se sòmente da doença de que se sofre, que algumas vezes, no contexto geral, é a parte mínima.

São do mesmo discurso estas afirmações:

O curso de Medicina terá de ser profundamente modificado: em primeiro lugar, encurtado. A sua finalidade é mais do que nunca essencialmente formativa; para além dele, deve continuar o estudo, o aperfeiçoamento, numa palavra: a verdadeira informação.

A medicina social, que tem sido letra morta no nosso ensino módico de índole eminentemente curativa, tem de tomar o seu lugar entre as matérias que devem constituir a formação básica do futuro médico.

Quanto à escolaridade, ela é "simplesmente ridícula".

Sr. Presidente: servi-me deste relatório das Contas Gerais do Estado para fazer algumas considerações sobre um vasto problema de que dependem, em grande parte, a saúde dos Portugueses e a prosperidade da Nação. Quis cingir-me exclusivamente à minha zona e a alguns dos seus aspectos; mas, insensivelmente, abordei certos aspectos de ordem nacional que respeitam ao problema hospitalar. Na execução do vasto programa das construções e equipamento hospitalar já vão gastas somas astronómicas e dói-nos a alma que algum dinheiro gasto nesses investimentos não tenha o rendimento social que devia ter só porque há um lamentável desfasamento entre as construções, as adaptações, o equipamento, a dotação de pessoal, as previsões, etc.

O caminho já andado, as anomalias observadas, a incoordenação verificada, parecem-me justificar uma revisão profunda da nossa política a tal respeito, atingindo os vários sectores que influenciam este complicado problema dos nossos hospitais.

A juventude, o entusiasmo, a fé e outros recursos especiais do novo Ministro da Saúde e Assistência, a sua declaração de que se pode trabalhar apaixonadamente neste Ministério e a consciência de que pode dar um contributo válido ao encaminhamento deste e de outros problemas em curso são razões para olharmos com confiança o futuro dos hospitais portugueses e muitas das soluções que aguardam há tanto tantos problemas da saúde pública.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.