um motivo de desalento, e, para as nossas esperanças, mais um revés.

Saibamos estar à altura do repto que nos lançaram, e não desdenhemos dos favores da Natureza, que prodigalizou connnosco potencialidades inexauríveis. Efectivamente, estendem-se de norte a sul daquela província centenas de milhares de hectares de terras excepcionalmente aptas para a plantação da cana - como o demonstra a atrabiliária e rudimentar cultura nativa -, as quais se acham abandonadas, em estado de baldio.

Cometeremos um delito de omissão económica se continuarmos a deixá-las em sua selvática braveza, delito esse que é, na ordem temporal, tão grave como o daquele quê, na alegoria do Evangelho, esconde a lucerna debaixo do alqueire. Os tempos não admitem a nossa passividade perante a bandeja de certezas económicas que Moçambique nos oferece. Dilatar por mais tempo o aproveitamento de tão vastos recursos será uma indignidade e todos os que para ela contribuem réus de crime de lesa-Nação. A este respeito, Srs. Deputados, confesso: às vezes penso que somos um país pobre porque queremos. E que, como eu, o comum das gentes pergunta, atónito, como é possível a um senhor de tantos e tamanhos bens deixá-los inaproveitados. Seremos acaso a reencarnação dos fidalgos da Casa Mourisca, que trocaram por estéreis prejuízos de prosápia e larga rotina de hábitos a energia fecundante da vontade e a adaptação à dinâmica da vida que não pára?

Persiste em muito boa gente a convicção de que a arrancada económica do País não se compadece com extensos planeamentos, com exuberantes pareceres e com as solenidades de importantes colégios de estudiosos e muito menos com os escrúpulos doentios de uma burocracia que, para concluir, parece desejar o absurdo, isto é, ver primeiro germinadas as coisas que se projectam. Se assim tivessem sido os nossos maiores, não teríamos certamente passado do cabo Espichel, quanto mais do cabo das Tormentas! É necessário, sim, conceber, delinear, meditar e estudar com calma, mas, tanto como isso, é preciso realizar com fé e agir com rapidez. Não andemos nós, com mira na obtenção de um óptimo hipotético, a perder o bem que está ao nosso alcance.

Moçambique está atenta, Sr. Presidente, e confia. A firmeza de atitude do Sr. Presidente do Conselho, enfrentando os tais "ventos da história", e o não menos firme apoio do País à sua decisão, provocaram um ambiente internacional favorável aos investimentos produtores no nosso ultramar. A economia europeia, em plena expansão, vê mais segurança para os seus capitais nos territórios firmemente sob a paz portuguesa do que nos novos Estados negros de África, inseguros, instáveis, resvalando para o caos.

Aos homens e aos países que reagem com virilidade e rapidez, a fortuna oferece-lhes sempre uma saída para as suas dificuldades!

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão.

O debate continuará amanhã sobre a mesma ordem do dia.

Está encerrada a sessão.

Eram 19 horas e 20 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Alberto Pacheco Jorge.

Alberto dos Reis Faria.

Albino Soares Pinto dos Reis Júnior.

Aníbal Rodrigues Dias Correia.

António Burity da Silva.

António Calheiros Lopes.

Armando Francisco Coelho Sampaio.

Belchior Cardoso da Costa.

D. Custódia Lopes.

João Nuno Pimenta Serras e Silva Pereira.

Joaquim de Sousa Birne.

Jorge Augusto Correia.

Jorge de Melo Gamboa de Vasconcelos.

José Dias de Araújo Correia.

José Luís Vaz Nunes.

Júlio Alberto da Costa Evangelista.

Manuel Nunes Fernandes.

Manuel de Sousa Rosal Júnior.

D. Maria Irene Leite da Costa.

D. Maria Margarida Craveiro Lopes dos Reis.

Olívio da Costa Carvalho.

Ulisses Cruz de Aguiar Cortês.

Virgílio David Pereira e Cruz.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Agostinho Gabriel de Jesus Cardoso.

Agostinho Gonçalves Gomes.

Alberto Henriques de Araújo.

António de Castro e Brito Meneses Soares.

António Tomás Prisónio Furtado.

José Fernando Nunes Barata.

José Guilherme de Melo e Castro.

José Pinto Carneiro.

José dos Santos Bessa.

Manuel Colares Pereira.

Purxotoma Ramanata Quenin.

Urgel Abílio Horta.

Vítor Manuel Dias Barros.

Voicunta Srinivassa Sinai Dempó.