Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Évora foi grande. Atesta-o a história. E a sua grandeza não ficou confinada aos limites espacialmente reduzidos do território continental, chegou aos vastos domínios ultramarinos e, podemos afirmá-lo, ao Mundo inteiro. Esta projecção deve-a à sua Universidade, facho que D. Henrique acendeu um dia no céu de Portugal e que durante dois séculos atraiu os olhares dos estudiosos. Mestres insignes de Teologia e Escritura formaram numerosos alunos e difundiram o seu saber em livros ainda hoje apreciados. Mas, numa hora fatídica para o Alentejo, para a Pátria e para a cultura, a luz que irradiava de Évora deixou de irradiar, o facho apagou-se: tinham-se cerrado as portas da Universidade.

Profundo letargo...

Passaram 200 anos.

No Outono de 1959 celebrava-se na capital alentejana o 4.º centenário da fundação da sua Universidade.

Está ainda na memória de todos a repercussão internacional atingida pelas comemorações centenárias da Universidade eborense. Todo o mundo culto se associou àquelas cerimónias, representado pela mais brilhante e digna embaixada de eminentes filósofos e humanistas que jamais havia transposto as portas seculares do velho burgo alentejano.

Na era de materialismo em que vivemos, Évora experimentou, naqueles dias históricos, momentos do mais elevado espiritualismo e recordou, saudosamente, o período áureo da sua qualidade de grande centro de irradiação cultural, espraiando salutares ensinamentos pelas cinco partes da Terra. Vibrou de emoção ao avivar-se em sua consciência a noção de quanto andou sempre ligada à expansão da lusitanidade e soube reafirmar, no calor com que acolheu tão ilustres visitantes, que hoje, como outrora, pretende lugar de primazia na magna tarefa da organização de uma humanidade mais justa, mais esclarecida, para segura construção de um mundo melhor.

O Governo soube compreender os seus anseios, que são afinal os de todos nós, e se a honrosíssima presença de S. Ex.ª o Chefe do Estado, na sessão solene de encerramento daquelas comemorações, constituiu então prometedora esperança, o grande acontecimento que hoje assinalamos é passo decisivo no caminho do progresso e glória de Portugal.

Os factos resumidamente relatados despertaram - direi que despertaram mais uma vez - a benemerência de dois ilustres portugueses, que são Vasco Maria Eugénio de Almeida e sua esposa.

Com magnanimidade foi criada e dotada a Fundação de Eugénio de Almeida, que, além de outros fins estatutários, determina no seu artigo 4.º, alínea c), "auxiliar a criação e manutenção de um Instituto de Estudos Superiores, orientado pela Companhia de Jesus, de acordo com as tradições universitárias da cidade de Évora".

À generosidade dos titulares da Fundação correspondeu a Companhia de Jesus com a elaboração de um programa de estudos perfeitamente ajustados aos nossos tempos. No programa, superiormente apresentado, referem-se as matérias que serão objecto dos cursos, das quais destacarei, além de outras: Política Económica, Previdência Social, Organização de Empresas, Direito Comercial, Fiscal e Corporativo, Matemáticas e Álgebra Financeira, Empresa Rural e Trabalho Agrícola, Técnica Rural, isto no curso de Economia, pois que no curso social, além de cadeiras comuns, destacarei: Sociologia Industrial e Rural, cadeiras da maior actualidade na minha região.

Limitei-me, Sr. Presidente e Srs. Deputados, a ligeiríssimas notas, as únicas possíveis no limitado âmbito desta minha intervenção.

Os programas apresentados mereceram um parecer, douto parecer, da ilustríssima secção do ensino superior, da Junta Nacional da Educação. Dele referirei algumas passagens que julgo mais pertinentes:

A localização em Évora é justificada pela profunda remodelação económica que, diz-se, está prevista para a vida alentejana.

Sobre a entidade que solicitou a criação dos Estudos afirma-se:

É já longa a tradição da invulgar idoneidade da instituição impetrante no sector da cultura científica e também no da actividade didáctica. Tanto basta para esperar que, como orientadora do Instituto, mais uma vez confirme o seu prestígio e imponha à consideração geral os futuros educandos. Para estes, é bem de prever, bastará a invocação da qualidade de diplomados pelo Instituto para atestarem a alta qualidade da sua formação escolar.

Igualmente a Inspecção Superior do Ensino Particular disse:

Julgo que pode ser autorizada a criação, dentro do quadro dos estabelecimentos de ensino particular, de um Instituto Económico e Social em Évora destinado à formação de dirigentes de empresa. O apoio financeiro da Fundação de Eugénio de Almeida, além de constituir um contributo permanente para a manutenção do referido Instituto, deve permitir que sejam satisfeitas todas as condições exigidas para a sua conveniente instalação e apetrechamento. A entidade que se propõe orientá-lo - a Companhia de Jesus - é, na minha opinião, inteiramente idónea.

As palavras que acabo de referir são honrosas; muito mais que isso, obrigam!

É óbvio que o Governo da Nação, com a aprovação do restauro dos Estudos Superiores de Évora, não pode, e creio não o fará, manter-se na posição de simples espectador.

Além das fórmulas legais que imporá, dos preceitos que desejará ver cumpridos, terá de prestar colaboração mais efectiva e eficiente.

Deseja-se que crie estudos de veterinária e agronomia e, para já, que pela pasta das Obras Públicas sejam encarados os problemas de instalações, para o que, desta tribuna, convido o ilustre Ministro Arantes e Oliveira a ir à nossa casa, comer do nosso pão, beber da nossa água e ouvir as nossas falas.