Parece pois estar em vias de efectivação a indústria que a Comissão de Contas crê; e com razão, constituirá pilar forte em que vai assentar um possível e substancial desenvolvimento, económico da província.

Mas essa fonte de riqueza será ou não de dimensões muito apreciáveis, conforme o plano de exploração que fora adoptado, que terá de ser orientado no sentido do aproveitamento maciço da mão-de-obra local e de serem devidamente acautelados os interesses da província.

Reservo-me para futura apreciação, tendo em conta o que for superiormente definido.

Outro recurso potencial de que em Cabo Verde se fala constantemente, com a esperança de que seja realidade num prazo relativamente curto, mas que infalivelmente terá de ser longo, é o turismo.

Seria fora de propósito abordar o assunto neste momento, visto que esta Assembleia há poucos dias dele tratou com uma exaustiva e brilhante apreciação sob todos os aspectos em que esse problema possa ser encarado:

Por isso poucas palavras direi sobre o turismo no arquipélago como fonte potencial de riqueza.

Hoje, além das condições naturais que na província abundam, não pode ela ter ambições no sentido de possuir uma verdadeira indústria turística, porque lhe faltam estradas, hotéis, pensões, restaurantes, moradias isoladas, aldeamentos simples, mas confortáveis, parques de campismo, praias, com instalações próprias e luz, água encanada, esgotos, etc. Por isso apenas, me limito a dar a conhecer a opinião expressa no arquipélago pelo Dr. Cornelius Greenway Rafferty, graduado pelas Universidades de Notre Dame, (Estados Unidos da América), Salamanca, Sevilha e Cambridge, quando em 1961 visitou S. Vicente vindo de Las Palmas, aonde fora a um concurso internacional de turismo, e que me parece dever ser anotada. Disse ele: Estar maravilhado com as condições locais para turismo;

b) Ter apreciado a calma e a paz locais;

c) Que vinha de uma missão de estudos a Las Palmas relacionada com o turismo, mas que depois de ver S. Vicente era de opinião de que esta ilha oferecia melhores condições que Las Palmas para aqueles milhares de americanos que andam à busca de uma estância de repouso, já cansados de visitas aos locais habituais, desejosos de mudar temporariamente das suas residências para estâncias de serenidade e paz como esta, onde nem o frio nem o movimento turbulento dos grandes meios os incomodam;

d) Que iria contactar com as autoridades portuguesas para a hipótese de serem permitidos investimentos em terrenos e construção de moradias isoladas e um hotel:

Este é um exemplo concreto entre muitos.

Os franceses de caça submarina ficaram encantados com as possibilidades das ilhas e um especialista deste ramo de turismo, que os acompanhava, disse que, feita boa propaganda e depois de construídas as instalações necessárias mínimas, Cabo Verde se encheria de caçadores submarinos e os respectivos acompanhantes. Que o arquipélago era um verdadeiro paraíso para os caçadores submarinos.

(transcrito da p. 19 da mensagem entregue ao Ministro do Ultramar pelas forças vivas da cidade do Mindelo).

Estranho que pouco ou nada se tenha interessado a Administração, no sentido de serem melhoradas as condições de saneamento da cidade do Mindelo (a mais populosa do arquipélago) e até de outros burgos.

Nos planos de fomento referentes a S. Tomé, Macau e Timor, dotações especiais se destinam ao saneamento urbano. Impõe-se que em Cabo Verde outro tanto suceda. Confiadamente espera a população que c Governo promova a inscrição no seu plano de fomento de verbas suficientes para esse fim.

E nada mais tenho a dizer sobre turismo como fonte de riqueza.

Ainda quanto a indústrias: refere-se o parecer às pozolanas, derivados do sal e até industrialização de alguns produtos agrícolas susceptíveis de auxiliar a balança do comércio.

Porém, se nos reportarmos ao mapa publicado no relatório de contas de gerência e exercício das províncias ultramarinas do ano de 1962, e em que se dá a conhecer o quantitativo da exportação das principais mercadorias, verifica-se que não é nada animador o que se passa quanto a essa exportação.

Um pequeno quadro confirmará o que acabo de afirmar:

Exportação das principais mercadorias

A industrialização de alguns produtos agrícolas, suponho, devido a vários motivos já expostos nas minhas anteriores intervenções, que não será, pelo menos nos tempos mais próximos, factor com que possamos contar, dado que a terra não possui matéria-prima bastante para a industrialização.

Outro produto de que já se perdeu memória em Cabo Verde, pelo menos do ponto de vista económico, e que importa repor em condições de voltar a contribuir como outrora decisivamente para a economia da província, é o algodão.

Sob o ponto de vista de interesse económico da produção de algodão em territórios nacionais serão desnecessárias quaisquer considerações.

Um problema que se poderia levantar é o da sua adaptabilidade às condições climáticas do arquipélago, mas a isso a história económica da província responde positivamente, pois desde os primórdios da ocupação o algodão produzido em Cabo Verde constituiu uma das bases da economia daquele território, tão importante q ue um dos nossos reis estabeleceu a pena de morte para quem exportasse ou vendesse aos estrangeiros esse algodão, que alimentou a importante indústria de panos que tiveram ao tempo larga exportação para o continente africano.

Não parece que a concorrência actual das fibras sintéticas conduza à não consideração deste problema.

A organização económica da província