Mas é a própria natureza dessa guerra que não nos garante uma decisão rápida, mesmo que apliquemos um esforço financeiro total na luta armada.

O esforço de guerra que se pede à Nação parece destinado a prolongar-se; e para se sustentar haverá que baseá-lo num conveniente desenvolvimento económico.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - São, pois, as necessidades das forças armadas que, muito embora retardem o ritmo do progresso económico, acabam por determinar que ele não deve ser impedido.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Repetindo uma ideia que vi algures expressa, direi que a desejável zona de equilíbrio entre o esforço financeiro para a defesa e o esforço financeiro para o fomento se situa no campo das possibilidades de desenvolvimento económico, visto que a estagnação neste sector comprometeria de forma irreversível o esforço militar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - As naturais limitações financeiras e o antagonismo de exigências da defesa e de fomento dificultam bastante as decisões orçamentais.

Temos de manter actualizada uma criteriosa reavaliação das disponibilidades para daí partirmos ao encontro da melhor maneira de se cobrirem os mais amplos limites do essencial. A escala de preferências resultante satisfaz o que for possível, mas os espíritos bem formados não poderão esperar que o Estado dê o que não tem.

Agrade ou não a estranhos - por muito que nos pese -, queremos a sobrevivência de Portugal. Em linguagem de finanças, este nosso querer implica a inflexível estabilidade monetária e financeira, a cobertura de despesas militares com excedentes de receitas ordinárias, o financiamento do progresso da economia com recursos extraordinários, tanto quanto possível de origem interna, e o respeito da prioridade dos encargos com a defesa nacional sem desatender o fomento económico.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se assim é, então devemos possuir uma, noção exacta da gravidade da hora que passa e esperar sacrifícios maiores.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Obedeceremos ao princípio da austeridade, como se impõe.

E saberemos temperar a expressão dos nossos anseios, entre os muitos anseios justos ainda há que distinguir os que podem ser satisfeitos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A execução disciplinada da actividade financeira do Estado ultrapassa a seriedade e exactidão contabilista e a simples obediência a limites de verbas inscritas no Orçamento.

O Sr. Ministro das Finanças nunca perde oportunidades para recomendar que se suprimam gastos de carácter sumptuário e que se utilizem verbas com base num vincado senso de economia. Isto significa, que, nos diferentes escalões hierárquicos da administração pública, deve imperar uma preocupação constante e activa rio sentido da melhoria do rendimento das actividades.

O Sr. Pinto de Mesquita: - Apoiado!

O Orador: - Em muitos casos a eficiência há-de impor, através da simplificação e da coordenação, uma reforma de mentalidades e de estruturas e desafiar velhos hábitos; mas não há outro caminho a seguir. Direi melhor: é este o caminho que temos de seguir.

E já que estou a falar de senso de economia, recordo .linda que o mais firme alicerce dos nossos planos futuros é a capacidade interna de financiamento.

Todos os que podem, mas todos sem excepção, devem preocupar-se em economizar para produzir. A poupança só é louvável desde que seja fonte de investimentos de carácter reprodutivo. Nesse ciclo contínuo de produtividade e poupança, cada qual servirá o seu próprio interesse sem deixar de concorrer para o benefício geral.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Na hora que passa, esbanjamento é crime. Não esqueçamos as palavras de Salazar quando afirmou:

Todos devem convencer-se de que somos bastante pobres para poder gastar mal o que temos.

Sr. Presidente: nos tempos que correm, o culto dos falsos ídolos generaliza a tentação do êxito fácil. Por isso não me espanta que, em plena luta armada contra declarados inimigos da Pátria, haja quem proclame fórmulas geniais onde as soluções vitoriosas dispensam sacrifícios.

Só uma dúvida me fica: é a de saber distinguir, nesses assombrosos mágicos, os traidores e os inconscientes.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A serena percepção dos perigos que nos envolvem não esmorece os espíritos resolutos e dispostos a servir o ideal da Pátria una. Creio, pois, que a vitória estará ao nosso alcance se demonstrarmos firme vontade de vencer.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nesta guerra a luta não é só de soldados, mas de todos os portugueses, em toda a parte e em todos os instantes.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nas retaguardas a melhor arma é o trabalho profícuo e persistente. E também aqui se faz uma guerra, guerra à negligência e à perfídia, essas fontes venenosas de desanimes e de interesses egoístas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Tenhamos confiança na nossa capacidade. Mas não fiquemos à espera de que nos bata à porta o futuro que os nossos inimigos nos querem preparar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!