A campanha continua e a Liga dos Amigos da Guiné conta com o apoio moral e material de todos os bons portugueses que vivem ou viveram na Guiné e daqueles que estão ligados à província por laços económicos para levar a cabo esta grande obra, que outro fim não tem senão ajudar todos aqueles que desejam e não podem melhorar o seu nível intelectual, facilitando assim a formação de elites dentro da nossa mentalidade para se contraporem à activa campanha que os nossos inimigos iniciaram com o aliciamento da juventude guineense com ofertas de bolsas de estudo para cursos superiores, médios e práticos no estrangeiro.

Outro problema que anda ligado às contas públicas, no que respeita à Guiné, pois nelas foi focado, é o problema habitacional. Este magno problema, que tanto na metrópole como em Angola e Moçambique tem merecido grande atenção do Governo, tem igualmente relevância na Guiné. Durante a vigência governativa do almirante Sarmento Rodrigues foi construído o Bairro de Santa Luzia, destinado às classes menos favorecidas de entre os assalariados do Estado. O bairro teve continuidade durante o governo do actual Ministro do Ultramar, que também facilitou a melhoria das condições habitacionais dos nativos, concedendo-lhes chapas de zinco para cobrirem as suas casas. O actual governador da província também tem dispensado a este problema todo o seu interesse e tem entre mãos a construção de um pequeno bairro nos arredores da cidade de Bissau.

Parece-me, no entanto, que o problema deve ser encarado em profundidade, e com auxílio do Governo ou financiamento particular dar-se início a um plano de trabalhos a realizar em meia dúzia de anos e que pudesse melhorar grandemente o problema habitacional junto dos grandes centros para as classes mais débeis.

No que toca à riqueza do subsolo da Guiné nada há de concreto. As prospecções: levadas a cabo pela Esso Exploration para a pesquisa do petróleo nada revelaram e dentro da maior reserva suspendeu os trabalhos e recolheu todo o pessoal.

A N. V. Billiton, que também iniciou a pesquisa da bauxite, também suspendeu os trabalhos, parece que por o minério não ter o teor desejado e as dificuldades de transporte não compensarem as despesas a efectuar. Os resultados obtidos por esta companhia deixam pelo menos a certeza de que existe bauxite na região oriental fronteiriça com a República da Guiné e no Boé.

Aguardemos, pois, que melhores dias surjam e que estas ou outras companhias retomem as pesquisas ultimamente interrompidas.

A industrialização da Guiné deve começar a merecer a atenção das entidades oficiais e das organizações privadas ali radicadas ou de outras que para ali desejem ir trabalhar, passado que seja este período de anormalidade que estamos vivendo. Existem na província algumas indústrias de pequena importância, entre as quais sobressaem as que se destinam ao aproveitamento das essências florestais.

Como verdadeiros complexos industriais existem dois em toda a província, pertencentes respectivamente à Empresa António Silva Gouveia, S. A. R. L., e à Sociedade Comercial Ultramarina, instalações que se podem classificar de bem apetrechadas em qualquer parte e que se destinam ao descasque do arroz, descasque do amendoim e a industrialização deste produto para a obtenção do óleo do mendobi.

Creio, no entanto, ser oportuno o estudo a sério das possibilidades industriais da Guiné, em especial no que respeita à instalação de uma indústria açucareira para o aproveitamento da enorme quantidade de cana sacarina que ali se produz e das condições favoráveis que a província tem para essa cultura, segundo opinião de alguns técnicos.

Outra riqueza que já hoje pesa na balança comercial da Guiné é constituída pela exploração das boas essências florestais que abundam na província, e de que o bissilon é o mais apreciado.

A exportação de madeiras em bruto e serradas ocupou, tanto em tonelagem como em valor, o 3.º lugar no ano em análise.

A borracha da Guiné chegou a ter em tempos recuados muita procura. Mais tarde deixou de ter interesse e só há pouco tempo começou de novo a merecer a atenção dos compradores, em virtude da instalação de uma unidade fabril para o aproveitamento desse produto em Bissau.

Quanto à riqueza pecuária da província, os elementos mais recentes que tive oportunidade de compulsar mostram que em 1961 existiam as seguintes espécies e quantidades:

529 985

Com números tão interessantes e apurados pelos serviços competentes pode-se afirmar que a potencialidade pecuária da Guiné é uma realidade e que vale a pena encarar-se as possibilidades da sua melhoria qualitativa e quantitativa não só para acudir às necessidades locais, como para uma futura tentativa de fornecimento de carnes à metrópole, onde cada vez se sente mais a sua falta.

Outra riqueza em potencial e que não tem sido aproveitada é a pesca.

O crescimento cada vez maior dos núcleos populacionais da província e a presença das forças armadas, que de um momento quase fizeram triplicar a população branca da Guiné, aconselham que se olhe com objectividade o problema dos abastecimentos locais.

Segundo elementos oficiais de que disponho, a quantidade de pescado vendido nos mercados municipais durante o ano de 1961 foi de 658 337 kg, com o valor de 4279 contos.

A potencialidade das riquezas atrás referidas leva-me a aceitar como promissora a formação de uma organização agro-pecuária e industrial que reunisse capitais da metrópole e da Guiné, das grandes empresas e dos pequenos comerciantes, apoiada e financiada pelos Bancos Nacional Ultramarino e de Fomento Nacional, acarinhada pelos Governos Central e Provincial englobando elementos metropolitanos e ultramarinos tanto na constituição do capital como no sector do trabalho.