O problema que se nos põe acima de todos os outros é saber se os responsáveis do País, em face da grave ameaça dirigida contra a sua integridade, interpretaram ou não com autenticidade os verdadeiros e profundos sentimentos do povo e suberam dar-lhes realização.

Estou convencido de que sim, e creio firmemente que o Governo Português, na dolorosa emergência, se identificou inteiramente com o sentir e os anseios de todos nós.

Não podia, com efeito, ser outra a sua conduta, sob pena de irremediável condenação no severo juízo dos Portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É, efectivamente, singular na sua fisionomia geográfica e humana a Pátria Portuguesa, mas nem por isso deixa de ser autêntica na comunidade das suas tradições, na identidade espiritual dos seus anseios, na prossecução de fins e interesses que sito os mesmos e na sua forma peculiar de estar no Mundo e de encarar a vida.

Ora, é isto, na verdade, que acima de tudo aglutina e dignifica um povo e lhe dá o verdadeiro carácter da nacionalidade.

Quando os portugueses deste canto ocidental da Europa se lançaram na epopeia maravilhosa dos Descobrimentos, tiveram como missão especial trazer para o seu convívio as novas gentes, integrando-as na mesma sociedade.

O significado profundo e o exacto alcance da nossa vida ultramarina transcendem realmente os limites de uma brilhante gesta militar para se projectarem, com intenso fulgor, no campo mais vasto e mais belo da dignificação de ignorantes e ignorados povos que fizeram participar do progresso e da civilização, assim os tornando nossos irmãos e membros iguais de uma mesma comunidade, em ampla e aberta fraternidade humana.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Foram esses portugueses, pioneiros humildes e funantes desconhecidos, cuja temeridade e têmpera de rijo carácter ultrapassa o inverosímil, quem edificou com terras e gentes de outros continentes este querido Portugal que é a Pátria de todos nós. Desde o início da nossa arrancada para além do mar iniciaram eles, com efeito, um longo e penoso processo de ocupação, levando aos aborígenes das novas terras o seu modo particular de ser, exercendo neles decisiva influência através de um íntimo e estreito contacto a que a sua vida naturalmente obrigava. Deram-lhes os seus costumes, ofertaram-lhes com entusiasmo a sua fé. modelaram-lhes com carinho uma alma nova, esculpiram-lhes um carácter e incutiram nos seus espíritos simples e ingénuos os melhores sentimentos de amor cristão e o verdadeiro sentido da dignidade e da honra.

Deste modo fizeram surgir e crescer uma comunidade de homens de variadas raças espalhadas pelos continentes do Mundo inteiro, que aglutinaram num forte e irresistível sentimento de solidariedade, dando vida á Pátria Lusíada.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É esta Pátria, edificada com amor sempre renovado através dos séculos, que todos nós sentimos ter de defender como o mais sagrado dos nossos deveres e o mais nobre e disputado dos nossos direitos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O Governo compreendeu que assim era e, sob a égide desse português de eleição que é o Sr. Presidente do Conselho, não teve uma fraqueza, não titubeou um momento, e serenamente, mas com intransigência de quem sabe ser só esse o caminho da verdade e da honra, indiferente a sinistros conluios ou a traiçoeiros ataques, lançou-se decididamente na defesa da terra portuguesa e nela empenhou todos os seus recursos.

«Se é precisa uma explicação para o facto de assumir a pasta da Defesa Nacional - disse o Sr. Presidente do Conselho -, a explicação pode concretizar-se numa palavra e essa é Angola.

«Andar rapidamente e em força é objectivo que vai pôr à prova a nossa capacidade de decisão.

«Como um só dia pode poupar sacrifícios e vidas, é necessário não desperdiçar desse dia uma só hora para que Portugal faça todo o esforço que lhe é exigido a fim de defender Angola e, com ela, a integridade da Nação».

Com estas palavras, que na serenidade da sua formulação denunciam um propósito inabalável, Salazar traçou um caminho e definiu uma política - defender a terra mártir de Angola e, com ela, a integridade intangível da Pátria até ao extremo limite dos sacrifícios e dos esforços julgados indispensáveis.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Angola foi defendida e a integridade da Pátria está assegurada. Bem haja, por isso, o Governo da Nação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Entretanto, na vida política do País diversos factos de transcendente significado ocorreram. Todos eles robusteceram a unidade e a coesão da Pátria e levaram à demonstração inequívoca de que contra ela nada podem a hostilidade e as violências mais brutais de inimigos externos, que, mau grado seu, têm de reconhecer e vão de facto reconhecendo a singularidade da nossa posição, e demonstraram que contra a decidida determinação de um povo que quer ser ele próprio a fixar o seu destino nada podem os seus adversários, por mais audaciosos e traiçoeiros que se apresentem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - De entre esses factos avultam, sem dúvida, as viagens do Chefe do Estado às províncias de Angola e S. Tomé e Príncipe em 1963 e a Angola e Moçambique neste ano de 1964, viagens tão ricas de significado e tão expressivas da nossa unidade que hoje já ninguém séria e honestamente a pode contestar.

Vozes: - Muito bem!