realização das mesmas, Bragança - a vetusta cidade -, em galhardia e vitalidade, em fidelidade aos seus princípios e esperança no futuro, em beleza de alma e nobreza de sentimentos, não desmereceu dos tempos de antanho. Bragança foi igual a si mesma.

Encerradas, assim, as festas centenárias, o Chefe do Estado, sempre acolhido com o mesmo respeito e carinho que lhe foi dispensado desde o início da visita ao distrito, prosseguiu esta com a sua ida a Mirandela, Vila Flor e Carrazeda de Ansiães, cujas populações se dirigiram ao seu encontro para, como aconteceu nas outras localidades, lhe tributarem as suas homenagens, correspondendo por esta forma singela, mas significativa, à irradiante simpatia que, com tanta naturalidade, transborda da sua alma de homem simples e afável, mas que, com firmeza e elevação, tão bem encarna os desígnios de Portugal - de Portugal uno e imperecível.

Vozes: - Muito bem!

conforto e bem-estar aos Portugueses. Este é o primeiro significado que emerge do acto com que se festejou solenemente a entrada em funcionamento da central da Bemposta, o qual se situa no plano económico.

Todavia, a par dele, um outro significado transparece do momento alto que ao País foi dado viver, o qual se estrutura na política actuante e positiva, compreensiva e amiga, firmada em boa hora pelas duas nações peninsulares. Essa realidade, traduzida pela amizade luso-espanhola, evidenciou-se nesse dia, mais uma vez, com a inauguração das centrais de Aldeadávila e da Bemposta, sob a alta presidência dos Chefes de Estado de Portugal e de Espanha, com cujo acto se caldeou mais um elo da sólida corrente que une os dois povos vizinhos e irmãos, que cada vez se estimam mais e melhor se compreendem.

Festejou-se nesse memorável dia 17 de Outubro a conclusão do aproveitamento hidroeléctrico do troço internacional do Douro.

Do ponto de vista geográfico, este rio nasce na serra de Urbião; depois de contornar Sória, levando a sua corrente numa extensão de mais de 900 km, vai desaguar em S. João da Foz, no Porto. Calmo e manso quando percorre os campos abertos de Espanha, onde denota as características de rio de planalto, torna-se impetuoso e de feição turbulenta quando atinge as regiões montanhosas de Portugal, onde corre num vale profundamente encaixado e comprimido por vertentes abruptas. Mas, como alguém escreveu, «na autêntica história de um rio, o que acima de tudo interessa é o homem que ele serve - o homem que o usa e doma às suas necessidades, dispõe dele como de via natural de comunicações, utiliza-o como elemento fertilizante da terra, aproveitando-o na energia do caudal das suas águas, fazendo com elas mover a roda dos rústicos moinhos ou as turbinas das modernas centrais eléctricas, capta-o para as suas culturas de regadio, deita-lhe as redes nos pesqueiros, atravessa-o nas barcas, numa palavra, faz desse rio elemento fundamental de riqueza, de desenvolvimento social e económico. Nisto está a parte viva da sua história, da história que não cessa de evoluir, se continua e projecta abençoadamente no futuro».

E assim, em um destes aspectos, que o Douro, depois de submetido mais uma vez a cuidadosos estudos no campo da técnica e no plano económico, surge ante os nossos olhos com proporções de gigante, detentor de vasta riqueza, que ainda está longe de se encontrar completamente aproveitada na medida integral da sua potencialidade.

Servindo de fronteira natural entre os dois países - a mais antiga fronteira do Mundo -, é, como tal, invocado no tratado de limites entre Portugal e Espanha assinado em Lisboa a 29 de Setembro de 1864 em nome de SS. MM. El-Eei de Portugal e dos Algarves e a Bainha das Espanhas, no qual se reconheceu, o que, aliás, estava fora de discussão, se considerasse comum o treco deste rio compreendido entre as proximidades da ribeira de Castro até à confluência com o Águeda.

Em consequência do estabelecido neste tratado, foram trocadas notas entre os Governos de Portugal e da Espanha, de 29 de Agosto e 2 de Setembro de 1912, aprovando as regras para o aproveitamento industrial da água dos rios nos troços fronteiriços dos dois países, a que se seguiu, quinze anos depois, o Convénio para regular o aproveitamento hidroeléctrico do troço internacional do rio Douro, completado mais tarde pelo estatuto de funcionamento da comissão internacional criada por este Convénio e, ainda, pelo regulamento para execução das obras, mercê do que puderam ser realizados os cinco grandiosos aproveitamentos -três portugueses e dois espanhóis -, entre os quais os inaugurados naquela data, com o que bem se comprova quanto vale e pode e merece o respeito pelos tratados firmados, o mútuo reconhecimento dos direitos de cada um e a correlativa obrigação no cumprimento dos deveres assumidos.

Numa palavra: a estreita e leal colaboração de dois Governos ao serviço de regimes afins e que prosseguem nos mesmos ideais; a seriedade de dois povos que, vivendo ao lado de paredes meeiras, se compreendem e entreajudam como irmãos que na verdade se estimam.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: Como se dizia nas citadas palavras de há pouco, a parte viva da história deste rio não terminou na Bemposta, pois terá de se continuar e projectar no futuro, não apenas pela continuação do aproveitamento dos seus enormes recursos energéticos, mas também pela sua transformação e integração no sistema de transportes da vasta região que ele serve, utilizando-o como via de navegação interior.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -A navegação fluvial, que outrora desempenhou papel de relevo na economia das zonas atravessadas pelo Douro e que ao presente quase não existe, aguarda se gere o seu renascimento mediante a transformação deste rio em via navegável, em condições técnica