de. se fazer sair o Presidente, da capital para o Norte, um domingo às 8 horas e 30 minutos, ou se lhe fazer consumir tempo em cerimónias não públicas nem sociais de desejado convívio.

Felizmente que depois de Lourenço Marques passada, e cumprido o protocolo do colarinho engomado, foi o povo de toda a província por onde o Presidente passou que desatrelou os cavalos do carro e se meteu aos varais para fazer a festa a seu gosto, para me servir de uma imagem antiga.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não estou a prestar um depoimento vivido. Estou a recontar o que me contaram, porque o protocolo lembrou-se de todos os fotógrafos, mas esqueceu-se de todos os Deputados da província ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... e do presidente da vossa Comissão do Ultramar, que propositadamente se deslocou a Moçambique para prestar, como prestou, as homenagens do respeito que tem pela pessoa do Chefe do Estado, mas sómente o pôde fazer nos actos públicos apenas onde foi como um cidadão qualquer. Aliás, o único Deputado que acompanhou toda a viagem foi o nosso ilustre colega Bento Levy, na qualidade de director do Centro de Informação e Turismo, de Cabo Verde. Quando o lá vimos, festejámo-lo como merece, pelo primor do seu espírito, ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... e não me esqueci, naturalmente, de avisar a chamada autoridade competente na matéria de que ele era Deputado por Cabo Verde. A resposta pronta que obtive foi que apenas se haviam convidado jornalistas, ao que retorqui que lamentava o subdesenvolvimento educacional do protocolo da província, e protestava (risos), no exercício do meu direito, contra o não reconhecimento da qualidade de Deputado ao Dr. Bento Levy, tanto mais que os generais à paisana não perdem a patente mesmo que não tragam as estrelas na testa.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Bento Levy: - Muito obrigado.

O Orador: - Segundo soube depois, parece que. houve com o Dr. Bento Levy algumas necessárias deferências, mas, por quaisquer omissões a que a intervenção do presidente da Comissão do Ultramar não possa ter obstado, quero testemunhar a tão ilustre representante do povo de Cabo Verde os protestos da mais distinta consideração dos Deputados por Moçambique, ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... no que estou certo de interpretar o alto apreço em que esta Câmara tem o nosso ilustre colega.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Bento Levy: - Muito obrigado.

O Orador: - Qualquer coisa esteve errada em tudo isto, a que anda associado um decreto que mais parece um aborto mental.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - No entanto, não sei se terá sido por esta razão que o ilustre Dr. Supico Pinto, da minha maior consideração como presidente da Câmara Corporativa, foi receber o Chefe do Estado a Xinavane como membro do concelho de administração da Sociedade Agrícola do Incomati, que é uma grande exploração do poderoso grupo financeiro Espírito Santo, pelo que só alguns privilegiados tiveram na província- conhecimento da presença confidencial de tão destacada, e relevante figura da vida política nacional (risos). Confesso que pelo respeito que me merecem as magistraturas políticas nacionais me impressiona, incomoda e perturba que naquele momento de consagração nacional tivesse estado anónimo, incógnito e particular em Moçambique um dos escudos da soberania.

O Sr. Sousa Rosal: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Sousa Rosal: - Apenas um apontamento para reforçar a pouca consideração que se tem por vezes, para com os Deputados que representam a Nação.

Eu conto o incidente que. se deu no dia 28 de Maio. Os Deputados foram convidados para assistir à reunião comemorativa do 28 de Maio, o que, aliás, não era preciso fazer. Aproveito a oportunidade para fazer este depoimento, porque sei que V. Ex.ª, pelo seu alto espírito e função, não pode admitir factos da natureza, do que vou relatar.

Fui muito gostosamente àquela reunião e andei à procura dos lugares reservados aos Deputados. E só os encontrei na 8.ª fila, depois dos altos funcionários e representantes dos sindicatos, grémios, etc., pessoas, que aliás, merecem toda a consideração, mas com ofensa das mais elementares normas protocolares.

Encontrei sentados nesses lugares o nosso distinto colega Prof. Doutor Gonçalves Rodrigues e a Sr.ª D. Maria Irene Leite da Cesta, confrangidos como eu. Depois de uma ligeira troca de. impressões, tomámos, Sr. Presidente, a deliberação de irmos para a geral. Isto, quanto a mim. porque me sentia muito bem na geral, como pessoa humilde que sou, mas diminuído no local que fora reservado aos Deputados.

Faço este depoimento perante V. Ex.ª, Sr. Presidente, para que V. Ex.ª tenha conhecimento de mais este facto e possa providenciar no sentido de que não voltem a acontecer factos semelhantes, pois. se não ferem a dignidade das pessoas, ferem a dignidade da Assembleia Nacional, a que V. Ex.ª preside com o maior prestígio. É necessário não esquecer que a Assembleia Nacional é um dos órgãos da soberania nacional.

O Orador: - Fechados estes intercalares apontamentos de reportagem, dados a mero título de informação marginal, quero voltar ao tema para breves considerações finais.

E as minhas breves considerações finais giram em torno da necessidade evidente de dar às viagens presidenciais ao ultramar uma outra filosofia política que contemple amplamente, a tónica sentimental das populações.

Com efeito, quinze dias por Moçambique não contenta ali ninguém. Compreendendo-se perfeitamente que o Presidente visite durante três dias um pequeno distrito metropolitano, da metrópole em que o Presidente reside, é de considerar que apenas três dias em cada vasto distrito da minha província, mais as solenidades especiais na