capital, dilatariam a viagem por um mês. Tenho por isso a honra do sugerir esperançosa e empenhadamente ao Governo pequenas viagens anuais do Chefe do Estado ao ultramar, viagens globais às províncias pequenas em certos anos, intercaladas com viagens parciais noutros anos a esta ou àquela região de Angola e de Moçambique..

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Os modernos meios de transporte permitem que numa só viagem, relativamente breve, o Presidente visito, por exemplo, o Norte de Moçambique e o Sul de Angola, noutro ano a Madeira o Cabo Verde, depois a zona central de Angola e a nossa vasta Zambézia, etc.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A minha sugestão, filiada no altíssimo valor do sentimento na formação da consciência nacional, uma consciência viva e actuante, assenta na certeza que tenho de que as populações brancas e negras, ou de cor, do ultramar, querem sentimentalmente contactar mais demoradamente, e mais vezes, com o Chefe do Estado, personificação da Nação inteira, querem mostrar-lhe como trabalham e como progridem, porque os seus pequenos interesses, tão penosos de criar e manter, são, no resultado global, os interesses gerais, vivos, permanentes e futurantes da Nação que eles dia a dia erguem por suas mãos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A presença do Chefe do Estado no mato que se vai desbravando para criar riqueza, às vezes tão pouca com tanto sacrifício, é um amparo que estimula e uma solidariedade que conforta, e constituirá um poderoso factor de integração psicológica, que é a necessária integração de base por onde é preciso começar uma realística integração nacional que até agora tem esbarrado com os difíceis obstáculos de se querer fundar numa integração de topo, e não existiria em qualquer escala sequer se o mistério milagroso do sentimento das populações não superar os erros ou as limitações dos homens.

Corolàriamente, desejaria que os Ministros também deambulassem mais pelo ultramar, mesmo que malevolamente se dissesse que andavam de passeio, e mesmo que não andassem senão nisso (risos). O resultado seria a insuperável lição das vivências, que na síntese das problemáticas é sempre um poderoso factor de decisão.

Na mesma ordem de ideias», e na satisfação de um voto já formulado com vivo empenho pelos Deputados pelo ultramar, perdeu-se mais unia vez uma oportunidade soberano, de alguns Deputados metropolitanos das várias actividades sectoriais aqui representadas visitarem Moçambique na companhia do Chefe do Estado.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E outro interesse a considerar se se quer que haja nesta Casa a valiosa expressão de uma viva realidade política indiferenciada.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O presidente da Comissão do Ultramar lamenta que se tenha perdido o ensejo de começar, e está seguro de traduzir o pensamento da Comissão a que

preside. Na verdade, uma economia de jornalistas e fotógrafo? daria para alguns Deputados.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - V. Ex.ª estranhou o facto de os Ministros não frequentarem mais assiduamente o ultramar.

Eu e outros tivemos ocasião de presenciar, em passadas épocas, que os Ministros nunca saíam do Terreiro do Paço. É bem diferente o que se passa agora, não só no continente, onde se deslocam sempre que as suas atribuições o aconselham, mas também no ultramar, onde é frequente irem vários membros do Governo, quer das pastas militares, quer de outras, quer acompanhando o Chefe do Estado, quer isoladamente.

Parece-me, pois, que, salvo o devido respeito, V. Ex.ª não foi inteiramente juste; isto sem que, entretanto, não seja de desejar que os Ministros se desloquem com mais frequência ao ultramar.

O Orador: - Temos visto por lá os Ministros ligados ao sector ultramarino, mas está no âmbito do meu pensamento referir-me aos membros do Governo em geral. Há, de facto, muitos que ainda não passaram pelo ultramar.

Em todo o caso, agradeço as palavras de V. Ex.ª e, sobretudo, o sentido de correcção que tenham ao meu exagero.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - Não quis corrigir, mas apenas esclarecer e fazer confronto com o passado.

O Orador: - Estamos certos de que teria sido elucidativo para os Deputados que fossem a Moçambique um relance, pela província, mais não fosse porque, e não tenham VV. Ex.ªs dúvidas, só no ultramar se adquire, por vivência, o exacto conceito multiforme e a prodigiosa riqueza de valores da nossa pátria.

O Sr. Cerqueira Gomes: - Muito bem!

O Orador: - É inegável, porque é evidente, que ela tem no ultramar uma outra dimensão moral, como também é inegável, e é esta a minha experiência, que só na metrópole os ultramarinos podem adquirir a consciência plena da grandeza moral de Portugal e do seu destino universal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Posto assim o problema fundamental das élites nacionais, parece ter chegado a hora das compreensões recíprocas, para que se não perpetue a dolorosa experiência da minha geração, que há 30 anos chegou aqui ao desamparo, e no inconformismo que a caracterizou se devotou a doutrinar filosoficamente a metrópole numa problemática ultramarina primeiro, e dedica o resto dos seus dias à, inserção social do ultramar no âmbito de tudo o que é nacional por participação directa, activa e conjunta.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - O que lá vai lá vai!