nem ao menos será possível acudir às necessidades correntes do incremento natural do ensino técnico, quanto mais fomentar o seu desenvolvimento.

Já aqui o disse e agora o repito: o crescimento normal da frequência do ensino técnico, e limitando a nossa observação apenas aos 80 felizes concelhos contemplados com escolas técnicas oficiais, é de 12 000 alunos por ano.

À média de 2000 alunos por escola, será preciso construir 6 escolas por ano para ocorrer a tal aumento. Como cada escala custa entre 12 000 e 15 000 contos, anda à volta du 80 000 contos a verba anual necessária àquele fim.

Como o III Plano de Fomento destina a escolas técnicas menos de 50 000 contos por ano, não só não será possível com o que nele se estipula fomentar o ensino técnico, como nem sequer se conseguirá acompanhar o ritmo do seu crescimento natural, como, em consequência, terá este de ser travado, donde ser fatal aumentarmos aí o nosso atraso.

Muito apreciaria ter-me enganado nestas contas e ter errado os raciocínios que com elas construí. Muito gostaria eu !

Infelizmente, porém, creio que os acertei e que deduzi bem a conclusão.

Mas se num país em que cerca de 75 por cento da população escolar não recebe qualquer instrução de nível secundário e se a instrução, e nela mormente o ensino profissional, constitui um dos mais eficazes, se não mesmo o mais eficaz impulso de aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional e o factor mais decisivo da sua melhor repartição, porquê o tratamento dado ao ensino em geral e ao ensino técnico em particular no III Plano de Fomento, se ele visa precisamente aqueles objectivos?

Responda quem souber. Eu não sei, porque se soubesse era capaz de dizer que tudo isso está ao contrário ...

Em quanto disse, pensei-o apenas em termos económicos, isto é, tive apenas em mente as incidências da instrução geral ou técnica no desenvolvimento económico.

Não encerro, porém, estas bem modestas considerações se m referir que esse aspecto, sendo fundamental, não é, contudo, o único nem o primeiro a ter aí em conta: é que nem só de pão vive o homem.

A valorização intrínseca deste, o desenvolvimento intelectual, a sua ascensão espiritual, a sua formação moral - tudo isso consequências e efeitos da instrução e do ensino- fazem destes duas das mais nobres e alevantadas actividades do Estado, a que este, só por isso, deve dispensar os cuidados maiores, logo a seguir aos que exija a conservação e defesa da integridade da Pátria.

Por isso é que aquele problema é o mais grave dos nossos problemas nacionais, depois, evidentemente, do da defesa da Pátria, ora em causa viva.

Mas acudir àquele problema, em termos que o resolvam, custa muito em dinheiro, em sacrifício de preferências, do posições sectoriais, em adiamento de soluções de imediata e aliciante rentabilidade e em muitos outros aspectos da vida social, económica e política da Nação?

Custa - é evidente. E fazê-lo não será um peso demasiado?

Esta pergunta é da Câmara Corporativa. E também dela é esta resposta:

«A Câmara não sabe dar outra resposta diferente desta: é indispensável».

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - «E quanto mais tarde se encetar a jornada - continua a Câmara Corporativa- não só se estará a re-

tardar também o seu termo, mas, o que é bem mais grave, vão-se acumulando os atrasos, tornando cada ano mais difícil a arrancada, e vão-se perdendo gerações de jovens portugueses para a instrução, a cultura e a vida do espírito, que é como se disséssemos, vão-se perdendo para sua condição de homens».

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Frente a essas gerações, ameaçadas de perderem a sua condição de homens, frente ao futuro de Portugal, que elas hão-de também definir e constituir, que tremenda é a nossa responsabilidade - a de todos nós, que de algum modo interferimos na coisa pública.

Tenho dito.

Vozes: -Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão.

Para- evitar ter de obrigar VV. Ex.mo a sessões no sábado e na segunda-feira, marco para amanhã duas sessões: uma às 11 horas da manhã; outra à hora regimental.

A ordem do dia é a mesma da sessão de hoje.

Está encerrada, a sessão.

Eram 19 horas e 50 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Agostinho Gabriel de Jesus Cardoso.

António Augusto Gonçalves Rodrigues.

António Calheiros Lopes.

António Magro Borges de Araújo.

António da Purificação Vasconcelos Baptista Felgueiras

Armando Francisco Coelho Sampaio.

Artur Alves Moreira.

Carlos Coelho.

Carlos Monteiro do Amaral Neto.

Francisco de Sales de Mascarenhas Loureiro.

Henrique dos Santos Tenreiro.

João Nuno Pimenta Serras e Silva Pereira.

Jorge Manuel Vítor Moita.

José dos Santos Bessa.

Júlio Alberto da Costa Evangelista.

Manuel Nunes Fernandes.

Manuel Seabra Carqueijero.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Alberto Pacheco Jorge.

Alfredo Maria de Mesquita Guimarães Brito.

António Burity da Silva.

António Tomás Prisónio Furtado.

Augusto Duarte Henriques Simões.

Elísio de Oliveira Alves Pimenta.

Jacinto da Silva Medina.

José Guilherme de Melo e Castro.

José Pinheiro da Silva.

Manuel João Correia.

Manuel Lopes de Almeida.

Purxotoma Bamanata Quenin.

Rogério Vargas Moniz.