O Orador: - Mais de um terço do total de investimentos inscritos no II Plano de Fomento foi aplicado em Lisboa e Setúbal.

A táctica de concentração de investimentos em pólos de desenvolvimento já existentes tem sido usada com tal liberalidade entre nós que há exemplos desconcertantes, a ponto de nem se poderem justificar em termos puramente económicos de rendimento de exploração.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O livre jogo das forças económicas é ineficaz para atenuar disparidades regionais, especialmente nos países em vias de desenvolvimento; e a sedução do acréscimo do produto global nem sempre reduz o fosso que separa as regiões mais desfavorecidas.

Não há tempo a perder.

E urgente que se active a organização de planeamento regional; que se legisle no sentido de atrair para fora dos pólos de desenvolvimento, com incentivos ainda mais fortes, a instalação das actividades industriais; e que sê adopte um critério de selecção de investimentos menos rígido quanto ao primado do crescimento do produto, em apoio de uma tendência de desenvolvimento harmónico e regionalmente equilibrado da economia.

O Governo encara, para 1968, a possibilidade de vir a considerar, de "forma sistematizada e decidida", é equilíbrio regional.

Lembro, porém, que as correcções das disparidades de crescimento são tanto mais difíceis e dispendiosas quanto mais se protelam.

É necessário fazê-las quanto antes, mesmo como medida de prevenção contra eventuais intoxicações políticas provenientes de cansaço de insatisfações generalizadas ou de resistências- dos movimentos económicos cumulativos, dia a dia mais caudalosos, à disciplina distributiva.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tal como sugere a Câmara Corporativa, creio que deve ficar expresso, na definição da finalidade do Plano Intercalar, um princípio em que as exigências de correcção de desequilíbrios de desenvolvimento regional sejam consideradas como factor de organização e execução do Plano.

Sr. Presidente: Num mundo cada vez maior, mais vivo e mais complexo, a educação é problema difícil e grandioso.

Os sistemas educacionais sofrem crises de adaptação e de crescimento.

Entre nós encontra-se em estudo, com propósitos de reforma, a acção educativa.

Se assim é, teremos de encarar a verdade do mundo de hoje e, virilmente, escolher o caminho que melhor sirva e dignifique o homem de amanhã.

Compreendamos que as influências e sugestões do mundo exterior conquistam progressivamente os domínios da família e da escola e reduzem os seus contributos tradicionais para a formação da juventude.

Aceitemos que os modernos meios de informação subjugam os jovens e lhes apresentam lauto repasto de conhecimentos desordenados e fragmentários.

Admitamos que as necessidades quantitativas são de tal monta que a própria essência do problema do ensino se encontra modificada.

E então concluiremos que a escola, atendendo às razões do êxito do mundo exterior como instrumento formativo da juventude, se deve abrir para esse mundo, invadi-lo e usar decididamente os seus meios.

A escola nova terá de ser uma escola diferente.

Se não for diferente, esmaga-nos: esmaga-nos com números - números de alunos, números de professores, números de edifícios e de salas; esmaga-nos com cifrões - cifrões que traduzem verbas e mais verbas, em montanha gigantesca e intransponível.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se a escola não for diferente, continuaremos a correr para uma meta que se vai afastando mais de nós.

Se a escola não for diferente, mortifica-nos de inquietações.

Por isso, creio que o emprego de estruturas e métodos escolares tradicionais serviu o passado, serve mal o presente, mas não vai servir o futuro.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A escola do futuro será especialmente um nobre instrumento de orientação pedagógica; e será ainda um posto de comando que mobiliza e tem sob as suas ordens os modernos meios de difusão do pensamento, inúmeras e variadíssimas células de actividade e uma legião muito heterogénea de agentes.

Evitando o despropósito de confrontações insensatas. todos .nós sabemos que, no aspecto educacional, a metrópole ocupa uma posição desvantajosa em relação aos países de semelhante nível de desenvolvimento do Sul da Europa; e todos nós sabemos também que, no ultramar, tentamos vencer uma modesta fase de subdesenvolvimento cultural.

A obra a realizar é imensa e exige uma autêntica mutação de atitudes quanto às acções educativas a empreender: ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... finalidades novas, métodos novos, meios novos e esforço financeiro adequado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Convençamo-nos de que a guerra à ignorância, neste país, exige uma mobilização de recursos e uma decisão tais que só encontram paralelo na luta em que estamos empenhados para a defesa do solo pátrio.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A educação é o verdadeiro motor do progresso.

Seria imperdoável que nos preocupássemos tanto com o acréscimo dos réditos nacionais e descurássemos a educação, como o mais firme alicerce da produtividade do investimento económico.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: Tentei, ainda que apressadamente, exteriorizar uma atitude de espírito e marcar a minha posição.

Termino com o remate natural, que é a declaração de voto.

Muito embora as soluções realistas sejam comandadas mais pelas possibilidades do que pelas necessidades, pa-