O Orador: - A violência e a desumanidade que se praticam quando qualquer residente ali tenta fugir para o seio da família e para uma vida melhor na zona ocidental.

Visitei também a linha divisória entre a zona da Alemanha Ocidental e a parte ocupada pelos Russos no extremo norte da Alemanha, na cidade de Lubeque, mas, para que esta visita não tivesse surpresas desagradáveis, a policia militar da Alemanha Federal protegeu-me com dois carros militares armados, pois não é o primeiro caso em que os guardas russos atiram sobre os visitantes, naquela área, a que se chama zona de morte, por vários casos que ali se têm dado.

Para além dessa linha, onde tudo quanto é possível imaginar compõe a defesa contra quem pretenda entrar ou sair, desde os arames farpados simples e electrizados aos obstáculos antitanques, minas, cães-polícias e vigias especiais armados, VI um espectáculo deveras esclarecedor do sistema político de um país que apregoa uma política de liberdade, espectáculo que eu ofereço à consciência de quem defende o paraíso russo: nem mais nem menos do que um simples operário a trabalhar na zona russa guardado por um polícia militar armado de espingarda-metralhadora, para que não se tentasse em abandonar tão maravilhoso paraíso.

Sr. Presidente: Por convite do Governo, que muito me desvaneceu, visitei também alguns parlamentos, sendo de salientar o de Munique pela sua antiguidade e o de Bona, sede do Governo Federal, pela sua grandeza e estilo moderno, cujas salas se apresentam com grande dignidade.

Em Bona, foi o centro onde o programa se revestiu, como é natural, de maior aspecto oficial, pois tive a honra, aliás gratíssima, de ser recebido por altos e dignos funcionários, com quem tive vários colóquios, quase todos, como era de esperar, versando sobre política ultramarina portuguesa.

Creio que esta troca de impressões, que atingiu por vezes assuntos de certa dimensão .e profundidade, teve a sua utilidade para ambas as partes.

Para mim porque se me deparou uma excelente oportunidade de esclarecer, em vivo diálogo, alguns pontos que na mente dos meus interlocutores se apresentavam pouco claros e até bastante confusos, por virtude de uma imprensa mal informada, cuja responsabilidade nos cabe de certo modo por não termos ainda conseguido estabelecer um sistema de informação à imprensa alemã, para que ela possa, metodicamente, com verdade e com justiça, esclarecer o povo. de um país com quem mantemos as mais cordiais relações; para os dignos funcionários que me honraram com as suas perguntas creio ter sido também de certo modo útil, na medida em que os meus esclarecimentos obtiveram a receptividade e valor elucidativo que lhes atribuo, o que creio ter observado através da sinceridade com que os assuntos me eram postos e pela grande atenção com que sempre era escutado.

E me grato poder afirmar que em .todas as trocas de impressões sobre problemas do nosso ultramar notei sempre o maior interesse pelos nossos progressos em política ultramarina e os desejos de uma maior compreensão por parte das grandes nações responsáveis pela conduta do Mundo relativamente ao nosso firme propósito de protegermos cada vez mais as nossas populações em África...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... ao mesmo tempo que estamos elevando, gradualmente mas com perseverança, o seu nível social e económico, que lhes permite uma vida mais feliz em paz e sossego, que procuramos preservar em seu próprio benefício.

Vozes; - Muito bem!

O Orador: - E interessante notar que um dos pontos que mais chamaram a atenção dos altos funcionários e parlamentares com quem contactei foi o do grande esforço que estamos fazendo na campanha de ensino para a elevação social e cultural das populações e consequente aproveitamento dos valores humanos para ocuparem posições de relevo na vida pública portuguesa e responsabilizá-los pela administração local, dando-lhes lugares de destaque, como nas juntas locais e câmaras municipais, conselhos legislativos e até na própria Assembleia Nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Esta afirmação causou certa admiração, pois alguns dignos funcionários de destaque confessaram, e com certa sinceridade, que desconheciam este ângulo da nossa política ultramarina, pelo que tive o ensejo de lhes afirmar que na África portuguesa a medida do homem se tira pelo seu valor, e não pela sua cor.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -;Sr. Presidente: De tudo quanto me foi dado observar creio que posso concluir, e isso é imensamente confortante, que as cordiais relações que, mantemos com aquele notável país assentam em bases sólidas de uma sã e perfeita justiça.

Sr. Presidente: Não desejaria terminar estas palavras sem reiterar os meus agradecimentos ao Governo Federal da Alemanha, em meu nome pessoal e no da província de Moçambique, ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... ao mesmo tempo que desejo dirigir também uma palavra de agradecimento ao cônsul alemão em Lourenço Marques, Sr. Heibach, pelo interesse que sempre tem manifestado pelos problemas daquela província e pela sua prosperidade. E justo dirigir também, deste lugar, à colónia alemã que está radicada em Moçambique, uma palavra de homenagem pelo muito que tem feito em favor da economia daquela província.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ao finalizar, quero formular um voto da maior prosperidade ao grande povo alemão, para que grande seja, cada vez mais, a Alemanha de hoje, que merece a nossa maior consideração.

Vozes: - Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Augusto Simões: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: Não quero deixar de significar todo o meu muito reconhecimento pelo generoso interesse que por VV. Ex.ª me foi dispensado aquando do acidente de estrada que há pouco sofri.