Não há, nunca houve, jamais haverá, explicação lógica, plausível, para o desatino do Governo Indiano, quando enodoou de sangue luso o trapo branco do seu pseudo-pacifismo!

Uma consciência que, até aí, nos areópagos internacionais fora uma força porque se afirmava isenta, justa, num-dia apenas perde ioda a virulência jurídica e moral, rasgando pela violência a Carta das Nações Unidas essa Carta que ela própria assinara e solenemente se comprometera a defender!

Foi ali, em Goa, Damão e Diu, que em 18 de Dezembro de 1961 se iniciou o primeiro acto de uma trágica pantomina, porventura a fulcral geradora do desacerto em que anda envolvido o Mundo.

Vozes: Muito bem!

O Orador: Ali se expressou em letras inapagáveis o conformismo das nações perante uma agressão sem nome; ali se conheceu, por entre gritos de dor e de sangue, até que ponto era capaz de descer a cobardia internacional, amarfanhando tratados, calcando aos pés compromissos e alianças!

O di-eito da força, a força da prepotência tudo o qu« "caracteriza um barbarismo de princípios, a formação primária de povos que detêm o comando de certas assembleias internacionais; tudo isso ganhou novo sentido si luz da agressão indiana. A tragédia goesa foi, de facto, o primeiro acto de uma farsa que continua a decorrer, tendo agora por cenário a África em ebulição.

Vozes: Muito bem!

O Orador: Farsa que só actualmente o insuspeito ministro Spaak entreviu, quando afirmou:

Querem separar a África da Europa e opor o homem branco ao homem negro!

O p-aís de ïagore como esta conjugação soa a blasfémia!, anexando a Índia Portuguesa,. degradando-se a si próprio e no concerto das nações, nunca mais teve sossego de espírito e procura expiar a sua culpa, numa truculência suspeita, medida numa obnubilação esquizo-frénicíi dos problemas mundiais.

Vozes: Muito bem!

O Orador: Goa. com o túmulo de S. Francisco Xavier e a mensagem que dele dimana, há-de ser sempre um espinho acerado na carne e na alma do corpo indiano, já tão absorvido por problemas próprios de tão difícil solução!

O Estado Português da Índia foi provisoriamente tomado, más nunca conquistado, já que não se conquista a alma de um povo que com o colosso vizinho, de comum, apenas tinha uma fronteira, que separava dois mundos opostos nas suas concepções espirituais e morais.

Vozes: Muito bem!

O Orador: Não se desintegra, não se mistura, o que se anexa, mormente quando o anexado tem uma idiossincrasia própria.

Assim Portugal ficou em Goa, ali permanece imutável, intacto .na sua resplendência moral e espiritual.

Vozes: Muito bem!

O Orador: Está-o na sua qualidade ocidental e cristã.

Permanece vivo nos julgamentos iníquos, nas conspirações de quem preza o que é seu com a mesma força com que repudia o alheio!

Está-o, porque a Índia Portuguesa é no mundo humano a experiência mais feliz, o padrão mais alto que um país ergueu a uma civilização que se apoiou na liberdade, na tolerância e na fraternidade, para se firmar no tempo como exemplo de compreensão e de unidade entre os povos de raças e de credos diferentes.

Vozes: Muito bem!

O Orador: Por isso, não podemos permitir que se perca o que de há muito constitui uma individualidade própria no Indostão não queremos renegar o que tão amorosamente criámos!

Isso se acorda, aliás, com o esclarecido pensamento do Sr. Presidente do Conselho quando proferiu:

Aquele que não defende o seu direito já desistiu dele a favor de quem pretende tomar-lho e no íntimo confessa que duvida da sua legalidade.

Em nenhuma circunstância desistimos dos nossos direitos sobre a Índia Lusíada, quase que uma pátria da nossa própria Pátria!

Vozes: Muito bem, muito bem!

O Orador: Sr. Presidente, Srs. Deputados: A afirmação missionária da nossa acção na Índia ficou bem expressa na mensagem por D. Manuel I dirigida ao sa-morim de Calecute:

Porque bem he de crer .que não ordenou Deus Nosso Senhor tam maravilhoso feito desta nossa navegação pêra sómente ser servido nos tratos e proveitos tem-poraes dentre vos e nos, mas também nos espiri-tuaes das almas e salvação delias ...

Isso o reconheceu e com que solenidade! a própria Igreja de Eoma, quando Sua Santidade Pio XII, pela «esplêndida tradição missionária da Catedral de Goa», a distinguiu com a Kosa de Ouro.

Vozes: Muito bem!

O Orador: Essa distinção com a que o sumo pontífice agora concedeu ao Santuário de Fátima são os dois apoios de uma ponte espiritual que para sempre há-de unir Portugal à sua província do Indostão: a Europa à Ásia.

Vozes: Muito bem!

OOrador:Não podia, pois, a «fidelíssima» Nação Portuguesa acreditar no que impudicamente afirmava certo jornal indiano quanto à posição da Cúria Bomana ante a agressão de que fomos vítima vai já para três anos.

Antes sim, o País rejubilou com a tomada de posição do Vaticano quando categoricamente negou que, em qualquer ocasião, tenha aprovado «implícita ou explicitamente» a agressão indiana aos «territórios portugueses».

E porque sobre o chão sagrado do Estado Português da Índia se abateu uma nova onda de violência, de espoliações, de ódio. que se vem traduzindo numa forma de terrorismo que constitui uma ameaça à paz e aos direi-