minas que têm de os preparar. Isso seria até certo ponto, não diremos fácil, mas sofrìvelmente eficaz se a massa dos trabalhadores mineiros tivesse um mínimo de preparação cultural, científica e técnica que lhe permitisse absorver e assimilar os conhecimentos que se lhe dão.

Mas quê, começa por ser em grande parte iletrada, completamente analfabeta ou quase, raros sendo os que lêem e escrevem razoavelmente.

O Sr. Gonçalves de Faria: - Muito bem!

O Orador: - São trabalhadores rurais que nas épocas de escassez de trabalho agrícola acodem às minas para regressarem aos trabalhos dos campos nas épocas de actividade. Acontece assim que uma boa parte deles deixam as minas quando começam a estar treinados, nunca chegando a verdadeiros profissionais.

Acontece por vezes que muitos dos que revelam qualidades de adaptação não podem ascender na escala de escombreiros para vigilantes e destes para capatazes - por mão saberem ler e escrever, ou o saberem tão mal, o que é a mesma coisa.

Este é um dos maiores problemas, das maiores dificuldades, que as gerências das minas encontram e têm de resolver.

O Sr. Gonçalves de Faria: - Muito bem!

O Orador: - Com pessoal desta qualidade não é fácil conseguir rendimentos de trabalho apreciáveis, que se ponham ao nível da eficiência dos de outros países com operários de desenvolvimento cultural muito superior e seja qual for o grau, isto é, seja escombreiro, entivador e marteleiro, seja vigilante ou capataz.

É no ponto de vista da instrução, e isto tanto no campo das minas como no das restantes actividades, sejam industriais ou agrícolas, que nós temos de realizar o maior esforço de valorização do País.

Ainda muito recentemente, ao ser discutido o Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967, pudemos ler no magnífico e bem elaborado parecer da Câmara Corporativa, a propósito das previsões educacionais e do encargo que o seu aumento traz à Nação, as seguintes palavras, que a guisa de conclusão da nossa intervenção passamos a transcrever:

É um peso demasiado? Será suportável sem sacrifício? A Câmara não sabe dar outra resposta diferente desta: é indispensável. E quanto mais tarde se encetar a jornada, não só se estará a retardar também o seu termo, mas, o que é bem mana grave, vão-se acumulando os atrasos, tornando cada vez mais difícil a arrancada, e vão-se perdendo gerações de jovens portugueses para a instrução e cultura e a vida do espírito, que é como SB disséssemos, vão-se perdendo para a sua condição de homens.

De todos os sectores da vida nacional, das indústrias extractivas o clamor é o mesmo e os queixumes sucedem-se sobre o baixo rendimento per capita do trabalho português.

Quando as técnicas eram menos evoluídas, a produtividade menos exigente e o trabalho mais simples, mais de habilidade manual que de inteligência, era corrente ouvir gabar-se a excelência da nossa mão-de-obra. O trabalhador português era hábil, sacrificado, produtivo. Deixou de o ser?

Não. A qualidade do trabalho h oje exigido ao simples operário é que é muito diferente e já não são suficientes ou satisfatórias a simples habilidade ou dedicação; exige-se inteligência cultivada e raciocínio e assistimos assim ao decair da nossa mão-de-obra, que hoje é, relativamente a estrangeira, de muito pior qualidade.

O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - Continua a ser barata, inclusivamente porque em muitos casos não pode valer mais, porque, mesmo assim barata, a sua incidência na unidade de produção é por vezes muito mais elevada que a caríssima mão-de-obra estrangeira.

Parece-nos, pois, que ao tomarmos verdadeira consciência deste problema temos que dizer como no acima referido parecer da Câmara Corporativa: «Será demasiado o encargo? Será suportável? É indispensável?>.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão.

A próxima sessão será na terça-feira dia 19, à hora regimental, com a mesma ordem do dia.

Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas, e 15 minutos.

Sn. Deputados que entraram durante a sessão:

Alberto Carlos de Figueiredo Franco Falcão.

Alberto Pacheco Jorge.

Albino Soares Pinto dos Reis Júnior.

Antão Santos da Cunha.

António Augusto Gonçalves Rodrigues.

António Burity da Silva.

António Calheiros Lopes.

Armando Francisco Coelho Sampaio.

Armando José Perdigão.

Carlos Coelho.

Francisco Lopes Vasques.

Francisco de Sales de Mascarenhas Loureiro.

Jacinto da Silva Medina.

João Mendes da Costa Amaral.

João Nuno Pimenta Serras e Silva Pereira

João Ubach Chaves.

Jorge Augusto Correia.

Jorge Manuel Vítor Moita.

José Alberto de Carvalho.

José Fernando Nunes Barata.

José Luís Vaz Nunes.

José de Mira Nunes Mexia.

Júlio Alberto da Costa Evangelista.

Manuel Herculano Chorão de Carvalho.

Manuel Homem Albuquerque Ferreira.

Manuel Nunes Fernandes.

Manuel Seabra Carqueijeiro.

Manuel de Sousa Rosal Júnior.

Ulisses Cruz de Aguiar Cortês.

Srs. Deputados que faltaram à sessão

Agostinho Gabriel de Jesus Cardoso.

Agostinho Gonçalves Gomes.