Estão ainda na Mesa os elementos pedidos pelo Sr Deputado Alberto de Carvalho na sessão de 26 de Novembro passado. Vão ser entregues àquele Sr. Deputado

Já foram distribuídos por todos os Srs Deputados os pareceres das Contas Públicas, tanto no que metrópole como às províncias ultramarinas Srs Deputados o favor de considerarem esses elementos porque a discussão das Contas vai iniciar-se na próxima terça-feira

Tem a palavra o Sr Deputado Martins da Cruz

O Sr Martins da Cruz: - Sr Presidente durante a interrupção dos trabalhos parlamentares a Nação pôde escutar, com o extraordinário interesse e a valorosíssima proveito de sempre, a palavra autorizada, sapiente e esclarecedora do Sr Presidente do Conselho no acto de posse da nova Comissão Executiva da União

Como sempre me acontece, comecei a ouvir Salazar com ansiedade, fui seguindo as suas palavras com ai atenção de que sou capaz, discordei, no meu íntimo, uma ou duas vezes, das palmas que o interromper oportunamente e que assim suspendiam o do seu raciocínio claro e magistral, logo, aliás, anotei desde logo certos passos deste desassombrado curso - a uns, por me parecer que também contraria entre os que mais directamente aí supor-se, a outros por se me afigurarem respostas perturbáveis a graves interrogações que tantos e tantos portugueses vimos fazendo uns aos outros

Ao fim, meditei quanto ouvira li e reli depois e voltei a meditar

Já lá vão mais de vinte anos que Salazar se definiu «como dos chefes de governo que menos falam»

E explicava então que os seus discursos mal chagavam para a média de um volume por cada cinco anos de governo

Pois de então para cá a média tornou-se ainda mais escassa, de cinco alargou-se para sete anos

Nós, os que entrámos na escola quando a Nação o chamou ao Governo, os que viemos crescendo para a vida, nos formámos e consciencializámos sob signo da sua era redentora e gloriosa, gostaríamos de ouvir mais vezes Salazar, na impossibilidade de lhe falar, mas compreendemos e aceitamos que a esse nosso desejo, tão legítimo, aliás, se sobreponham as razões que o sacrificam

O que sucede é que, por isso também, quando o ouvimos, o meditamos com redobrado empenho e maior satisfação

Do último discurso do Sr Presidente do Conselho eu resisto, Sr Presidente e Srs Deputados a lição ímpar de serenidade e de confiança que a Nação inteira ali encontra

No meio do emaranhado de adversidades de toda a ordem e dimensão «que nos chovem como castiga que parecem ameaçar a nossa própria existência como nação una nos vários continentes e mares, frente a tamanhas dificuldades, perturbações e dúvidas que a própria natureza parece apostada em agravar, a firme do Sr Presidente do Conselho, aurida na analise profunda da natureza e das fontes daquelas adversidades, dúvidas dificuldades e perturbações, vale, só de per si, como um salutar e sadio retomar de confiança n aia nos destinos e nas possibilidades da Revolução Nacional, vale só de per si, como uma esperança fecunda na vitoria sobre tais adversidades, perturbações, dificuldades e dúvidas

Vozes: -Muito bem!

a União Nacional se revelara de todo incapaz de conceber, planificar e executar a necessária, a indispensável secção constante de uma doutrinação esclarecida»

Lembro-me que perante aquele convite de Salazar aos responsáveis de então para que retomassem os tópicos da doutrina e a expusessem e a explicassem e com ela satisfizessem «a ânsia de espíritos generosos que para se darem só querem compreender», a União Nacional empreendeu uma série de conferências com tal objectivo Com os meus vinte e poucos anos, coube-me a honra de proferir uma delas

Então como sempre, nestes domínios, a iniciativa demonstrou mais uma vez o nosso admirável sentido da improvisação e de esmorecimento a curto prazo!

As palavras do Sr Presidente do Conselho, que valiam como uma censura e como um desejo - e logo deviam constituir uma ordem -, a breve esforço foram esquecidas, as conferências cessaram, não sei mesmo se alcançaram a dezena, creio que não, o programa de constante e esclarecida doutrinação, que então deveria ser cuidadosamente elaborado e persistentemente prosseguido, ficou no limbo da indiferença, do imobilismo e da preguiça

Pelos anos fora, com a chegada de novos responsáveis aos comandos da União Nacional, viriam a surgir novas tentativas de doutrinação - que a sua falta era tão evidente que logo se impunha a quantos chegavam

Apareceram mesmo sucessivas e doutas publicações, que desapareceram tão depressa como haviam aparecido, ressuscitou-se vezes sem conto o Círculo de Estudos, fizeram-se novas conferências e há que prestar homenagem a quantos procuraram dar a tais iniciativas vida mais longa do que a das rosas de Mallerbe

É verdade que o não conseguiram, mas não lhes cabeia a responsabilidade maior

E permita-se aqui a citação de um nome o do Eng.º Camilo de Mendonça, que, quando membro da Comissão Executiva da União Nacional, se não deixou seduzir pelos êxitos fáceis da improvisação e antes, com inteligência e dedicação, soube estruturar um plano de doutrinação que levou por diante enquanto pôde

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Mas foi sol de pouca [...]

Como tantas vezes sucedera antes, a doutrinação da União Nacional feneceu!