Quando, vai para três anos, o Norte de Angola foi sùbitamente acordado de um longo período ide calma que prometia o desenvolvimento de uma vasta zona cheia de potencialidades económicas de alto valor, poucos eram de opinião de que os acontecimentos graves então produzidos, e tão profundamente sentidos por toda a comunidade portuguesa, tivessem o desfecha que se aproxima Se a vontade quer e o ânimo não falta, removem-se montanhas Obstáculos na aparência insuperáveis e intransponíveis são meros contratempos na caminhada dos tempos

Os três últimos anos presenciaram o esforço hercúleo da metrópole e da província no sentido de defender a integridade da Nação que é de, todos Despenderam-se para esse efeito vidas e haveres O orçamento, da metrópole tomou nova forma, onerada com encargos que elevaram as despesas da defesa nacional para cifras jamais atingidas nos anais da vida financeira do País. A dívida pública subiu por somas que destoam das de épocas anteriores e a própria província, na sua política económica, atravessa um período de reorganização que, esperemos, mais a unirá à Mãe-Pátria

Angola será o que os seus filhos desejarem que ela seja E os ideais mais acalentados de todos são, sem dúvida, o de um rápido e ordenado desenvolvimento da seu potencial económico e a orientação do esforço despendido para melhoria de vida dos seus habitantes.

Não é fácil esta tarefa, mas também não foi fácil reduzir a um mínimo as graves perturbações de 1961, quando Portugal sofreu os embates de incompreensões e os ataques de um Mundo eivado de princípios e ideias que o tempo mostrou som base e estarem fora das realidades políticas.

O rápido desenvolvimento de Angola só pode ser obtido pela orientação das suas forças activas para considerável aumento da produção Não está à vista outro caminho, nem é fácil uma vida estável e progressiva, sem a execução de um plano, tão eficiente quanto possível, baseado na produção de géneros, arti gos e produtos de diversa natureza susceptíveis de serem exportados ou próprios para consuma interno. Estes objectivos item sido preconizados todos os anos nestes pareceres Parecerá as vezes haver monotonia nas frases que aqui se escrevem, e redundâncias, e repetições.

Mas Angola é um grande território, com variadas potencialidades económicas Produz géneros sujeitos à oscilação de cotações internacionais, que tanto podem beneficiar a economia, provincial, como aconteceu em 1963, como causar ruínas e crises, como já sucedeu noutros anos Precisa de sair ou aliviar o colete-de-forças em que está amarrada, de se defender da cotação de menos de meia dúzia de, produtos que exporta Precisa de alargar a gama das suas exportações, quantitativa e qualitativamente.

A variedade de climas, temperados alguns, quentes, húmidos, inóspitos outros, a força dos seus recursos energéticos, hídricos e térmicos, os próprios desníveis entre os planaltos e as zonas costeiras, que possibilitam esquemas de rega por gravidade em largas áreas, a riqueza de solos virgens e o clima e a constituição física de zonas interiores aptas à produção de géneros, como o açúcar, o algodão e o tabaco, de mercado garantido na metrópole, a própria índole do seu povo, que, com pequenas excepções, se adapta a trabalho produtivo e se casa com o modo de ser português, integrando-se facilmente na comunidade nacional, tudo são factores propícios a um desenvolvimento harmónico acelerado, que diversifique as produções e aumente o seu volume e o seu valor.

A província já hoje possui infra-estruturas essenciais ao escoamento das produções do interior, em portos e caminhos de ferro, e os programas rodoviários, embora com certa morosidade, prosseguem nas suas Linhas basilares

Angola está em condições de se lançar numa actividade produtiva que faça esquecer o lento caminhar do passado.

Para conseguir este objectiva põem-se certas condições fundamentais.

Em primeiro lugar, os investimentos susceptíveis de serem utilizados na província são escassos, e, dadas as cond ições que ainda prevalecem no território, não conviria talvez que fossem muito abundantes Um excesso de investimentos improdutivos gera a inflação, e um dos maiores perigos em países novos, como aliás em outros, são os seus resultados.

De modo que a orientação do investimento e, talvez ainda mais, o seu próprio aproveitamento são factores decisivos no progresso económico. Devem ser escolhidas aquelas empresas de relação capital-produto mais prometedora, e, uma vez iniciada a obra, ela deve ser prosseguida com a rapidez e a eficiência indispensáveis, de modo que os seus resultados se processem no mais curto espaço de tempo possível Não há nada mais doloroso e prejudicial, na aplicação de um investimento, do que ver adiada a sua reprodução, por insuficiências financeiras, por peias burocráticas ou por interesses mal compreendidos.

A orientação do investimento para empresas de reprodução implica duas coisas fundamentais: uma técnica apurada, com base na experiência, e não em teorias, e o adiamento de realizações que podem ser úteis e estar no ânimo de todos, mas não trazem imediatamente benefícios económicos essenciais ao bem-estar.

Nem sempre estas regras têm sido aplicadas em Angola, e estes pareceres o têm feito sentir.