pela deficiência da representação médica na periferia das cidades da província e sobretudo nas vilas e aldeias. É um dos capítulos em que vou entrar daqui a pouco e, se V. Exa. não estiver de acordo, terei muito prazer em registar as suas observações.

Pausa.

O Orador: - Este problema do número e da distribuição territorial dos médicos tem sido objecto de algumas das minhas intervenções parlamentares, tem preocupado seriamente a Ordem dos Médicos, foi exposto na representação que a Ordem teve a honra de entregar a S. Exa. o Presidente do Conselho, está analisado no Relatório das Carreiras Médicas e nem por isso se vislumbram as medidas governamentais que, pelos Ministérios da Educação Nacional, da Saúde e Assistência, das Corporações e Previdência Social e das Finanças, hão-de ser tomadas para o modificar. Ainda recentemente tive ocasião de chamar novamente a atenção do Governo para este momentoso problema, que profundamente se alterou nas últimas décadas.

Como então recordei, não vai longe o tempo em que médicos ilustres, com errada e lamentável visão, falavam da «saturação médica», da «pletora de médicos» e em que se estabeleceu até o numerus clausus para a entrada nas Faculdades de Medicina! Poucos anos foram necessários para demonstrar o erro destes conceitos. Em Novembro do ano passado, um ilustre professor de Medicina que ocupa com raro brilho a sua cátedra e a presidência da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa pôde afirmar, com a responsabilidade inerente as suas altas funções, o seguinte:

Não só não temos médicos para realizar uma cobertura sanitária do País em moldes actuais, de complexidade e progresso constantes, mas já não somos capazes de acudir, por falta de número e qualidade, às necessidades da medicina, como no começo do século.

Os nossos médicos de hoje são relativamente em menor número e de pior preparação que os das gerações anteriores. Salvo honrosas excepções, a medicina que geralmente se ministra agora entre nós, comparada com a de 1900, é de pior qualidade em confronto com a dos países mais adiantados, não obstante o desejo veemente da melhoria que anima o médico português e um particular senso crítico que lhe assiste nas horas amargas.

alimentação humana das cidades, das indústrias, do comércio e de tudo o que faz progredir este País. É lá que existem excelentes reservas morais e é lá que se mantêm vivas as virtudes tradicionais da raça.

Mais uma vez volto a dizer que é necessário que urgentemente se resolvam os problemas que têm agravado este abandono médico-sanitáno da periferia, que se garanta uma cobertura sanitária capaz das nossas populações rurais. O deficiente rendimento dos hospitais sub-regionais, e mesmo de alguns regionais, de que o parecer se queixa, e de que eu já aqui me ocupei, é consequência da falta de médicos nas zonas periféricas - nas vilas e nas cidades onde eles foram implantados. Nalgumas delas, não só do número, mas também da sua preparação para fazer funcionar a instituição. Tem havido verbas para construir novos hospitais, mas não as há para garantir o seu funcionamento em boas condições. Tem-nas havido mesmo para assegurar certa monumentalidade a algumas dessas construções, esquecendo-se os que delas são responsáveis de que somos país de minguados recursos e de muitas necessidades neste sector da saúde pública. Temos que impor, custe o que custar, maior sobriedade nas construções, adoptar tipos de construção mais económica, com vista a uma duração de 50 anos, porque a ciência evolui e o sistema rapidamente envelhece.

A eficiência dos hospitais, a qualidade do seu rendimento, é muito mais importante do que a imponência da sua arquitectura.

Que têm feito os Ministérios acima citados para modificar aquela insuficiência numérica e aquela inferior qualidade dos médicos? Onde estão os estudos e os projectos? Que dizem os doutos conselhos das Faculdades de Medicina a tal respeito? Quais são os motivos sérios que têm impedido as reformas indispensáveis?

O mesmo ilustre professor responde indirectamente à parte do ensino médico que respeita a este polifacetado problema, dizendo que as Faculdades de Medicina, salva a reforma de 1911, «não voltaram a sofrer verdadeiras reformas, mas simples ajustamentos, para não dizer acrescentamentos de cadeiras. Diga-se em abono da verdade que os únicos factos salientes de valor educacional a agitar esta monotonia foram a introdução no curriculum das disciplinas de Psicologia, Bioestatística e de Medicina Social. É certamente pouco para o dobar de mais de meio século».

Que atitude tomam os conselhos das Faculdades de Medicina?

Toda a gente sabe que, a contrastar com o aumento crescente da frequência das demais Faculdades, é cada vez menor o número de novas inscrições nas de Medicina, e, portanto, o panorama médico-sanitário do País tem de agravar-se dia a dia.

A contrastar com este nosso profundo silêncio dos sectores responsáveis pelo ensino médico nacional, regista-se um notável movimento de renovação na preparação dos estudantes de Medicina e no aperfeiçoamento profissional dos médicos na grande maioria dos países da Europa e da América.

Na Inglaterra, em 1964, houve nada menos de quatro grandes reuniões sobre educação médica e, além disso, o Ministério da Saúde publicou um memorando sobre a educação dos pós-graduados nos hospitais regionais. Nos hospitais regionais, entenda-se bem!

Nos Estados Unidos realizaram-se, no mesmo ano, o 60º Congresso Anual de Educação Médica de Chicago e a 113.ª Conferência de S. Francisco e fez-se a reunião do Conselho da Educação Médica.

A França fez recentemente a sua reforma dos estudos médicos, da qual já foram publicados mais dois ajusta-