Camilo na sua famosa Queda de Um Anjo, obra que também veio à luz da publicidade ainda nos finais da apontada data.

Inalteradas - visto tudo ter permanecido na mesma -, posso eu hoje ainda, remoto sucessor daquele outro deputado na representação do Porto, continuar a fazê-las minhas, com o mesmo inconclusivo platonismo, à parte mínimas diferenças de circunstância. Uma, a de que é apenas pela terceira vez que daqui estou a reclamar sobre a matéria, quando o meu ilustre antecessor anónimo (...) o fazia pela quarta, embora na certeza de que ambos sempre em edição piorada, de acordo ainda com a expressa ironia camiliana.

A outra diferença é a de que o subsídio reclamado há (...)00 anos se tem hoje de processar segundo o vigente respeito pelo orçamento do Estado. E, assim, seria sempre dentro da respectiva verba do Ministério da Educação Nacional que o caso poderia obter solução prática. Realizei a minha primeira intervenção sobre o caso no (...)cho da sessão de 1961-1962, cujo relato se pode ler (...)p 1268 do respectivo Diário das Sessões. Repeti a solicitação aquando da discussão da Lei de Meios para (...)964, salvo erro. Quer aquando da previsão orçamental, quer aquando do fecho das contas anuais, sempre o mesmo insucesso! Nem por isso me resignarei, acompanhando o camiliano deputado pelo Porto.

E daqui lembro já aos que me sucederem neste honrosa representação não descurarem tão legítima quão (...)satisfeita reclamação daquela cidade. Nas minhas mencionadas intervenções anteriores alarguei-me ao que de essencial justificava dever verificar-se no Porto a tão profícua ampliação da política dos valores espirituais.

Por um lado, a acrescentar ao peso específico dos seus habitantes e vizinhos, opera-se ali a convergência das (...) as de todo o Norte, onde se encontra, além-Vouga, quase metade da população do continente, por outro lado, com um público tradicionalmente receptivo à mú(...)a, a existência de adequadas casas de espectáculos, (...)er limitados, quer populares, justifica inteiramente (...)alargamento até lá desse benefício do Estado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E quero continuar a poder chamar-lhe benefício, e não ter que o depreciar designando-o como um favor, que o seria flagrantemente, se exclusivo de (...)sboa

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - De resto, o Centro do Pais, personificado (...) Coimbra, só teria que lucrar com essa eventual passagem dos respectivos elencos, que nunca poderia fazer-se exclusivamente por saltos de avião. Tenho-me visto apoiado nesta inglória inoportunidade aclamativa por muitos Srs. Deputados, do Porto e do Norte, a quem agradeço, e particularmente, sem esquecer o Sr. Dr. Urgel Horta, ao Sr. Dr. Elísio Pimenta. Teve e nosso ilustre colega, a tal propósito, ensejo de nos esclarecer de como as coisas, ao tempo em que foi governador daquela cidade, estiveram ablativas de atingir o feliz (...)iderato do termo do respectivo processo. Por isso, (...)n é não seja tido por arquivado pelos seus sucessores, e assim procurem estes acompanhar os meios já nomeados que estiveram quase às portas de obter sucesso (...)mbro, complementares dos meus, os esclarecimentos (...)n prestados pelo ilustre Deputado e que constam do

Dito isto, teria dado honrosamente conta do essencial do meu recado. Mas, Sr. Presidente, não foi por simples casualidade que encetei este paleio fazendo minha a reclamação de um não identificado deputado pelo Porto, segundo Camilo, em A Queda de Um Anjo.

A lembrança desta coincidência foi-me sugerida, a propósito das minhas intervenções pro opera itinerante, pelo ilustre homem de letras conde de Aurora, com cuja amizade muito me honro.

Sucede, porém, que, ao recorrer às fontes, verifiquei que neste ano precisamente passa o centenário da factura e publicação - 1865 - daquela famosa narração camiliana Com o Amor de Perdição, a Carlota Angela, o Retrato de Ricardina, as Novelas do Minho, as da fase realista, mormente a Brasileira de Prazins, é, decerto, A Queda de Um Anjo da meia dúzia das suas produções cimeiras.

Ora, Sr. Presidente, poderá um centenário desta ordem passar despercebido em toda a parte, a começar, e é natural, pela Academia das Ciências, e a acabar, já o seria menos, nas Faculdades de Letras, onde, porém, a efeméride nunca poderá passar sem merecido alarde é nesta Assembleia Nacional.

O Sr António Santos da Cunha: - Muito bem!

discreta e compreensiva simpatia pelo autor literário dos seus dias.

A transformação que neste varão se operou, que, de intransigente moralista, o conduziu à perdição concupiscente e, em concordância, de católico absolutista a liberal condescendente, nada tem de inédito.

Representa apenas ainda uma ilustração de sabedoria bíblica, que posteriormente também, entre outros literatos, foi evidenciada por Bourget no Démon de Midi. Resume-se tudo no seguinte conceito, que, sem garantia de rigor, cito de memória "Quem vive contra o que pensa acabará por pensar como vive".

Aqui na Assembleia não é decerto este frequente caso pessoal de recidiva psicológica, inalterável no tempo, que pode deveras interessar, mas antes o meio parlamentar em que se desenrolou a acção, cujo centenário daqui estou comemorando.

A respectiva comparação com os dias de hoje fornece-nos decerto úteis observações. Já me referi ao restrito aspecto do lírico para o Porto. Fecharei decerto ainda esta digressão com algumas palavras a tal assunto dedicadas