O Orador: - O precedente apoiado pelo Ministro das Corporações quanto aos espectáculos itinerantes, inclusive o de ópera, que dele dependem - o chamado Teatro da Trindade -, tem trazido a este debate lição que porventura possa ser aproveitada nos sectores primordiais do da educação nacional.

Outro tanto merece dizer-se da orientação da Fundação Gulbenkian. Exemplos a que o País não pode deixar de estar, e está grato e receptivo.

Sr. Presidente: Agora, como no tempo de A Queda de Um Anjo, nós, os Deputados pelo Porto, não desesperamos de esperar que a extensão da reclamada ópera até à Invicta aconteça verificar-se.

O Sr António Santos da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - Assim se evitaria que futuros Deputados por aquele círculo venham a continuar, como de rotina, "a expender as razões" da mesma reclamação e tão inutilmente que esta já é centenária. De outra sorte, daqui a 100 anos, com o conduto do bicentenário de A Queda de Um Anjo, um nosso sucessor, tão anónimo para nós como camilianamente o de há 100 anos atrás, haverá de prosseguir a mesma ingrata tarefa para orelhas moucas.

É presumível, no entanto, que daqui a 100 anos, numa ultracivilização nem sonhada por Graham Green, através de meios de comunicação imprevisíveis, se possa assistir empoltronado em casa, e em qualquer ponto do País, à ópera de S. Carlos, tão real e perfeitamente como se dentro do Teatro se estivesse.

E assim, Sr. Presidente, se veria o assunto resolvido por si, a contento geral, segundo a fórmula generalizada proposta em despique por Calisto Elói, mas em termos que ainda hoje é impossível prever.

Mas até lá?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado

Pelo Fundo do Cinema têm sido distribuídos valiosos subsídios, que muito têm incentivado a produção nacional

Por outro lado, concederam-se prémios a artistas e técnicos, o que bem revela o sentido das nossas preocupações valorizadoras da 7.ª arte, como de igual modo bem o acentuam as bolsas para estágio no estrangeiro atribuídas a alguns reputados técnicos.

Como é evidente, este esforço, generosamente despendido e que nunca é de mais salientar, sendo muito, não é tudo, para conduzir a indústria cinematográfica à altura a que, como força de arte e cultura, tem plenamente direito.

Há que atinar - o que não será difícil -, na causa dos males que a afligem, como há que rever as bases da sua organização, tendo bem presente a excelência do seu papel formativo e informativo numa sociedade que, em grande parte, se habituou a pensar e a agir de acordo com o modelo da imagem e do conceito que o écran a todo o momento lhe fornece.

O q ue de deletério o filme, tantos vezes, sugere, prejudica, inutiliza, tantas outras, aquilo que uma sã educação parecia assegurar.

O alcance social do cinema, como da sua actividade gémea, a televisão, não carece de demonstração.

Será ocioso afirmar a alta vantagem que ambas as actividades representam como poderosos elementos de formação, pela educação e pelo recreio.

Tal bem se destaca no que concerne à televisão, cujos programas penetram, diariamente, nos olhos e ouvidos, no espírito como na alma, de 2 milhões de portugueses.

Assim, importa estruturar em bases sólidas a edificação dessas actividades, simultaneamente artísticas e industriais, não sendo de desprezar a visão que permita assegurar-lhes, por uma produção equilibrada, de bom recorte artístico e de razoável nível técnico, um mercado capaz de equilibrar o caudal de divisas, verdadeira torrente que, ano a ano, vem minguando o Tesouro nacional.

O Sr António Santos da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - Desde já se toma imperioso assegurar-lhes um nível técnico e artístico que lhes permita suportar a concorrência estrangeira.

Sob este aspecto, são altamente elucidativos os exemplos de determinados países que, partindo do quase-nada, já hoje apresentam um cômputo de realizações que não receiam confronto com as dos chamados grandes, no mundo da cinematografia.

Assim vem sucedendo com a nossa vizinha Espanha, a que poderemos aditar a crescente projecção de países como a Suécia, Brasil, México, Israel e Japão.

Dado, por outro lado, o notável desenvolvimento da televisão, cuja gama de penetração e audiência corre o Universo e o País, em todas as latitudes, exercendo uma acção que tanto pode ser revitalizadora e nobre como desagregadora e nociva, importa apetrechá-la, tal-qualmente, fornecendo-lhe os meios de acção que a nobilitem, como instrumento de informação e de cultura, do mais elevado préstimo.

Assim, seria prenhe de toda a lógica a criação de um centro de formação cinematográfica no País, visto ao nível de instituto ou academia de artes cinematográficas ou, noutra alternativa, incluído no Conservatório Nacional, cuja actual orgânica, considerados já os seus limitados propósitos, carece de urgente e profunda revisão!

Entretanto, importa, antes do mais, estabelecer a legislação indispensável para que a indústria cinematográfica encontre o caminho da produção contínua, que a conduza ao porto legítimo das suas naturais aspirações.

Esta indústria, para sobreviver, necessita de medidas de protecção e fomento que ao Estado cumpre publicar, de uma maior acorrência de capitais privados, que logo virá por acréscimo, de um maior desafogo nos encargos que ora oneram as casas de espectáculos, entibiando a sua proliferação e desenvolvimento