Tem o nosso país realizadores de excelente nível, actores talentosos de craveira internacional, ambiente raro que propicia a vinda, quase maciça, de produtores e realizadores estrangeiros, seduzidos pela magia do nosso meio e pelo colorido da nossa capital - importa, pois que se garanta à produção cinematográfica aquele mínimo de condições que a convertam na realidade que todos desejamos. Se os produtores e técnicos cinematográficos internacionais buscam para as suas iniciativas os nossos ambientes, porque haveremos de negligenciar uma fonte que não é menos valiosa por ficar em nossa mãos?

Dentro desta ordem de ideias, indispensável se faz que se conceda aos nossos estúdios, deficientemente apetrechados, o equipamento necessário a uma produção normal e operada em condições técnico-económicas satisfatórias.

Por outro lado, cabe-nos salientar o papel relevante que o progresso da indústria cinematográfica representaria no progresso do turismo nacional, oferecendo aos de fora as largas e belas perspectivas do mundo português, mundo caldeado numa mescla de realizações humanas que se prolongam por oito séculos, num espaço policromo, que se dilata por todos os continentes.

Era essa voz de Portugal que num programa de actualidades gostaríamos de ouvir e ver, desfilando nos ecrans dos cinemas estrangeiros.

O Sr. António Santos da Cunha:- Muito bem!

O Orador: - Era essa voz da verdade que editada em várias línguas pelo Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo, poderia actuar como mensageira da claridade transparente das nossas realizações do passado e do presente, definindo, em imagens precisas, a verdadeira verdade da nossa política ultramarina!

Como seria do maior alcance fazer coincidir com a época própria um festival internacional do filme como o que a Casa da Imprensa muito recentemente proporcionou, atraindo a Lisboa, pelo incentivo dos prémios, artistas, técnicos e produtores de todo o Mundo, facto esse que constituiria não só um excelente cartaz turístico, como poderoso estímulo da produção nacional.

E se daqui passarmos ao teatro, servido por artistas que constituem um alfobre de valores, de verdadeira cotação internacional verifica-se, entretanto, que tal progresso da arte histórica não é acompanhado, em igual nível, quer no que respeita aos autores se refere à encenação.

Os autores são em número demasiado restrito e a temática das peças não vem empolgando os espectadores do teatro pròpriamente dito, quer do que nos oferece semanalmente a televisão.

A urdidura da maioria das nossas peças é deficiente, os temas estreitos, e a densidade dos efeitos maior parte das vezes em inutilidades e trivialismos, que

extirpam, desde logo, toda a aliciação e interesse do espectador.

Salvo algumas honiosíssimas excepções que felizmente, se vão tornando mais frequentes, o teatro português, quando pretende criar espectáculo, recorre frequentemente ao auto vicentino!

O facto é demasiado elucidativo para nele demorarmos a nossa atenção e crítica.

Importa, todavia, salientar que, embora nos aspectos apontados haja deficiências e lacunas, revela-se, entretanto, em certos sectores, mormente no universitário e nos Teatros Nacional, Experimental e Moderno, uma ânsia de valorização do teatro português que nos cumpre exaltar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Também o Secretariado Nacional da Informação, pelos concursos anuais de peças de teatro e outros prémios, visa à revitalização do nosso teatro, que, no entanto, carece de nova legislação, regularizadora das suas iniciativas e actividades.

Que, também sob este aspecto, surjam medidas proteccionistas, com o objectivo de fomentarem o teatro nacional, tornando-o, no palco, na televisão e na rádio, a medida exacta do nosso sentido estético e da nossa sensibilidade artística e levando-o a província, num ritmo normal, e não esporádico, são os nossos votos!

Só assim o teatro português oferecerá aos que se lhe dedicam, pela inteligência e pelo coração, sobejos motivos de interesse e de valorização - social e artística -, ao mesmo tempo que conquistará o público dele arredio, por falta de comunicabilidade, por carência de expressão, por uma autêntica insuficiência de mensagem!

Poder-se-á afirmar que em face da crise de teatro e de cinema, e mesmo de uma floração literária que não tem sido de qualidade, estaremos a caminho de uma verdadeira crise do pensamento português?!

Corresponderá de facto o período actual a uma época sociológica e política que importa revitalizar?! Ou de preferência haverá que extirpar das nossas preocupações uma tecnologia avassaladora e sem alma, que grandes danos vem causando?!

Mus, embora havendo necessidade de pôr de acordo o nosso pensamento e as nossas ideias com a expressão de uma nova concepção de vida, isso não embarga a afirmação de que não só nos sectores apontados, como em todos os outros, que são marcos definidores de uma cultura, indispensável se faz encontrar os tópicos fundamentais de uma política de espírito, que tem de ser a um tempo nacional e cristã, suportada nos valores ético-jurídicos da nossa civilização.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Há assim que realizar uma política de cultura lusíada, que tem de abarcar não só o todo metropolitano e ultramarino, como do mesmo jeito o Brasil, elo essencial dessa cultura, que sem ela seria uma cultura mutilada e, de qualquer forma, menos universal!

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!