Certas tendências, recomendações e insistências desta maneira revolucionadas e a massa monetária, na sua imensidade, tornou-se reguladora da produção e do mercado do consumo e também elemento fundamental do financiamento e do emprego para todos.
Sr. Presidente: Peço que me desculpe por abrindo caminho em matéria tão árida e em pouco atraentes para as atenções parlamentares.
Mas vejo-me forçado a aclarar uma primeira.
Diversamente ao que se expõe em várias tabelas estatísticas financeiras, os meios de pagamento em circulação devem, além das disponibilidades à vista do relacionar-se com os depósitos à ordem e a produtores nos levantamentos por cheques, por títulos, por efeitos de comércio que acrescentam a e circulação e o crédito.
É assim que tenho de servir-me dos num sentados pelo Banco de Portugal - produto bruto a preços correntes e médias anuais dos me de pagamento:
A relação entre a primeira e a segunda coluna (designada pelos mestres americanos como a relação k) anda entre 72,5 e 76,1.
O Banco de Portugal, se leio com rigor, concebe que o começo de subida resultou do Plano de Fomento e que a alta sucessiva não afirmou desequilíbrio, mas receia que de 1963 possa insinuar-se qualquer pressão inflacionista.
Segundo Hansen, os Estados Unidos apresentavam em 1800 uma relação entre dinheiro e rendimentos de 5 por cento e em 1948 de 76 por cento. Várias vezes se chegou mesmo a 81, 82 e 86 por cento.
E afirmava que a quantidade de dinheiro orei eu a um ritmo assombrosamente estável, para além de tendências seculares de descida ou de alta.
Sem querer teorizar muito, afirmarei apenas é necessário dinheiro para liquidar os negócios, para pagar serviços, para o Estado ir realizando a sua vida de bem geral, para prever reservas, para transferir e liquidar no estrangeiro e até para financiar o futuro.
A massa monetária mobiliza o rendimento nacional.
Abre a porta do crédito e, assim, aumentando a dimensão da economia nacional, organiza um grande mercado.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Embora as autoridades monetárias cenas devam estar vigilantes e prontas a agir sem demora -, certos aspectos de inflações podemos tê-los como preço de crescimento e até como custos de vantagens gerais. Vários elementos da que ligam com a saúde, a comodidade, a cultura de meios do estrangeiro atestam a minha asserção.
Nas finanças clássicas falava-se, a propósito de criação de moeda, em dois princípios inabaláveis, sobreviventes e presentes - o princípio circulatório e o princípio bancário.
Hoje o problema complica-se, pois que a estes hão-de acrescentar-se o princípio regulador e o princípio de impulsão nacional, já deixados nas entrelinhas da minha intervenção.
A política de remédio contra a inflação é mais fiscal que monetária.
E a expansão monetária comedida pode acompanhar o arranque ou os saltos apressados de desenvolvimento.
A manipulação das agulhas e instrumentos de marcha por parte das autoridades monetárias é realmente difícil, como se vê pelas oscilações da política inglesa e a insatisfação de certos meios em França.
Portanto, à parte uma ligeira tendência inflacionista, a massa monetária comporta-se regularmente dentro da dinâmica do rendimento nacional.
No meio está, porém, a preferência portuguesa pela liquidez.
Tirando António Arroio, Silva Cordeiro e, talvez, Oliveira Martins, os nossos escritores não exploraram convenientemente as terras desconhecidas da psicologia colectiva da gens portuguesa quanto à vida activa, enriquecimento, acrescentamentos patrimoniais e sucesso nos negócios.
Tem-se analisado proficientemente a vocação universal, o saudosismo, o temor e o tremor, o portador de ideais que é o português típico, objecto da sociologia.
Mas deixa-se de parte que, na mão dos nossos, o dinheiro não parece ser uma força impulsionadora ou um meio de acrescentamento que favoreça amplamente o enriquecimento.
Construir economicamente, Sá de Miranda lhe chamou mercadejar e o teve por baixeza em vez de alteza.
Soubemos descobrir os caminhos, conquistar desvairadas terras, estabelecer convívios impossíveis aos demais, mas deixamos a outrem os negócios, o crédito e as vantagens a tirar da nossa missão universalista.
A minha intervenção não me permite desenvolver o assunto senão numa única faceta - a inclinação do público e a atracção geral portuguesa pela conservação da liquidez.
Não é segredo, nem somente os profissionais da banca estão convencidos de que a tabela de preferência pela liquidez mantém grandes quantitativos engavetados, refugiados em cofres ou em reservas adormecidas no próprio banco.
Embora a literatura keynesiana comece a passar de moda, a verdade é que no povo português os motivos de precaução, conservação e defesa obscura suplantam os de aplicação útil, transacções e especulativos.
Claro que um passado de desordem financeira, as crises e as suspeições pesam ainda sobre nós e sobre as gerações que seguiram para enfraquecer o ânimo e o entendimento dos negócios.
Quando se recolhem moedas na província fica-se espantado da riqueza de alguns que amealharam, moeda a moeda, e guardaram com mais afinco do que Harpagão
À margem da banca, letras, avanços, partes de capital, vales, formam tombam no caudaloso, mas sempre clausulados para pronto levantamento e na ignorância de todos.
Os Portugueses mostram-se mais previdentes que outrem, mais cautos do que tantos, mas o gosto pela conservação do dinheiro líquido dificulta o investimento e as benfeitorias e, sobretudo, torna árduo e embaraçoso o trabalho dos banqueiros e desanimadora a preparação e lançamento dos empreendimentos ou os reequipamentos.