o escoamento do peixe em condições que não sejam as do jogo de fortuna e de azar que é a lota.

E o problema parece não comportar mais do que duas ordens de solução: ou reorganizar-se a industria de conservas, dotando-a com artes que vão ao mar em busca do peixe de que necessite, ou forçar o entendimento entre as duas actividades.

A primeira solução não será, certamente, nem a mais fácil nem a que mais justamente equilibrará os interesses em jogo. A indústria de conservas não é apenas um dos suportes da pesca. Ao avaliar as suas relações de interdependência interna não pode minimizar-se a sua posição como utilizadora dos produtos de outras actividades - a latoaria, a litografia, a caixotaria - nem esquecer-se o aproveitamento dos seus subprodutos nas produções de óleo, farinha e guano de peixe e a recuperação de materiais -o estanho e o ferro- a partir dos retalhos da folha-de-flandres.

Faria muito, de empresa para empresa, o seu grau de dependência quanto às actividades referidas, sobretudo no que respeita ao fabrico de vazio. A maior ou menor integração dessas actividades adjuvantes será um dos aspectos a estudar pela comissão que venha a incumbir-se de propor a conveniente reorganização da indústria. A indústria e a sua dependência do mercado interno quanto à colocação do produto A participação do mercado nacional (considerado este como o conjunto da metrópole e do ultramar) e dos mercados externos no escoamento da produção avalia-se examinando o quadro VIII.

Produção e escoamento das conservas de peixe

(Unidade: tonelada)

(ver tabela na imagem)

(a) Ignoram-se os números respeitante a salmoura.

Fonte:

Produção, elementos fornecidos pelo Instituto Português de Conservas de Peixe.

Na variação de stocks incluiu-se o consumo na metrópole, que é, portanto, quase nulo. Neste aspecto a indústria nada depende - e é pena - do mercado interno.

A insignificância do mercado nacional que o quadro VIII revela para o caso das conservas verifica-se também e infelizmente em relação à maior parte dos nossos tradicionais produtos de exportação.

Este facto é uma das causas da extrema vulnerabilidade de muitos sectores da produção metropolitana e impõe-nos simultaneamente acção capaz de modificar a capacidade e estrutura do consumo no mercado nacional e esforço sério de compreensão e conquista dos consumidores estrangeiros, tanto mais que, mo caso das conservas como no de outros produtos do nosso fabrico, não se trata de lhes vender mercadoria para eles essencial: em tempo normal, o mercado das conservas é mercado dos compradores.

Algumas observações haveria a fazer quanto às condições em que se desenvolve o comércio interno do produto. Verificada, porém, a extrema dependência do estrangeiro, parece conveniente dar, neste parecer, posição de muito maior relevo a números e informações que ajudem a compreender a importância dos factores determinantes da exportação de conservas de sardinha e permitam avaliar das possibilidades de expansão do seu consumo no estrangeiro.

No entanto, embora o mercado interno tenha hoje pequeno significado para a indústria das conservas, e, por isso, se não faça neste parecer estudo profundo das condições era que se desenvolve, parece necessário deixar uma pequena nota sobre ele antes de se entrar no estudo da dependência externa da indústria. Essa nota visa as características do produto lançado no mercado interno.

É sabido que hoje o Instituto Português de Conservas de feixe só fiscaliza a qualidade do produto exportado. Daqui resulta que a qualidade das conservas destinadas ao consumo interno depende inteiramente da idoneidade dos produtores. E é sabido que, de entre eles, alguns não hesitam em lançar no mercado metropolitano os lotes de conserva que o Instituto Português e Conservas de Peixe considerou impróprios de exportação para o estrangeiro ou para as províncias ultramarinas.

O facto é indiscutível e não carece de muitos comentários para que possa avaliar-se a sua gravidade.

Se não se tomam medidas urgentes no sentido de tornar efectiva a fiscalização do produto destinado ao mercado interno, podem perder-se todas as esperanças de ver alargada a posição deste mercado entre os consumidores das conservas nacionais.

Mas a péssima qualidade de certas conservas que são oferecidas no mercado interno não diminui apenas o interesse do consumidor nacional: prejudica, também, o bom nome que o produto tem e deve manter no estrangeiro. É facto, de todos conhecido, que o turista gosta de adquirir no país de origem os produtos que ele exporta. Fá-lo não só por isso lhe permitir comprar mais barato, mas, sobretudo, por estar convencido de que o produto obtido na sua terra natal lhe oferece mais garantias de pureza.

Figuremos agora um estrangeiro já instalado em sua casa a, abrir, para a família e amigos, umas latas de conservas portuguesas, por ele mesmo trazidas de Portugal. Imaginemos, também, o que ele e todos deverão pensar quando verificarem que esse produto vindo directamente do seu berço é pura e simplesmente intragável ...

A Indústria de conservas de peixe e a sua dependência dos mercados externos A indústria está intimamente ligeiro, quer por nele se abastecer de foi quer por nele escoar a sua produção.