Ao longo de um vasto período de observação -dezassete anos- a análise mostra como, resistindo mesmo a todas as perturbações impostas por uma guerra, cinco países se mantêm, embora revezando-se, na ocupação dos primeiros lugares de consumidores das nossas conservas.

No mesmo período - 1938-1954 - os cinco principais compradores absorveram sempre mais de 60 por cento do valor total das conservas de sardinha exportados. A última guerra alterou em muito a estrutura social, económica e financeira da Europa.

Essas alterações atingiram a composição das classes populacionais e permitiram-lhes ou impuseram-lhes outros hábitos que modificaram a estrutura do consumo e as características da rede de comércio tradicional.

Por isso, procurar as tendências do mercado pela observação da sua evolução ao longo de muitos anos não é método que, por si só, conduza a resultados prováveis: haverá sempre que ter em conta o «facto novo» que a guerra representou.

Pareceu assim conveniente fixar com mais pormenor a exportação para alguns dos mercados que nos últimos anos se situam entre os principais compradores.

Escolheu-se para período de observação o quinquénio 1950 a 1954. Nota-se, no entanto, que a média destes cinco anos nada significa: interessa apenas a evolução de ano para ano; o clima de normalidade será, por certo, mais fielmente figurado nos resultados do ano mais recente. E que só a partir de 1950 os países europeus começaram a dar sinais de encontro de um equilíbrio menos instável que aquele em que até aí viveram e que resultara das distorções forçadas por aquela política de bilateralismo, tão intensamente praticada, em consequência da desorganização dos centros de produção europeia e da correspondente formação de sistemas monetários dotados de poucas -e por vezes nenhumas- condições de interligação.

O quadro XV contém desde 1938 as quantidades e valores das conservas de sardinha exportadas para sete dos países que nos últimos cinco anos se situaram entre os nossos principais compradores.

Exportação portuguesa de conservas de sardinha para os principais mercados

(ver tabela na imagem)

Comparando este quadro com o anterior, logo se é conduzido a reconhecer que o novo clima, no que respeita às conservas, não alterou sensivelmente a nossa tradicional zona de influência. Não interessa estudar aqui a causa das irregularidades da exportação verificadas de 1938 a 1949: as hostilidades e o estado de desorganização que se lhe seguiu respondem por todos os desencontros e inconstância das linhas de exportação. Importa já, para compreensão do presente e preparação do futuro, referir o principal motivo das flutuações verificadas nos últimos cinco anos. A explicação dessas variações obrigaria a fazer a história do esforço de ressurgimento económico realizado pelos países do ocidente europeu, em regime de estreita cooperação económica. Esse esforço comum inicia-se com a Organização Europeia de Cooperação Económica, organismo nascido em Abril de 1948.

A criação de um vasto mercado comum, em função do qual a produção de cada país membro pudesse organizar-se, foi o método adoptado pela O. E. G. E. em ordem ,ao seu objectivo principal: a integração económica da Europa.

O bom funcionamento da União Europeia de Pagamentos e a execução de planos nacionais de reconstrução e fomento - pela primeira vez, na história da Europa, discutidos e ajustados em comum- permitiram um contínuo progresso na senda da liberalização do comércio intra-europeu. Embora entraves de natureza aduaneira dificultem ainda e, de algum modo, falseiam mesmo o nível da livre movimentação de mercadorias, traduzido pelas percentagens de liberalização do comércio, a verdade é que o desaparecimento progressivo das barreiras administrativas -em que a liberalização até agora exclusivamente se traduz- permitiu já alterar inteiramente a rede do comércio, artificial e instável, criada pelos arranjos bilaterais de trocas.

A possibilidade de os Governos, por intermédio dos seus negociadores de contingentes, poderem fixar o sentido e o caudal das correntes de trocas, evidentemente que anula por completo todo o esforço sério que um produtor possa realizar no sentido de expandir as vendas de mercadoria que produza melhor é mais barato. E tão mais nocivos se mostram os arranjos bilaterais quanto é certo terem normalmente um prazo de validade extremamente curto. É por este motivo que os controles de comércio instituídos por via administrativa -os chamados regimes de licenciamento - se revelam incompa-