então vender-lhes: «amêndoas, figos, romãs e uvas» (Portagem de. Bapaume, ano de 1202). Com os Cruzados - armadas de Deus - Portugal recebe, para completa vertebração do seu território, o auxílio de vários povos e, em especial, dos Flamengos, os «homens dos braços de ferro», «fortissini onium, honrun», que Júlio César, dominador -das Gálios, exaltava já mas páginas admiráveis dos Comentários. Os

germano-flamengos do conde de Aerschot e de Cristiano de Giatell ajudam-nos, em 1147, a conquistar Lisboa. Em 1188, na segunda Cruzada, os flamengos de Jacques d'Avesnes, ao serviço de Sancho I, tomam Silves, cujo prelado, o bispo Nicolau, é flamengo também. São ainda flamengos que, em 1217, na quinta Cruzada

Deus lo vult!- facilitam a Afonso II a empresa de Alcácer. Mas a obra que as espadas começam é o arado que a acaba. Outro flamengo, Guilherme, deão da da Sé de Silves, vai em pessoa buscar colonos aos campos brabantinos e os comunas da Flandres. O sangue da Bélgica transfunde-se nas veias do povo português. A flor da população começam a brotar os tipos ruivos de Atouiguia e de Vila Verde, da Azambuja e da Lourinhã. Mais tarde, no meado do século XV, o movimento de migração flamenga atingirá os Açores (Terceira, S. Jorge, Faial), conduzido por Tiago de Bruges, por Josse de Hurter, por Guilherme van der Haegen. Recuperada a terra, rejuvenescida a raça pela semente' germânica, estabelecem-se relações políticas e económicas regulares entre os dois povos. Três alianças dinásticas são o seu principal instrumento: o casamento de Filipe da Alsácia, conde de Flandres, com a i«filha de Afonso Henriques - a «condessa Matilde» dos historiadores -, mulher superior cuja política se apoiou nas comunas e que fortificou a cidade de Ganid; o de Joana de Constantinopla, filha do conde

Bal-duíno de Flandres e do Hainaute, depois coroado imperador bizantino, com o infante Fernando ou Ferrand de Portuga], o bravo filho de Sancho I, que se bateu em Bouvines contra Filipe Augusto pela liberdade do povo flamengo; o do duque de Borgonha, Filipe, o Bom, com a filha de D. João I, Isabel de Portugal, o «Tálamo do Tosão de Ouro», de que nasceu esse príncipe duro e melancólico, enérgico e taciturno - Carlos, o Temerário -, tão português pelo tipo e pelo carácter, que encarnou o sonho da unidade e da independência belga - e que morreu por ele, crivado de feridas e devorado pelos lobos, no campo de batalha de Nancy. Estava paga a dívida heróica de Lisboa, de Alcácer e de Silves. Entretanto, sob a protecção dos príncipes, a economia das duas nações prosperava; assinava-se,