realizadas jornadas e cursos de divulgação agrária sob o patrocínio do Subsecretariado de Estado da Agricultura.

No entanto, permitimo-nos lembrar que também as brigadas dos cursos itinerantes poderiam realizar, nos três meses que lhes ficariam livres, sessões ou curtas séries de lições de divulgação doméstica e agrária, continuando a servir-se da furgoneta e do material de informação, documentação e exposição utilizado para os cursos normais.

Há várias opiniões sobre estes serviços. Dizem alguns: divulgação e ensino são coisas diferentes; e pretendem ficar só no campo da divulgação.

Tratando-se de meios ainda bastante incultos, como são geralmente os nossos meios rurais, a simples divulgação de processos mais ou menos científicos e a indicação de utensílios domésticos ou agrícolas supermodernos e caros parece-nos ilógica.

A vulgarização a fazer, embora tendendo sempre a melhorar as condições de vida, a organizar o trabalho e a acrescer a produção, para aumento do bem-estar e prosperidade da família, terá de ser ensino e com carácter prático. Melhor do que ninguém a brigada do curso itinerante poderia desempenhar-se dos serviços de divulgação. A sua permanência nas aldeias durante um mês seguido, o contacto com as realidades e a convivência com as pessoas do meio dar-lhes-ia uma ideia exacta e prática, e não apenas imaginária e teórica, do que deve ser a formação doméstica e agrária do povo português e como se deve tratar com este para ganhar a sua confiança e poder actuar com proveito. Porque não basta ir a uma aldeia fazer uma palestra, mais ou menos erudita, e passar um filme mais ou menos interessante. É preciso saber como falar ao povo e estar informado das condições locais: económicas e humanas. Afigura-se à Câmara que estes dois processos - centros familiares rurais e cursos itinerantes, estes últimos utilizados também como extensão de serviços de divulgação doméstica e agrária - são, de momento, os mais próprios para a campanha que o Governo deseja realizar nos meios rurais.

Algumas experiências já feitas no distrito de Leiria demonstram o interesse com que as aldeias aceitam os cursos temporários, de um mês, e os excelentes resultados obtidos.

Não só os cursos são muito concorridos e despertam entusiasmo na população, como nas redondezas ficam a desejar que chegue a sua vez, e quase sempre nasce do curso alguma obra local com carácter permanente: casa de trabalho, posto de puericultura, patronatos.

Assim se vai criando ambiente e espalhando a semente, que será talvez como o grão de mostarda da parábola evangélica, que, sendo a mais pequena das sementes, cresce e se faz árvore, de tal modo que as aves do céu vêm pousar sobre os seus ramos.

Exame na especialidade No relatório que acompanhava o Decreto-Lei n.º 30135, que estabelecia aos princípios gerais de orientação» dos estabelecimentos para o serviço social, liam-se estas palavras:

A missão de extraordinário alcance e a influência decisiva que às obreiras do serviço social incumbem nos diversos meios em que hão-de trabalhar, designadamente entre as famílias humildes e de restrita cultura, as mais facilmente influenciáveis, impõem ao Governo não se alhear da formação que àquelas se dê, para que jamais possa desviar-se do sentido humano corporativo e cristão.

No relatório do actual diploma não vem feita nenhuma referência ao espírito que deve informar as escolas de serviço social; por isso nos permitimos algumas considerações.

É sabido que o serviço social é muito influenciado pelas ideias correntes. Não só o modo de agir, mas até os princípios mudam... com o vento! E o «vento» nem

sempre é favorável ao espírito cristão e ao ideal político português.

Em muitos países o serviço social está a tomar uma feição neutra - e será só neutra?! - que, aparentando conceder todo o valor à personalidade humana, cai numa materialização de revoltarão contra a entrada da trabalhadora social no sen lar e no segredo da sua miséria moral, física ou material, para pesquisas que devassam a sua intimidade e... nem sempre acodem às suas necessidades!

Que teria acontecido ao pobre caído na estrada de Jericó, ferido e despojado pelos ladrões, se em vez do Bom Samaritano lhe aparecesse uma agente social de inquéritos?!

Sem dúvida, a informação, os inquéritos, etc., são necessários. Mas, como dizia o ano passado na Assembleia Nacional a Sr.ª Deputada D. Maria Leonor Correia Botelho, «os inquéritos trazem sempre um sentido odioso», sobretudo quando esse inquérito, «frio e burocrático, se confunde com serviço social»; conviria, sim, como a ilustre Deputada manifestou o desejo, «libertar o serviço social desse inconveniente e colocá-lo de forma a mostrar que o serviço social existe para o bem do interessado e não apenas para averiguações ...».

O desenvolvimento da previdência social tem modificado bastante o serviço social em alguns países, tirando-lhe o carácter de protecção económica aos indivíduos e às famílias e desviando o serviço social mais para o campo dos serviços preventivos, os estudos sociológicos, etc.

Mas, por mais perfeita que seja a justiça social, existirão sempre dificuldades e sofrimentos. Haverá sempre homens mal ajustados à vida e vidas aos baldoes da sorte; por conseguinte, haverá sempre necessidade de quem ajude a normalizar situações desordenadas e a firmar existências mal equilibradas.

Enquanto o mundo for mundo «a vida será um círculo de dores». Não o disse um teólogo; escreveu-o Voltaire. E só o amor consola na dor.