nada mais. O aumento da produção, consequência desta melhoria, é um passo mais; mas só quando na terra se instale de maneira fixa e estável uma povoação agrícola teremos dado todo o conteúdo à palavra; quer dizer, a colonização não termina quando os caminhos, as redes de rega, de drenagem, as moradias, os edifícios industriais, as plantações, etc., estão concluídos, mas sim quando se conseguiu o estabelecimento, num meio assim formado, de unidades de exploração de harmonia com ele e se alcançou a produtividade normal dos seus solos e a independência económica das famílias estabelecidas.

Exame na especialidade O projecto agora em estudo é de maior envergadura que os antecedentes, pois abrange 3969 ha e compreende quatrocentos e cinquenta e um casais agrícolas.

Alicerçado nos ensinamentos colhidos nos trabalhos realizados na I parte do empreendimento, o projecto apresenta pormenorizados elementos técnicos para justificação da economia do sistema, e que, quer pela forma cuidadosa, como foram recolhidos, quer pela experiência do pessoal técnico que os apreciou, não podem estar em causa.

A norte a estrada de Ílhavo à Mata da Encarnação.

A sul o concelho de Cantanhede.

A poente das estremas da anata do Estado e baldios da Verdura do Norte e Arção e o oceano Atlântico.

A nascente os limites este da mata do Estado e baldios da Caniceira, do concelho de Cantanhede.

Consideram-se três núcleos:

O aproveitamento actual dos núcleos I e III é feito através dos pinheiros e o núcleo n mantém-se em logradouro comum. O baldio de Caniceira, considerado no projecto (1454 ha), não será desde já submetido à colonização, dado que «os povos têm-se defendido tenazmente de qualquer tentativa para modificar o statu quo».

A distribuição da área considerada, em face dos actuais proprietários, é a seguinte:

«Todos estes terrenos confinam com zonas cultivadas e não se vêem motivos impeditivos do seu aproveitamento agrícola», diz-se no projecto. E acrescenta: «O facto de uns se encontrarem na parte do Estado-matas nacionais - e outros -baldios - exigirem a realização de complexos e dispendiosas obras de defesa e de drenagem são, na verdade, as razões que têm obstado à sua cultura e consequente apropriação». A densidade da população, por quilómetro quadrado, é, na região e segundo o censo de 1950, 137,9, superior à média geral do continente - 89,3.

E, se se subtraírem os 15 000 ha considerados -matas e dunas-, sobe para 176,5.

Parece, portanto, que, sob o aspecto demográfico e social, se justifica a tentativa de aproveitamento de tão extensa zona. E sob o aspecto agrológico e agrícola?

O solo agrícola da Gafanha é tipicamente arenoso - o vulgar terreno «de pinhal». São terras em que a cultura só é economicamente possível desde que, mediante fortes e contínuas adubações orgânicas, sofram uma profunda transformação. Mas a existência de grande humidade nas camadas subjacentes do solo arável, a permeabilidade das areias e o clima e a facilidade de se conseguirem matos para o fabrico de estrumes e algas marítimas favorecem a sua transformação. Uma das características do terreno é a existência de um lençol freático, que, não só dá ao mesmo uma humidade que auxilia poderosamente a formação dos solos agrícolas, como assegura as exigências das culturas.

Admite-se mesmo a necessidade de estabelecer desenvolvido sistema de drenagem, para que os terrenos se possam submeter com êxito à cultura, como no núcleo n, por exemplo. Em função da profundidade do lençol e da existência no solo de matéria orgânica, anãs principalmente em relação à primeira, os terrenos foram classificados em cinco classes. Numa região com as características da que estudamos a exploração do solo faz-se intensivamente e a policultura é dominante.

Consideram-se como culturas principais, no Outono, as ervas para pastos e, na Primavera, a batata, o milho estreme ou condicionado ao feijão ou à batata e, nalguns casos, a chicória para a indústria de torrefacção.

Em escala menos acentuada cultiva-se o trigo, a cevada, a fava, o centeio, a ervilha, a mostarda, e ultimamente tem-se recorrido também ao amendoim, que se admite traga apreciáveis vantagens económicas.

Como meio de trabalho e gado de engorda, é habitual cada lavrador possuir uma junta de bezerros e, para complemento da economia doméstica, os indispensáveis suínos e galináceos.

Ultimamente tem-se registado a expansão da vaca turina, explorada com o objectivo de produzir trabalho e leite.

Frisa-se que as características do clima local são favoráveis à expansão da indústria dos lacticínios.

Admitem-se, ao atingir o «período de plena produção», os seguintes rendimentos médios por hectare, que, dadas as fertilizações orgânicas previstas, a facilidade no recurso à água e as doses maciças de adubos químicos habitualmente empregados na região, se consideram aceitáveis:

Milho com feijão: previstas

por hectare