e que vivemos, efectivamente, no século do corporativismo. Este imperativo da hora actual já está em plena aplicação no nosso país, e o Digno Procurador Pires Cardoso admite, com a sua especialíssima autoridade, que ele poderá partir daqui para a conquista das nações.

De facto, eliminados o individualismo e o socialismo do panorama político-económico-social que se espraia ante os olhos do homem ocidental, que nos resta?

Contrariamente ao que muitos pensam, o corporativismo não é fenómeno exclusivamente português. Não falando em Itália, onde teve a sorte do fascismo, em resultado da derrota militar, já o praticam vários países, mais ou menos atenuadamente, mais ou menos claramente. E a nossa experiência é seguida lá fora com viva atenção.

Talvez tenha limitado a expansão da doutrina um erro palmar, que é preciso esclarecer: a crença generalizada de que corporativismo e fascismo são uma e a mesma coisa ou de que o primeiro está na base do segundo. Nada mais falso. A revolução mussoliniana está a um lado; no outro, sem nada ter de comum com ela, acha-se o corporativismo. O Duce lançou mão dele, aliás- incompletamente, para realizar uma obra económica.

Sistema autónomo e .perfeitamente definido, de fundas raízes históricas em toda a Europa, que o utilizou durante centúrias e dele extraiu, não só uma filosofia, mas as próprias condições de vida, está longe de ser uma força conservadora. Pelo contrário, a sua lei é o movimento, a transformação, o progresso, a justiça social.

Baseando-se nas realidades da vida, da sociedade e do homem - o único dos três sistemas sociais presentes que partiu da observação da natureza humana nas suas relações com o meio, pois o individualismo e o socialismo nasceram de lucubrações teóricas e abstractas, muito antes de se manifestarem como corpos em acção; reconhecendo que a distribuição das riquezas é o problema, crucial do nosso tempo e que é preciso enfrentá-lo para o resolver; aceitando e incen tivando a iniciativa privada (no que se aproxima do individualismo), mas atribuindo ao Estado certos poderes de realização e disciplina, para assegurar o equilíbrio orgânico das actividades e dos interesses e conseguir o menor preço e o maior salário (no que se avizinha do socialismo) - o corporativismo contém o fermento de renovação que o preserva da imobilidade e das pausas estagnadoras, incompatíveis com a sua essência.

Para, ele, acima de tudo, o homem é uma personalidade, e não uma unidade inexpressiva. É um ser complexo, que tem a sua vida animal, a sua vida social, a sua vida espiritual. E com todas estas facetas vitais tem de se contar para se lhe garantir a realização do seu destino natural e sobrenatural, pois é subordinado a elas que o indivíduo se move em sua casa, na sua freguesia, no seu concelho, na sua província, na sua pátria e na sua religião.

Assim, o corporativismo não faz do Estado um aglomerado amorfo e frio de indivíduos; anãs um tecido vivo e económica da Nação, com repercussões profundas em todas as actividades. O princípio corporativo vai influir nos anais ligeiros aspectos da vida nacional, pois dele promana a doutrina informadora e orientadora.

Isto não exige apenas que se crie uma perfeita consciência corporativa. É necessário que os órgãos responsáveis se compenetrem, desde já, dos seus deveres. Para encurtar: é preciso apagar de vez a mentalidade individualista, que arvora, o egoísmo como base das relações humanas e continua a ver no amontoamento do supérfluo a suprema razão da existência, como se a parte maior da população, aquela, que mais intervém, não só na produção dos bens, mas no seu consumo, fosse ainda a mercadoria que se comprava pelo preço mais baixo possível.

As corporações regularão as relações sociais e económicas entre os organismos corporativos e os seus componentes. Nelas desaparecerá o antagonismo de interesses que não podia deixar de exteriorizar-se nos órgãos primários - o s grémios e os sindicatos. A corporação visa a harmonia das classes, mas sem justiça social não há harmonia possível.

Que ninguém entre nas corporações com pensamentos reservados! A muralha oposta ao socialismo aniquilador da liberdade e da propriedade não poderá ser utilizada a favor dum só grupo social. «É vergonhoso e desumano usar os homens como instrumentos de lucro». Estas palavras são de Leão XIII, que as inscreveu no pórtico da Nova Idade, dando-lhe a majestade e a eternidade da Igreja.

Diz o artigo 11.º do Estatuto do Trabalho Nacional que «a propriedade, o capital e o trabalho desempenham função social, em regime de cooperação económica e solidariedade». Que este preceito se cumpra inteiramente!

Muito devem já à organização corporativa os trabalhadores portugueses, que, de abandonados, passaram a ter protecção multiforme na remuneração, no horário de trabalho, na previdência, na assistência, na, habitação, no abono de família, na higiene, na educ ação intelectual e física, etc. E conheço suficientemente os intentos do Governo e o interesse apaixonado do Sr. Dr. Henrique Veiga de Macedo pelos graves problemas da sua pasta pára poder afirmar que esta obra,