precedência da agricultura, então evidente e hoje ainda relevante:

Quando nós em Portugal acordámos para a vida económica, despertou-nos do nosso sono histórico o silvo agudo da locomotiva, e, estonteados por ele, supusemos que todo o progresso económico estava em construir estradas e caminhos de ferro. Esquecemos todo o resto ... Isto não é condenar os caminhos de ferro: seria absurdo; é condenar apenas a falta de instituições económicas indispensáveis à concorrência com nações de outro modo instrumentadas ... Pelos caminhos de ferro, esquecemos a terra, mãe omnípara de toda a riqueza; tratamos do instrumento, abandonando a matéria-prima; olhamos para as obras sem olhar para a fazenda ... Iniciar um movimento de restauração económica, eis aí o pensamento sumário desta lei, a que, todavia, é necessário que outros venham juntar-se. E tenho a firme esperança de que hão-de vir. E mister nacionalizar todos os. fornecimentos públicos, para dar esse mercado à indústria nacional ... É necessário, finalmente, que, país marítimo como somos, voltemo s a ter uma marinha mercante, nacionalizando o serviço dos nossos transportes.

não basta falar, mesmo que a oratória seja boa, mas que é preciso construir. Isto nos abre o caminho à esperança de que, ao aproximar-se o ano 2000 - a respeitar-se o período -, não virá reaparecer, como um cometa periódico, nova proposta de estrutura agrária a acusar o nosso tempo de ter deixado sem tratamento os males que aponta à estrutura actual.

O II Plano, ao expor as linhas gerais do fomento da agricultura (capítulo n, § 1.º), enumera os empreendimentos a considerar, classificando-os em três básicos (rega, povoamento florestal e reorganização agrária) e sete complementares (assistência técnica, fertilização e correcção do solo, electrificação rural, defesa sanitária das plantas e animais, melhoramentos agrícolas, armazenagem e viação rural); mas esta enumeração, embora, inclua dois empreendimentos não discriminados no relatório final (electrificação e viação), omite alguns que neste se inscrevem, como a conquista de novos terrenos, a mecanização e motorização, o equipamento zootécnico, o crédito para capital de exploração, a industrialização de produtos agrícolas e a cooperação.

Esta omissão parece ser mais resultado de uma síntese do que de uma supressão, pois que, tirando a conquista de novos terrenos, de que já não se espera grande vantagem (porque há poucos incultos e os sapais são caros de aproveitar), os restantes empreendimentos omitidos não implicam, para se cumprirem, qualquer actuação específica, mas contentam-se com a conveniente dotação e, nalguns casos, alargamento de atribuições de serviços existentes.

Ao contrária do que se passou com o I Plano, não tem a Câmara Corporativa qualquer reparo a fazer à doutrina geral do II Plano em matéria de agricultura; os principais defeitos de técnica e de orgânica do sistema actual são denunciados e apontados os meios possíveis de correcção; a divergência só pode nascer de algum pormenor e da intensidade de acção - da que se visa e da que será alcançada.

O parecer subsidiário da secção de Lavoura analisa com minúcia cada um dos empreendimentos propostos; apenas afloraremos aqui algumas facetas mais salientes. Hidráulica agrícola

Num clima de Verão árido como o nosso, sobretudo na metade sul do País, a rega parece indiscutível como factor de valorização da terra; mas os problemas emergentes do regadio não encontram unanimidade nem no equacionamento nem na solução, pelo que a matéria tem de ser classificada como não inteiramente pacífica.

Nessa valorização não se mostra nada de novo desde, a antiguidade, salvo na substituição da picota pela bomba eléctrica, do aqueduto pelo sifão e do poço ou da pequena represa pela grande albufeira. Tudo, aliás, vantagens. Para mais, tal valorização é reforçada pela contribuição multiforme com que a rega participa na melhoria da vida nacional, dando mais e melhores produtos, para consumo ou exportação, e ocupando, mais gente de maneira mais permanente e humana.

Nada de essencial - a não ser no volume - tem esta Câmara a opor, em princípio, ao programa de obras proposto no Plano: 1.ª fase da rega do Alentejo, conclusão de trabalhos em curso e pequenas obras não discriminadas. Mas algumas rápidas observações parecem aconselháveis.

Se passarmos em revista as obras concluídas ou prontas a concluir dentro do I Plano, podemos organizar o seguinte quadro, em que se incluíram os valores de 1958 de acordo com as verbas orçadas:

Não se contou com, a segunda parte da Idanha, que, embora concluída em 1953, foi quase inteiramente construída antes do I Plano; este contribuiu para ela com a verba insignificante de 9000 contos. Também não se contou com a lezíria de Vila Franca (11280 ha), na qual se despenderam 35 000 contos em defesa e enxugo, visto que a «fora de rega só se realizará depois do II Plano.

A partir desces dados obtém-se o custo médio de 35,7 contos por hectare, um pouco superior ao que se prevê nas obras a iniciar no II Plano (32,6 contos). A anedia bruta anual de terra beneficiada em 1953-