A Colonização por empresas capitalistas tem um saldo positivo de bem fraco significado no povoamento agrícola por colonos moradores. Não fundamenta grandes esperanças. Porventura a deficiência da estabilidade em elevado grau da população rural se deva atribuir à falta de fusão da empresa e do trabalho. Na hierarquia dos problemas de colonização agrícola duradoura a água ocupa lugar proeminente e o Governo, dando continuidade no ultramar à obra de regadio que lançou na metrópole, inscreveu no I Plano de Fomento apreciável quantia para a irrigação (quadro III), de modo a fundamentar os casais agrícolas familiares, vinculando-os à terra e criando pontos de partida para um desejável aumento de propriedade fundiária de tipo familiar.

Engano grave seria, porém, julgar que como a entrega da terra irrigada aos colonos estes estavam aptos a caminhar por si. Nada mais ilusório.

A irrigação é um passo largo para a colonização agrícola, mas carece de ser completada com medidas de assistência técnica e social elevadoras do nível do colono, trabalhador rural. A agricultura não é arte de rotina, exige contínua renovação de processos e meios de exploração.

Assim o entendeu o Governo na execução do I Plano de Fomento, criando aldeias e vilas nos perímetros irrigados, dotan do-as do conforto indispensável à vida dos seus moradores com água, luz, assistência médica e higiénica, assistência religiosa, assistência escolar, oficina» de reparação de alfaias e máquinas agrícolas, armazéns de produto», postos de reprodutores e no Cunene com uma fábrica de tratamento de tabaco.

Atrás do Estado vieram os (particulares, investindo de sua conta milhares de contos em moradias, casas comerciais e outros edifícios e instalações, levantados nas aldeias dos perímetros irrigados do Limpopo e do Cunene. Todo este esforço se destina a completar a obra da irrigação e povoamento na qual está integrado, e assim a colonização directa estimulou e promoveu a colonização não dirigida.

A posição em Maio de 1958 apresentava-se assim:

Limpopo

Cunene

Interesse especial foi assim dado no I Plano de Fomento às obras de rega em Moçambique, Angola, índia e Cabo Verde destinadas ao povoamento, com base na agricultura de regadio.

Para Moçambique e Angola foi previsto, nos mapas anexos à Lei n.º 2058, o investimento de 933 000 contos para a irrigação do Limpopo e para a irrigação do Cunene, quantia reduzida depois para 486 000 contos pela revisão do Plano através da Lei n.º 2077. A irrigação do Limpopo, em área de 30 000 ha, ficou dotada com 409 000 cantos e a do Cunene, em área de 3500 ha, com 77 000 contos (quadro III). O estudo do I Plano de Fomento indicou que as areias irrigadas se destinavam inteiramente ao povoamento agrícola, feito com portugueses sem distinção de raças. E para que não houvesse descontinuidade no que tem sido a orientação nacional de sempre, nem desvios na caminhada a fazer, o Governo instruiu expressamente os responsáveis pela sua execução em documento datado de 1953, que se transcreve: As obras em curso são para brancos e negros, todos portugueses, todos abrigados sob a mesma bandeira, de .vida em conjunto (europeus e indígenas), fraternalmente ligada pelo anseio comum do engrandecimento espiritual e material da Nação.

2) Deseja-se que o maior número de famílias dos europeus das províncias da metrópole se instale definitivamente nas províncias do ultramar, mas que de tal instalação nunca resulte a segregação das populações portuguesas autóctones das províncias ultramarinas, porque as obras de irrigação, a água dos rios, as terras beneficiadas, as aldeias e vilas em construção, os equipamentos agrícolas são para todos, quer europeus, quer indígenas, porque todos são habitantes de uma única nação e todos tem de participar dos benefícios promovidos pelo Estado na obra comum.

3) Deseja-se ainda que o maior número possível de famílias brancas das províncias da metrópole constituam nas províncias ultramarinas núcleos vigorosos de colonização, bem arreigados à terra onde labutem, exercendo ali as suas tradicionais virtudes de colono português - tenacidade, sobriedade, apego ao trabalho, amor à família -, mas que tais núcleos mantenham bem vivos os sentimentos de colaboração fraterna com os outros portugueses indígenas do ultramar, amando-os e respeitando-os nos lugares em que os encontrem, nas suas religiões, nas suas hierarquias sociais e nas suas tradições, sob o anseio fecundo da assimilação pelo exemplo e pelo coração, sob a iluminação da doutrina de Cristo. No Limpopo e no Cunene as obras de irrigação, ou já concluídas ou em curso de acabamento, são: as barragens derivadoras dos caudais do rio Limpopo e do rio Cunene, sobre as quais há as pontes dos caminhos de ferro do Limpopo e de Moçâmedes, já em exploração; os canais principais e todo o sistema da rede da distribuição e da adaptação ao regadio; os diques contra as cheias, e o enxugo.

Fez-se assim não só a valorização da terra, mas também se criou a exigência do emprego de elevada quantidade de mão-de-obra por unidade de superfície, com trabalho de residência estável, continuado durante todo o ano. O primeiro grande passo para a execução das obras de rega e povoamento do vale do Limpopo foi dado, em 1936, com o Decreto n.º 26 449, que criou o Posto de Culturas Regadas do Limpopo. De lá têm vindo ensinamentos, utilíssimos para a obra e sua exploração e esclarecimentos preciosos e pressentidos na concepção do empreendimento. Daí poder considerar-se que sem irrigação as colheitas são famintas em 53 por cento dos unos, escassas em 25 por cento, compensadoras em 22 por