No sector da moeda e do crédito, interessa, para formular um juízo de síntese, estabelecer o confronto entre as taxas de acréscimo dos meios de pagamento, do crédito outorgado pelo sistema bancário e da procura interna de bens e serviços.

Infere-se deste quadro que o volume de meios de pagamento subiu em ritmo um pouco mais rápido do que o da procura de bens e serviços, o que deve ter tido repercussão na aludida tendência para a alta moderada de preços.

Por outro lado, a expansão do crédito fez-se a uma cadência superior a mais do dobro da da utilização dos recursos disponíveis, o que, se é de presumir tenha facilitado o financiamento das actividades económicas, também deve ter contribuído para a referida pressão altista na medida em que, através de depósitos fiduciários, foi acrescer o índice dos meios de pagamento em poder do público, dado que a circulação fiduciária acusou progressos muito mais modestos.

Admite-se, contudo, que uma parte dos novos meios de pagamento tenha em apreciável medida velocidade de circulação lenta, especialmente aquela - cerca de dois terços - que tem ido avolumar os depósitos bancários, visto o incremento constante dos depósitos a prazo.

Também é de supor, embora faltem completamente os dados estatísticos a tal respeito, que uma fracção apreciável desses novos meios de pagamento, expressos em depósitos, traduza disponibilidades que vão fixar-se em sectores de rendimentos já elevados e de reduzida propensão ao consumo.

Ambas estas circunstâncias têm o seu cariz benéfico na medida em que vão contrariar as apontadas tendências inflacionistas.

Dado o atraso do crescimento da procura e do produto internos em relação ao conjunto dos meios de pagamento, teria interesse o apuramento de indicadores que permitissem avaliar quais os factores que têm impulsionado a moeda e o crédito. Não os fornece o relatório ministerial nem é fácil isolá-los, porque o reflexo da expansão do crédito encontra-se sobretudo nos agrupamentos do activo realizável e do passivo exigível das sociedades e de muitas empresas individuais, que em número crescente têm vindo a alargar os seus prazos médios de pagamento. Também o aumento das disponibilidades do público tem influído no acréscimo de transacções de compra e venda de prédios, sobretudo urbanos, dando lugar a uma desvalorização do dinheiro em função da propriedade.

O confronto das transacções de prédios com as de títulos nas Bolsas de Lisboa e Porto mostra que se tem acentuado a tendência do público para o emprego de capitais em bens imobiliários (15)

Naquela tendência têm, naturalmente, influxo dominante as diferenças, muito pronunciadas, que se verificam entre as taxas de rendimento. Para isso contribui a disparidade de tratamento fiscal entre os réditos da propriedade imobiliária e os dos títulos de rendimento variável, especialmente acções ao portador uno registadas.

Por seu turno, os elementos sobre o movimento das sociedades em capital realizado elucidam sobre-a preferência dada ao sector terciário. Com efeito, o acréscimo de capital do conjunto das sociedades existentes no sector "Comércio e serviços" passou de 76 729 contos em 1956-1957 para 172 886 contos em 1957-1958 e a sua posição relativa no total subiu de 50 por cento para 63 por cento. lio conjunto de 2073 sociedades constituídas em 1957-1958, 1444 - cerca de 70 por cento - pertencem ao grupo terciário (15).

Sem dúvida que a acentuada predilecção pela actividade comercial deve ter contribuído para o maior ritmo de acréscimo no sector da moeda e do crédito em - relação ao da produção e da procura interna.

Os dois fenómenos que acabam de assinalar-se não são propícios ao esforço que o País precisa de realizar, cada vez mais intensamente, no sentido da aceleração do ritmo do seu desenvolvimento económico, designadamente no sector das actividades primárias e secundárias, para o que, aliás, estão reunidos muitos outros factores favoráveis.

Dir-se-á ainda uma palavra sobre as taxas de juro, que têm continuado a manifestar notável estabilidade ao longo de 1958 e a situar-se em níveis baixos, como corolário da manutenção da taxa de desconto.

Essa estabilidade constitui factor dos mais significativos como estímulo ao investimento. Para encerrar estes breves apontamentos sobre a conjuntura metropolitana em 1957-1958 resta aludir ao sector do comércio externo e da balança de pagamentos.

A balança comercial da metrópole apresentava em 30 de Junho último um saldo negativo inferior em 23,6 por cento ao atingido um ano antes. Traduz isso o coroamento de esforço muito notável no sentido de contrariar o excessivo acréscimo das importações, que em 1957 atingira volume inconveniente para o equilíbrio da nossa economia.