nida a escravatura. Conduzidos pela influência portuguesa, construíram nas ilhas perdidas em pleno oceano uma civilização crioula, onde as tradições, técnicas, costumes e vida africana marcam vigoroso sinal de presença, embora tudo se encontre caldeado pelo sangue e espírito do velho solar lusitano.

Nas Canárias os conquistadores espanhóis não empreenderam uma ocupação pacífica. Travaram luta com o indígena, que se defendeu tenazmente nos reditos das montanhas, tardando em aceitar convívio. Vencido, foi escravizado e submeteu-se ao invasor. Como o Guancho não tinha civilização a impor, situado como estava na Idade da Pedra, entregou sua raça de cor branca a uma união física com o Espanhol, não faltando a influência de outros povos europeus, entre os quais se destaca o Português, de que resultou o actual grupo étnico, de aparência uniforme e semelhante ao tipo continental. Como resultado de um processo de povoamento conduzido ao longo de quatro séculos, as ilhas Atlântidas revelaram, como é natural, diferentes graus de potencialidade demográfica, dependente da variação dos recursos naturais e da forma como os colonos os conseguiram aproveitar.

A situação demográfica actual pode ser apresentada no quadro seguinte:

Nas ilhas onde as condições naturais proporcionaram a montagem de sistemas de produção orientados no sentido da exportação, associando-se indústrias de apoio à navegação e outras, entre as quais a do turismo, o desenvolvimento populacional conduziu a altíssimas densidades demográficas.

Podem considerar-se como incluídas neste grupo as ilhas da Madeira, a Gran Canária e Tenerife, do arquipélago das Canárias, S. Miguel, nos Açores, e. S. Vicente, em Cabo Verde, onde sómente o Porto Grande explica a existência de tão numerosa população.

Nas ilhas onde as condições naturais permitiram a expansão de uma economia de subsistência predominante ainda foi possível alcançar alta densidade demográfica. Servem de exemplo a Graciosa, a Terceira, o Faial, Santa Maria, nos Açores, Palma, nas Canárias, e a Brava, em Cabo Verde, sendo certo que muita vez a economia se completa com receitas enviadas pelos emigrantes ou recebidas pelos retornados.

Outras ilhas apresentam densidades menores e vivem predominantemente em regime de auto-suficiência, acusando os efeitos da situação insular, com estagnação no crescimento económico, fraca diferenciação das actividades e forte predomínio da agricultura ria ocupação profissional e na composição do produto bruto. Pertencem a este grupo, de vida isolada, sem variação nem perspectivas, as ilhas de Porto Santo, na Madeira, Gomera, nas Canárias, S. Jorge, Flores, Pico e Corvo, nos Açores.

Finalmente, outras ilhas, ainda, vivem em luta permanente contra uma natureza avara que contradiz a Lenda das «ilhas afortunadas».

Tanto se pode assistir a um esforço surpreendente de técnica industriosa e pertinaz, que conseguiu erguer sistemas de agricultura artificial nos «arenados» e lavas vulcânicas, como em Lanzarote, nas Canárias, e um pouco na desventurada e extensa Fuerteventura, no mesmo arquipélago, como ver a perigosa dependência dos caprichos de um clima inseguro, em que vive quase todo o arquipélago de Cabo Verde. No conjunto das relações estabelecidas entre o homem e a natureza, a floresta natural tem sido o valor menos preservado. A necessidade de abrir clareira para estabelecer culturas alimentares, ou de procurar e preparar o renovo das pastagens para manter em manadio o gado, obrigou a suprimir, com auxílio do fogo e do machado, vastas extensões florestais.

O nomadismo agro-pastoril transformou paisagens de continentes, mas em vastas superfícies a ferida imposta